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Atuação emocional de Moura em "Praia do Futuro" surpreenderá fãs de "Tropa"

Thiago Stivaletti

Do UOL, em Berlim (Alemanha)

11/02/2014 15h45

Wagner Moura deixou claro na entrevista coletiva de “Praia do Futuro” no Festival de Berlim: não quer que o filme seja visto como um filme gay. Tem toda a razão. Seria rotular e reduzir um filme que fala sobre tantas outras coisas: a solidão; a vontade repentina que um homem tem de mudar de vida e de país, deixando a família pra trás; a sensação de desenraizamento, de se sentir deslocado num lugar que não é o seu; o sentimento de abandono daqueles que ficaram; a relação entre irmão mais velho e irmão mais novo – para este, aquele sempre vai ter algo de super-herói.

Mas uma coisa é certa: depois do beijo gay da novela “Amor à Vida” – e junto com outro filme, “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, que estreia antes, em março –, “Praia do Futuro” pode ajudar a quebrar mais uns tantos preconceitos da classe média  brasileira, ainda que em menor escala que a novela. Quem for ao cinema em maio para ver o novo filme do intérprete do Capitão Nascimento vai se surpreender. Wagner não tem medo de se entregar a um papel difícil, com cenas fortes – e sua atuação sempre emocional é um dos pilares do filme.

Na contramão das comédias da Globo Filmes, Karim Aïnouz é um cineasta refinado, que tira da sua história todos os diálogos supérfluos para ficar apenas com as imagens, fortes e marcantes. A cena do afogamento no início do filme, as cenas de sexo entre Donato (Moura) e Konrad (Clemens Schick), o reencontro de Donato com o irmão (Jesuíta Barbosa) – que começa como uma briga intensa e evolui para um abraço dolorido – revelam um cinema do corpo, dos seus gozos e sofrimentos. Transando, dançando na balada ou brigando, seus personagens vivem na pele todas as emoções.

Se em “O Céu de Suely”, “O Abismo Prateado” e na missérie “Alice” Karim mergulhava em histórias de mulheres à deriva, agora ele volta com força ao universo masculino. “Praia do Futuro” é um filme de cinema: em vez de ação e grandes eventos, opta pela observação desses personagens que vão atrás não sabe bem do quê, mas que não têm medo de mudar e seguir em frente.

Além do gostinho de pré-Copa do Mundo, vai ser mais do que merecido se o júri do Festival de Berlim reservar um bom prêmio ao filme na cerimônia de encerramento, no sábado (15). Por que não sonhar com o Urso de Ouro?