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Com história trágica, belga indicado ao Oscar é tocante sem ser apelativo

Gabriel Mestieri

Do UOL, em São Paulo

16/01/2014 18h17

A estreia de "Alabama Monroe", do diretor belga Felix Van Groeningen, não poderia ser mais oportuna. O filme chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira (17), um dia depois de conseguir uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Indicação mais do que merecida. Com a história de um casal que tem que lidar com o câncer da filha de seis anos, a produção teria tudo para se tornar um dramalhão exagerado caso caísse nas mãos erradas, mas Van Groeningen conseguiu fazer um filme tocante sem ser apelativo.

Em um filme de estrutura não-linear, a tragédia enfrentada por Didier (Johan Heldenbergh) e Elise (Veerle Baetens) é apresentada logo na primeira sequência, passada no hospital. Antes mesmo de o espectador saber como o casal se conheceu, Elise puxa Didier de lado para lhe dar uma bronca após ele quase começar a chorar com notícias pouco animadoras do médico. A mulher informa que o lugar de chorar é em casa, e que enquanto estão no hospital com a menina, eles precisam se manter positivos.

Aos poucos, os detalhes de como chegaram àquela situação vão se revelando: Didier, um tocador de banjo ateu e romântico apaixonado pelos Estados Unidos e pelo gênero musical bluegrass conhece a passional tatuadora Elise no estúdio de tatuagem dela. Em vão, ela tenta convencê-lo a fazer uma tatuagem.

A partir daí, um forte romance se desenvolve entre os dois, e o filme não economiza --como parece ser a tendência atual no cinema do mundo inteiro-- em belas e quentes cenas de sexo no rancho de Didier, que se torna a residência do casal. Elise passa a tocar na banda de Didier e gravidez vem como consequência óbvia.

Quando, aos seis anos de idade, o casal se depara com o câncer de Maybelle (interpretada com maestria pela pequena Nell Cattrysse), as diferenças entre os dois ficam mais evidentes. E é no campo da religião, ou na crença de cada um sobre a vida e a morte, que o embate fica mais intenso.

Enquanto o ateísmo de Didier o ajuda a aceitar de maneira mais "fácil" que algumas coisas são inevitáveis, Elise não consegue de maneira alguma se conformar com a tragédia da vida, apelando à crença em acontecimentos sobrenaturais para lidar com a dor.

O que, no início era o romance mais lindo possível, acaba se transformando em um festival de intolerância e acusações mútuas, com ambos tentando magoar um ao outro o máximo possível, como se a mágoa causada pelas ofensas pudesse ajudar a atenuar a dor sentida pela situação da filha.

Nem mesmo o amor de Didier pelos Estados Unidos sobrevive. O personagem se revolta profundamente contra o lobby dos religiosos no país, que, na visão dele, atrasa o desenvolvimento de pesquisas cujo resultado poderia ajudar Maybelle.