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Corrida pelo Oscar chega ao fim com três favoritos para ganhar melhor filme

Chico Fireman

Do UOL, em São Paulo

25/02/2014 17h04

A cinco dias da entrega do Oscar 2014, no domingo (2), já deveríamos ter uma ideia razoável sobre quem vai ganhar o prêmio na categoria principal. Mas, na reta final da corrida pela estatueta dourada, três filmes têm chances de sair vitoriosos da festa da Academia de Cinema dos Estados Unidos. "12 Anos de Escravidão", "Gravidade" e "Trapaça" podem ganhar por razões diferentes. Uma confusão assim, que deixa a disputa mais instigante, não acontecia em muito tempo. Nos últimos anos, embates entre dois filmes viraram praxe nas semanas decisivas para a premiação.

"Avatar" contra "Guerra ao Terror" em 2010. "O Discurso do Rei" contra "A Rede Social" em 2011. "Argo" contra "As Aventuras de Pi" em 2013. Os últimos anos do Oscar mostraram que sempre havia um filme favorito e um concorrente disposto a derrubá-lo. Mas neste ano, analisando contextos e conhecendo os padrões de comportamento da Academia, é possível dizer que os filmes de Steve McQueen, Alfonso Cuarón e David O. Russell, respectivamente, têm possibilidades, se não iguais, bem parecidas de ficar com a principal estatueta da noite.

O caminho de "12 Anos"
O primeiro favorito sempre foi "12 Anos de Escravidão", drama sério, histórico, saudado como o melhor filme já feito sobre a escravatura. Um trabalho que preenche as principais expectativas da Academia, que concorre em nove categorias, tem três atores indicados e um rastro bem grande de premiações. Mas há alguns percalços no meio do caminho.

O primeiro deles é que, em grande parte das premiações importantes (Globo de Ouro e Critics Choice), "12 Anos" ganhou como melhor filme e perdeu em melhor direção (para "Gravidade"). O filme parece não se oferecer como um pacote completo para a Academia. Dos últimos dez premiados a melhor filme, oito ganharam em direção também (com exceção de "Argo", que no ano passado desmontou o histórico). 

O segundo ponto é que parece haver um sentimento de que o melhor momento do filme já passou, cristalizado com a não indicação em duas categorias onde era dado como certo (fotografia e trilha sonora), além da divisão inédita do prêmio do Sindicato dos Produtores (mais um vez com "Gravidade") e com o crescimento de seus rivais em prêmios e prestígio. Pouco se falava de "12 Anos de Escravidão" até ele ganhar o Bafta, o Oscar inglês, mas é o filme com mais perfil de Oscar, caso a Academia queira ser tradicional.

A corrida de "Gravidade"
"Gravidade" sempre foi um pária na campanha porque parecia relegado aos prêmios técnicos, mas com o enfraquecimento da campanha de "12 Anos de Escravidão" e as dezenas de prêmios em que Alfonso Cuarón vencia Steve McQueen como diretor, jogaram o filme para a estratosfera. O cineasta ganhou o Globo de Ouro, o Critics Choice, o prêmio do Sindicato dos Diretores e o filme roubou as atenções ao ser escolhido junto com "12 Anos" pelo Sindicato dos Produtores. Foi a virada.

A partir daí, os sindicatos foram se rendendo, um a um, a "Gravidade", dando ao filme uma força inédita na campanha. Se pararmos para pensar que esse é o maior representante da indústria, a maior bilheteria entre os indicados e com os astros mais famosos (Sandra Bullock e George Clooney), dá para entender se os acadêmicos quebrarem o tabu e elegerem uma ficção-científica na categoria principal.

Mas "Gravidade" recebeu um belo baque do Sindicato dos Montadores. Favorito, já que é o filme mais "técnico" da corrida, perdeu o prêmio de melhor edição de filme dramático para "Capitão Phillips", que corre por fora entre neste ano. "E se isso se repetir no Oscar?", foi a dúvida levantada. Um longa de méritos técnicos inquestionáveis pode perder aqui e ganhar em melhor filme? O Oscar de montagem ajudou a antecipar vencedores em anos de resultados tumultuados. "Chicago", "Crash" e "Argo" ganharam em montagem e levaram o Oscar sem que seus diretores fossem premiados.

Campanha por "Trapaça"

"Capitão Phillips", por outro lado, não tem chance nenhuma na categoria principal. Mas um outro premiado do sindicato pode se fortalecer: "Trapaça", melhor edição de comédia segundo os montadores. Um filme que começou bem falado, mas desapareceu das apostas pouco antes da temporada de prêmios se iniciar e, logo em seguida, renasceu com o prêmio de melhor filme dos críticos de Nova York.

Entre altos e baixos, ficou claro que o longa de David O. Russell tinha fãs em todo o lugar. Fãs que garantiram múltiplas indicações ao SAG, ao Sindicato dos Atores, Globo de Ouro e, claro, ao Oscar. O. Russell emplacou pelo segundo ano consecutivo quatro integrantes de seu elenco entre os indicados, o que o catapulta para a condição de grande diretor de atores.

Por outro lado, dos prêmios importantes, "Trapaça" não ganhou muita coisa. A campanha estava bem menos inflamada quando o resultado do prêmio dos montadores deu novas esperanças ao filme. Se "Gravidade" representa a indústria de entretenimento e "12 Anos de Escravidão" atende ao anseios dos votantes, "Trapaça" pode ser uma alternativa para quem não quiser premiar uma ficção-científica ou mais um filme inglês.

Tem a América inclusive no título original --"American Hustle"--, um esquadrão de atores que lhes passa imponência, centrado em uma época muito norte-americana (os anos 70), o que passa credibilidade e relevância. E não ofende ninguém, até quem não gosta de blockbuster nem de violência. Basta saber se chegou a vez de David O. Russell.