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"Não queria fazer um filme igual à série", diz diretor de "Confissões"

Leonardo Rodrigues

Do UOL, de São Paulo

08/01/2014 06h00

Antes de começar a filmar "Confissões de Adolescente", o diretor Daniel Filho fez uma recomendação com certo tom de desafio às atrizes da adaptação, que chega nesta sexta-feira (10) aos cinemas. Para compor suas personagens, levemente inspiradas nas da série original, elas não precisariam nem assistir ao programa que apresentou ao Brasil uma nova geração jovem nos anos 1990.

Seguindo as orientações do chefe, Sophia Abrahão (Tina), Isabella Camero (Bianca), Malu Rodrigues (Alice) e Clara Tiezzi (Carina) tinham elas mesmas de desenvolver a personalidade das meninas, que há 20 anos foram interpretadas na TV por Maria Mariana (Diana), Georgiana Góes (Barbara), Daniele Valente (Natália) e Deborah Secco (Carol). As quatro "veterenas" fazem pequenas pontas no filme.

"Não queria fazer um filme igual à série. Os nomes foram alterados porque não são as mesmas personagens. Inicialmente, elas nem seriam irmãs. Depois fui vendo o roteiro e, com a produção, decidimos que era preciso uni-las dramaturgicamente. Eu tinha até preconceito em usar a mesma estrutura familiar da série, mas ficou melhor", contou Daniel Filho ao UOL.

Apesar da preocupação de atualizar o universo adolescente, uma das preocupações da produção foi manter o espírito livre do seriado --também dirigido por ele--, baseado nos diários de Maria Mariana. Segundo as atrizes, o elenco ia para o set sem mesmo saber suas falas. Várias cenas foram feitas no improviso. Em alguns momentos, o roteiro parecia uma mera formalidade.

"Trabalhamos antes a relação das personagens no núcleo de cada uma. Fizemos vários exercícios. Então, foi mais tranquilo do que a gente imaginava. Mas nós todas ficamos meio desesperadas no início, chegando em uma cena para rir, quando era para chorar”, diz Isabella, que já atuou na adaptação da história para o teatro, ao lado de Sophia Abrahão.

Protagonista, a ex-"Rebelde" e "Malhação" é quem tem o peso de interpretar a filha mais velha da família, já na faculdade, aos moldes da personagem vivida por Maria Mariana. "Temos, sim, um pouco de receio de quem via a série. Quem assistiu pode comparar e até não gostar, porque já existe uma referência forte", considera Sophia. 

"Mas não acho que exista um peso muito grande, nem de ser a Mariana. Nós nos encontramos com elas, na passagem de bastão. E a principal dica delas foi notar como o 'Confissões' foi um divisor de águas na carreira e na vida pessoal. E, de repente, se preparar para isso", revela.

"Confessionário" do século 21

Na trama, os temas espinhentos da série, nunca antes tratados de forma tão direta na televisão, retornam com força. Bullying, menstruação, virgindade e os dilemas dos primeiros relacionamentos e da escolha profissional ganham agora o frescor das novas tecnologias. As redes sociais ocupam agora o espaço do que já foi o "dinossáurico" diário de papel.

A escolha por contar parte da história a partir da tela de um computador é resultado de uma pesquisa feita com 2 mil adolescentes antes das filmagens. "Tenho dois filhos com essa idade. Vejo essas questões todos os dias. A gente tem que falar com os filhos sobre sexo. Eles falam quando se apaixonam. Falam do primeiro beijo. Se você censurar isso, você não consegue nem ter uma relação", diz a codiretora Cris d'Amato, que, a exemplo da indiscreta personagem de Deborah Secco, diz também conferir a data de validade das camisinhas do filho --para o desespero dele.

O preservativo, por sinal, é peça importante do núcleo de Alice (Malu Rodrigues), que está prestes a perder a virgindade com o namorado (Christian Monassa). A atriz de 20 anos, que já foi a Dorothy do musical "O Mágico de Oz" em uma concorrida temporada em São Paulo, teve de gravar cenas de sexo também com os galãs Thiago Lacerda e Caio Castro. "Uma experiência tranquila", nas palavras dela.

"Estava mais encanada com minha barriga do que com meu seios aparecendo. É uma cena que você tem que se jogar. Ficar mais à vontade possível. E é tudo marcadinho em cena, nada do que está ali é improvisado. E o Daniel tirou todo mundo do estúdio na hora."

"A cena da primeira vez teve uma contribuição muito grande da Malu. Tive de perguntar, meio disfarçadamente, como havia sido para ela e para o Christian. Uma certa indiscrição", diz Daniel Filho. Já dirigi "A Vida Com Ela É" e "Primo Basílio", ambos com bastante cenas de sexo, mas nenhuma me preocupou tanto quando esta do filme."