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Delicada, comédia "À Procura do Amor" traz química entre astros de TV

Albert (James Gandolfini) e Eva (Julia Louis-Dreyfus) em cena de "À Procura do Amor", de Nicole Holofcener  - Divulgação
Albert (James Gandolfini) e Eva (Julia Louis-Dreyfus) em cena de "À Procura do Amor", de Nicole Holofcener Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, de São Paulo

05/12/2013 18h51

Comédias românticas têm a péssima fama de serem território de dramas rasos, risos fáceis e, em boa parte dos casos, de pouca sintonia entre seus jovens protagonistas. A "fórmula", felizmente, não se repete em “À procura do Amor”, novo e delicado filme de Nicole Holofcener ("Sentimento de Culpa", "Amigas com Dinheiro" e "Encontro de Irmãs"). A trama familiar de dois cinquentões divorciados prestes a mandar suas filhas para a universidade funciona ao investir na direção oposta.

Na história,  Eva (Julia Louis-Dreyfus, de “Seinfeld") e Albert (James Gandolfini, de “Família Soprano”, morto este ano de infarto, após as gravações) se conhecem em uma festa em sua cidade suburbana e começam a flertar de forma um tanto estabanada.

Ela, massagista, é tagarela e especialista em quebrar o gelo de uma conversa. Ele, um gentil guardião do acervo de imagens de uma biblioteca da cidade, é calmo e desleixado. O cenário muda quando Eva descobre que sua mais nova cliente é, na verdade, a ex-mulher de Albert (Catherine Keener), que começa a minar a relação expondo os piores defeitos dele sob uma exagerada lente de aumento.

Além do bom roteiro de Nicole Holofcener, que sabe aprofundar motivações e angústias dos personagens, o grande trunfo do filme está na escalação dos protagonistas, duas estrelas de séries de TV (Julia Louis-Dreyfus, de “Seinfeld” e “As Novas Aventuras de Christine” e James Gandolfini, de “Família Soprano”, morto este ano de infarto, após as gravações).

Demonstrando química invejável, os dois são humanos e, o mais importante, se comportam como humanos. Conseguem extrair humor das situações mais corriqueiras, da escolha de uma posição na cama (“Se eu ficar por cima, te incomoda?”, diz Albert) ao simples ato de observar a obturação nos dentes do parceiro.

O principal mérito do longa, no entanto, também pode ser interpretado como seu grande defeito, mesmo sem prejudicar o resultado final. Julia é, em vários momentos, a Elaine de “Seinfeld”, com sua sinceridade mordaz no trato com família, amigos e namorado. Já Gandolfini, ao melhor estilo Tony Soprano, faz o tipo bonachão, companheiro que todos gostariam de ter como guarita nos momentos de dificuldade.

O final do filme, ambientado meses após o fim do namoro, inevitável com a mundaça de comportamento de Eva, é tocante. Solitários, sentados na varanda da casa de Albert, eles esperam as primeiras visitas das filhas universitárias. “Sinto saudade”, ressente-se Julia.

Com a cena, a diretora Nicole Holofcener não só presta uma bela homenagem a Gandolfini, em seu penúltimo trabalho. O momento sintetiza ainda, com todo o pesar e uma certa dose de esperança, a mensagem de vida do longa: relacionar-se é saber aceitar defeitos.