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Com história real de "Capitão Phillips", Tom Hanks se aproxima de 3º Oscar

Natalia Engler

Do UOL, em São Paulo

07/11/2013 17h24

Se a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas mantiver em 2014 a tradição de se compadecer com histórias reais dramáticas, interpretadas por grandes atores, Tom Hanks está no caminho para sua sexta indicação ao Oscar de melhor ator –ele já tem dois na estante.

"Capitão Phillips", novo filme de Hanks, que estreia nesta sexta (8) no Brasil, reencena a história real de Richard Phillips, capitão do cargueiro Maersk Alabama, que foi mantido refém por piratas somalis durante cinco dias em abril de 2009. O incidente inflamou a opinião pública norte-americana e levou a Casa Branca a autorizar que a Marinha tomasse medidas extremas para resgatá-lo.

Baseado no livro de memórias escrito pelo próprio Phillips, o longa de Paul Greengrass (de "O Ultimato Bourne", "Voo United 93") começa com uma cena doméstica entre o capitão (Hanks) e sua mulher (Catherine Keener), deixando nas entrelinhas os riscos da profissão do personagem. Dali evolui para ambientes muito mais amplos, acompanhando de forma linear os eventos que se seguem: o embarque de Phillips em Omã rumo a Mombaça (Quênia), sua preocupação com a falta de segurança do navio, os ataques dos piratas, o sequestro em si, e o resgate por uma equipe de elite da Marinha.

A aparência de "homem comum" de Hanks faz dele mais uma vez a escolha acertada para o papel de um sujeito normal colocado em uma situação extraordinária, como ele já havia demonstrado em "O Náufrago" (2000), papel que lhe rendeu sua última indicação ao Oscar.

Estes parecem ser os personagens que mais atraem o ator, que já se declarou fascinado por entretenimento não ficcional e tem no currículo mais seis filmes baseados em histórias reais: além de "O Náufrago", "Filadélfia" (1993), "Apollo 13" (1995), "Prenda-me se for Capaz" (2002), "O Terminal" (2004) e o ainda inédito "Walt nos Bastidores de Mary Poppins", em que interpreta Walt Disney. "Sou o tipo de cara que lê os jornais e revistas, vê histórias que realmente aconteceram e diz: 'Bem, isso é melhor do que qualquer filme pode ser'", afirmou Hanks em uma entrevista coletiva sobre o filme.

Thriller humano
Em "Capitão Phillips", Hanks capta bem a tensão de seu personagem --dividido entre manter os piratas sob controle e tentar minimizar os riscos para sua tripulação--, mas sem transformá-lo em um herói invencível, do tipo que povoa filmes de ação como os da franquia "Bourne", que o próprio Greengrass já dirigiu. Vemos isso nos momentos em que, levado para um bote salva-vidas como refém, Phillips manifesta os primeiros sinais de cansaço e medo, mas continua dialogando com seus captores, tentando entendê-los melhor para convencê-los a se entregar.

O capitão Phillips de Hanks e Greengrass é humano, o que é ressaltado pelas escolhas de direção: com um cenário grandioso à disposição --filmado em mar aberto e em navios reais--, o cineasta privilegia seus personagens, seguindo-os de perto com a câmera instável que lhe é característica, e que ajuda a reforçar a tensão, além de transmitir ao espectador a sensação de estar no mar durante a maior parte das 2h15 de exibição.

Greengrass também acertou ao escalar para os papéis de piratas quatro jovens de origem somali. Com pouca experiência em atuação, Barkhad Abdi, que interpreta o líder do grupo, Abduwali Muse, conseguiu dar vida a um antagonista à altura de Hanks, o que era essencial para que o filme funcionasse, já que ele se constrói em grande parte na relação entre os dois capitães. A tensão deste embate, especialmente na primeira cena em que os dois se encontram, foi intensificada por um artifício adotado por Greengrass: ele só permitiu que os atores somalis e o resto do elenco se conhecessem em cena, na filmagem deste primeiro encontro, recriando no estúdio uma sensação que se aproximasse da situação real.

Mas é mesmo Hanks o principal trunfo do filme, com atuação econômica e capacidade de mostrar as motivações internas de um personagem que precisa escondê-las para sobreviver, algo essencial para humanizar este herói. Isso fica claro na sequência final, em que o personagem finalmente pode liberar a carga de pressão a que foi submetido, e a interpretação de Hanks alcança aquele patamar que faz o espectador esquecer que está diante de uma obra ficcional.