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Países terão que debater uso de tecnologia em policiamento, diz Padilha

Do UOL, em São Paulo

25/02/2014 01h25

O cineasta brasileiro José Padilha, diretor de "Robocop", disse nesta segunda-feira (24), no programa Roda Viva, da TV Cultura, acreditar que o uso da tecnologia em guerras e no policiamento terá quer ser debatido em breve.

"Todo país vai ter que desenvolver legislação com relação a isso. O Brasil vai ter que decidir, no futuro, se vai usar máquinas para fazer o trabalho da polícia e quais vão ser as consequências", opinou.

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Em Robocop, refilmagem do clássico policial de 1987 de mesmo nome de Paul Verhoeven, Padilha ("Tropa de Elite") discute o tema da automação de soldados e policiais, explorando de maneira fictícia a questão dos drones --aviões não tripulados que já são usados atualmente, sobretudo pelas Forças Armadas dos Estados Unidos-- e de outros robôs.

"Em breve, eu acho que a ONU vai estar debatendo o que é legal e o que é ilegal em guerras em torno do uso de tecnologia", afirmou. "É legal ter robôs americanos em Teerã escaneando e mandando dados para os Estados Unidos?", questionou, fazendo referência à cena de abertura do filme, que se passa em 2028.

Entrevistado pelos jornalistas Kátia Lessa, Bruno Paes Manso e Cunha Jr., pelo crítico de cinema Marcos Petrucelli e pelo documentarista Sylvio do Amaral Rocha, Padilha respondeu também a questões sobre as leis de incentivo ao cinema nacional.

"Tenho a impressão que, no Brasil, incentivo fiscal é uma espécie de 'cala-boca'", opinou. "O cineasta é um camarada que consegue falar nos cadernos de Cultura, no Roda Viva, é uma classe ativa. Então tenho impressão que a classe política quer que esse pessoal não fique muito chateado", afirmou. “Não acho que exista política de incentivo fiscal consistente e pensada de forma racional para fazer com que o cinema cresça e tenha sustentabilidade", completou o cineasta.

Violência

Voltando ao tema da violência, mais especificamente das polícias brasileiras, Padilha disse não ter observado mudanças no Rio após a instalação de UPPs (unidades de polícia pacificadora). "Quem torturou, sistematicamente, na Rocinha, até que houvesse o óbito do Amarildo?", questionou, em referência ao fato de o pedreiro ter sido visto pela última vez ao entrar na sede da UPP. Para o cineasta, "a segurança pública no Brasil é a barbárie".

Ele lembrou ainda a condição dos presídios brasileiros, que comparou a uma "tortura oficial". "Lula e Fernando Henrique são dois presidentes que gostam de se ver como humanistas. Não são", afirmou. "O Fernando Henrique sabe disso, o Lula sabe disso, e eles não fizeram nenhuma política pública para mudar a tortura oficial do Estado que acontece dentro dos presídios", completou.

Padilha comentou ainda sobre o grande número de prisões feito pela polícia em recentes protestos no país. "Para se prender no Brasil, eu entendo, ou tem que ter uma ordem judicial ou tem que ter um crime em flagrante. Não pode se prender pessoas aleatoriamente para averiguação", opinou.

32 Comentários

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jrdesign1

O filme é ótimo. Mas é claro, parte do público, não vai gostar, pois toca em questões espinhosas. No Brasil, as pessoas são incentivadas a se transformarem em máquinas, que não questionam e cumpram ordens, mesmo que estas violem a lei. E a escravidão, fomos um dos países que mais explorou a escravidão. Por tanto, enxergar um "subordinado" como um objeto, (como faz a OmniCorp), parece ser aceitável (por uma parte do público). Ambos os filmes discutem estas questões, entretanto, parte do público, entendeu o primeiro, como um culto à "automatização da violência" e "escravidão". Não é, o apelido "RoboCop" é uma crítica, e isto fica mais visível no novo filme. As motivações do personagem, também parecem mais fortes. Se eu estivesse na pele do Alex Murphy, do primeiro filme, eu me mataria. Pois teria pouca motivação para continuar vivo. Em ambos, morte = liberdade. E neste novo, eu consigo entender o Murphy, e seu sacrifício "continuar vivo".

Jomau

Lei do Audiovisual não é só cala-boca, Padilha, antes fosse só isso. É o que há de mais pernicioso e ruim para a indústria do cinema no Brasil que se tornou o que é exatamente por se basear unicamente no que diz a lei. Ela é responsável pelo atrofiamento dos principais processos de qualidade dessa indústria tão complexa pois se preocupa apenas em fiscalizar a parte financeira da liberação de recursos e não está nem aí se contribui para fortalecer a formação de roteiristas de excelência, formação específica de atores (a maioria é egresso de novelas) e de diretores de vanguarda. É uma vergonha constatar, apenas pelo cartaz de filme brasileiro, que aquele batalhão de logos de empresas no rodapé mais as dos governos só atrofiam "as asas" do cinema nacional. Pois não precisa ter qualidade para voar por novos ares e conta própria. É só não esbarrar no interesse das patrocinadoras (enfiando merchãs onde der), guardar os recibos para o Minc aprovar e só.