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Roteiro previsível compromete boas atuações de "Serra Pelada"

Gabriel Mestieri

Do UOL, em São Paulo

17/10/2013 19h28

Com diretor e atores de primeira linha e orçamento de superprodução para padrões brasileiros, "Serra Pelada", novo filme de Heitor Dhalia, retrata a corrida pelo ouro no Estado do Pará no início da década de 80.

Junto com a mulher, Vera Egito, Dhalia criou uma história simples para transformar em ficção um dos episódios mais marcantes da história recente brasileira. No longa, dois amigos sem perspectivas de futuro em São Paulo vão juntos para o Pará em busca de ouro.

Serra Pelada impressionou o Brasil e teve repercussão internacional quando as imagens do garimpo foram difundidas, no início da década de 80. A corrida pelo metal dourado mobilizou gente de todas as regiões do país - estima-se que 120 mil pessoas passaram pelo local. O diretor, entretanto, não consegue levar para as telas de maneira convincente o universo do maior garimpo a céu aberto da era moderna.

O grande problema do filme é que essa história de amizade se desenvolve de maneira pobre e previsível, sem a inventividade demonstrada por Dhalia em filmes anteriores, como "O Cheiro do Ralo" e "À Deriva".

O principal conflito do roteiro é o fato de os amigos Juliano (Juliano Cazarré) e Joaquim (Júlio Andrade) tomarem rumos opostos e conflitantes após a chegada ao garimpo: enquanto o primeiro logo se adapta da pior maneira possível às regras vigentes, agindo como os gângsteres que dominam o local, o segundo quer seguir na linha.

O fosso que se abre entre os dois começa a ser cavado quando Juliano salva a vida do amigo ao matar um garimpeiro rival, que faz parte da gangue de gays de Serra Pelada. Uma vez que sente o poder de ter uma arma nas mãos, entretanto, Juliano quer mandar como os chefes mafiosos do garimpo, e logo está apontando o revólver na direção de Joaquim.

Além de se desentender com o amigo, Juliano se interessa pela ex-prostituta Tereza ("Sophie Charlotte"), que está prestes a se casar com um dos mafiosos do local, o coronel Carvalho (Matheus Nachtergaele).

Os conflitos evoluem pouco a partir daí. Além disso, parecem não ter muito a ver com Serra Pelada. Os dois amigos estão no garimpo paraense, mas poderiam estar em qualquer outro lugar que não faria diferença. Se não fossem os figurinos da década de 80 e as impressionantes imagens do formigueiro humano mostradas no filme – tanto ficcionais, feitas com centenas de figurantes, como registros históricos da época – seria possível esquecer onde se passa a trama.

Há ainda outro antagonista, Lindo Rico, interpretado por um ótimo Wagner Moura careca, mas o personagem tem pouco espaço para aparecer.

Dhalia conseguiu fazer um filme que tem personagens interessantes, boas atuações e uma reprodução competente do início da década perdida em roupas e gírias, mas sem uma boa história amarrada ao "cenário" que dá título ao filme, "Serra Pelada" fica aquém do que se espera do diretor.