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"Meu apartamento era assombrado", diz diretor de "Atividade Paranormal"

Rodrigo Salem

Do UOL, em Los Angeles

09/01/2014 07h00

Um sinal de alerta foi aceso nos escritórios dos produtores da série "Atividade Paranormal": o quarto capítulo, lançado em 2012, rendeu abaixo dos US$ 150 milhões, a primeira vez com baixos rendimentos desde que a saga assustadora do casal Katie Featherston e Micah Sloat estreou nos cinemas, há cinco anos.

Na tentativa de reanimar o interesse do público pela franquia que já rendeu mais de US$ 700 milhões, os executivos foram radicais. Adiaram o oficial "Atividade Paranormal 5", que volta em 2015, e decidiram lançar um derivado latino da série. "Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal", que estreia no Brasil nesta sexta-feira (10), sai do subúrbio branco e rico dos filmes anteriores para concentrar-se na cidade de Oxnard, no sul da Califórnia, lar de uma imensa comunidade de descendentes de mexicanos.

A estratégia é clara: investir no público latino-americano, que representa cerca de 36% dos ingressos de cinema vendidos nos Estados Undidos, e apostar ainda mais no mercado internacional. "Não houve uma pressão do estúdio para criar um filme que apelasse apenas para os latinos", disse ao UOL Christopher Landon, que assinou o roteiro de todos os filmes da franquia desde a primeira sequência, e agora assume também a direção.

Após uma sessão de 'Atividade Paranormal 3', uma garota latina se aproximou da gente quase chorando para falar de sua paixão pela série. Ela sabia mais do que eu sobre a mitologia. (...) A ideia era criar personagens interessantes para todo mundo, porque esse é o segredo de um filme de terror. 'Invocação do Mal' é um filme incrível porque tem bons personagens

Christopher Landon

"A ideia de fazer nesta comunidade veio quando, após uma sessão de 'Atividade Paranormal 3', uma garota latina se aproximou da gente quase chorando para falar de sua paixão pela série. Ela sabia mais do que eu sobre a mitologia", rebate Landon. "Há uma espiritualidade grande em toda a América Latina. Talvez seja essa a razão dos filmes de horror repercutirem tanto nestes países, mas ninguém me pediu para mudar o roteiro e deixar mais atraente fora dos Estados Unidos."

Apesar disso, o cineasta confirma que a primeira sessão-teste, em Los Angeles, foi composta de uma plateia predominantemente latina. A segunda foi para Atlanta, visando o público afro-americano e só na terceira sessão, em Orange County, região conservadora da Califórnia, que os "caucasianos" foram testados. "E tivemos as melhores reações de todas", garante Landon. "A ideia era criar personagens interessantes para todo mundo, porque esse é o segredo de um filme de terror. 'Invocação do Mal' é um filme incrível porque tem bons personagens."

Humor e horror
A nova dupla de protagonistas realmente é o grande trunfo de "Marcados pelo Mal". O roteiro --do próprio Landon-- concentra-se em dois amigos, Jesse (Andrew Jacobs) e Hector (Jorge Diaz), que comemoram a formatura e os 18 anos do primeiro com a família mexicana. Em mais da metade do longa, o novo "Atividade Paranormal" está mais para "Superbad - É Hoje!" e do que para "O Exorcista", com a dupla pregando peças, fazendo piadas de conotação sexual e se metendo em situações embaraçosas puramente engraçadas.

"Eu fiquei surpreso quando vi o filme pela primeira vez e era muito divertido. Não sabia que ia ficar assim durante as filmagens", revela Diaz, o mais falante dos atores. "Eles provavelmente esqueceram das filmagens, porque rodaram muitas cenas. Mas eu sempre quis misturar humor e horror, sem atrapalhar nenhum dos dois", conta o cineasta.

Antes de virar um terror no estilo mais tradicional, o filme ainda percorre os caminhos de "Poder Máximo", um dos sucessos de 2012, também em "found footage". Jesse descobre que ganhou uma marca de dentes em seu braço após se meter com uma "bruja", assassinada estranhamente por um colega da escola. É o sinal de uma possessão, mas, em vez de um espírito comum, ele ganha uma espécie de guardião, que se comunica pelo jogo eletrônico Genius, popular nos anos 80, e o protege de membros de gangues.

"Cresci ouvindo essas histórias sobre bruxaria. Minha mãe falava que nossa casa era mal assombrada e eu achava que ela era meio louca. Quando cresci e ouvi certas histórias, tudo se encaixou", diz Jorge Diaz. Já Landon se diz "pouco espiritual", mas conta que viveu seu próprio atividade paranormal. "Meu apartamento era assombrado por um fantasma", confessa o diretor, meio de sopetão. "Mas ele era bonzinho. Era o antigo apartamento de Charles Chaplin e, certa vez, um amigo dormiu no sofá e, quando acordou, me agradeceu por tê-lo coberto. Mas eu nunca fiz isso."


Não é um dos "causos" mais amedrontadores da história e talvez isso reflita na meia hora final de "Marcados pelo Mal", quando o cineasta lembra que está filmando um longa de horror. Neste momento, a trama fica capenga e sem o clima tenso da série, gerando momentos de risadaria espontânea como uma sequência com membros de gangues disparando frases de efeito como "Vamos matar umas bruxas" antes de atirar em uma mulher. "O estúdio não gostou muito dessa cena e quis tirar, mas eu bati o pé e pedi para testar. E é quando a plateia explode em aplausos."

O otimismo de Christopher Landon não diminui nem quando confrontado com os números de estreia do filme nos Estados Unidos, os mais baixos da série, com US$ 18 milhões no primeiro fim de semana. "Não fiquei decepcionado. Houve uma nevasca na Costa Leste e estamos começando uma nova história. Claro que há um desgaste natural da franquia e cometemos alguns erros, então isso ajuda a influenciar. Mas como reclamar de um filme que custou US$ 5 milhões e já rendeu o triplo em um fim de semana?", questiona o diretor.

Tanto é verdade que Landon já pensa em outros derivados de "Atividade Paranormal", já que o quinto longa, de novo com a personagem/atriz do original, Katie Featherston, está em ritmo acelerado. "Há um plano muito maior e global para 'Atividade Paranormal', acredite. Nada do que jogamos no filme é em vão. Por que não podemos fazer um filme no Brasil, por exemplo? Tudo é possível." Principalmente se a grana encurtar nos Estados Unidos.