Cineasta que brigou com 'Batman' no Leblon queria protesto com Lampião
Protagonista de um vídeo que se espalhou rapidamente na internet, o cineasta Rodolfo Brandão disse ter ficado "indignado" por ver um manifestante "gritar palavras de ordem contra a injustiça social do país" vestido de Batman, "o ícone do capitalismo". "Se veste de Lampião, cara", afirmou Brandão por telefone ao UOL, nesta quinta-feira (23).
O vídeo viralizou ao mostrar um homem vestido de Batman discutindo com um cineasta que, em certo momento, é apoiado por uma senhora que se diz de direita. Até mesmo franceses que filmavam a manifestação entraram na discussão, que ocorreu no último domingo (19), após seguranças do Shopping Leblon, na zona sul do Rio, impedirem a entrada de Batman e seus amigos no estabelecimento.
"Estou de saco cheio, não aguento mais esses caras enchendo o saco", disse Brandão, que é diretor de "Dedé Mamata", filme que tem como pano de fundo a ditadura e participou da competição oficial do Festival de Veneza, em 1988. "Aí o cara me vem dizer da injustiça social, que o governo está uma merda, vestido como o paladino da Justiça americana, como o ícone do capitalismo? Até brinquei com ele, se veste de Lampião, cara, se veste de Zumbi", afirma Brandão, que disse ter participado da campanha pelas Diretas durante a redemocratização do país, na década de 80.
Questionado pelo fato de ter sido apoiado por uma mulher que se diz de direita, Brandão ri da situação. "No começo ela me apoiou, disse que era 'isso mesmo, que o Carnaval não começou'", afirma. "Depois ela começou a berrar "comunistas" e o cacete, e aí aquilo virou uma confusão. 'O comunismo está invadindo o país (risos)'. Tem de tudo, meu amigo, desde o Batman à pessoa que acha que o comunismo está invadindo o país", afirmou.
Para o cineasta, "tem alguma coisa errada" com um rolezinho que acontece dentro de "um templo de consumo". "Tem uma porção de cientista politico e sociólogo querendo explicar o rolezinho. Para mim isso é terror, é idiotice sem tamanho", opina, sobre os passeios de jovens em centros comerciais que viraram um dos assuntos mais discutidos do país no início do ano.
Brandão diz também considerar os "black blocs", que associa aos rolezinhos, "de direita". "Alguns são até financiados por partidos de direita, Garotinho e tal, a gente sabe disso", diz. "São caras que se aproveitaram do movimento dos vinte centavos, aquele sim um movimento sério e bacana, para tocar o terror", completa.
Ele diz ainda que os grupos que hoje vão às ruas protestar só têm esse direito graças à geração da qual faz parte, que participou da campanha pelas eleições diretas no país. "Esse cara só está na rua protestando porque eu protestei antes dele. Eu fiz a redemocratização, ele não estava lá", diz. "Hoje ele pode ir para rua tacar o terror, para fazer palhaçada com black bloc. Democracia é assim. Eu posso reclamar dele, ele reclamar de mim, botar na rede social, paciência. Lá quando eu ia para rua não era assim, não", afirma.
Questionado se o acontecimento registrado no vídeo daria material para um filme, Brandão diz que não. "Não, não quero isso não, amigo. Como essa questão da internet é muito efêmera, amanhã já vai ter um novo vídeo para vocês assistirem e está tudo certo. Eu tenho outros projetos", diz.
Além do filme que dirigiu, Brandão já trabalhou com Glauber Rocha, como assistente de som em "Idade da Terra" (1981), e Cacá Diegues, como diretor de produção em "Quilombo" (1984). Foi ainda produtor de "Um Trem para as Estrelas" (1987), também de Diegues, "Menino do Rio", de Antônio Calmon, entre outros.
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