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Para viver presidiária, Priscila Fantin entrevistou "presas mais perigosas"

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

19/03/2014 07h00

As novelas foram responsáveis pela transformação na carreira de Priscila Fantin. Foi por conta dos folhetins que aquela "garota-da-Malhação" passou a ser a protagonista queridinha da vez. A atriz não relutou em mergulhar em um período sabático em que questionou sua própria profissão. Agora, ela volta ao batente.

Na TV, retorna à origem, em um novo personagem em “Malhação”. Nos palcos, ensaia peça realizada em parceria com o grupo Paralapatões. Nos cinemas, estreia como produtora e aparece como uma presidiária durona e agressiva no filme de estreia de Luis Antonio Pereira, “Jogo de Xadrez”. São frutos do retiro.

“Eu fui para a TV sem nunca ter almejado um lugar de destaque, sem ter consumido essas revistas. Sempre fui pé no chão”, contou a atriz ao UOL. O período longe de papeis de destaque permitiu que ela dedicasse mais tempo ao casamento e ao primeiro filho, Romeo, de dois anos, mas também serviu de reflexão sobre sua profissão. Inevitavelmente, as notícias sobre o destino de um personagem sempre concorrem com as notas da vida pessoal de seu intérprete.

“Pude parar para analisar esses 12 anos de carreira. Nosso meio artístico ganhou uma nova profissão, a de celebridade, que é bem complicado. Hoje em dia a celebridade tem um papel maior para sociedade, mais do que nosso trabalho artístico e isso começou a me incomodar muito”, avalia.

Priscila aparece com o rosto machucado e cheio de raiva em “Jogo de Xadrez”, que estreia nesta quinta-feira (20). A melhor resposta para o momento de reflexão. No filme ela é Mina, presa por causa de uma fraude na Previdência Social que envolve o Senador Franco (Antonio Calloni). O político tem medo que ela conte a verdade para as autoridades e contrata o diretor da cadeia (Tuca Andrada) para que ele a impeça de abrir a boca. Quando o diretor estreante chegou com o roteiro, escrito há oito anos, Priscila quis também produzir.

“Eu me entreguei. A gente já tinha o roteiro do filme, já sabia dos elementos que precisamos. Visitei o presídio modelo de Bangu e fui entrevistar o pessoal que estava ali. As presas mais perigosas, as presas que trabalhavam”.

Para embrutecer sua persona naturalmente angelical, Priscila fez Muay Thay e aulas de tiro, o que lhe ajudou nas cenas mais tensas, quando ela apanha dentro da prisão. “Foi tudo coreografado antes. Até o professor de luta era, também, um carcereiro”.

Ao se ver pela primeira vez na tela foi crítica: “Detesto me ver. Quando assisti à primeira cópia, ainda sem trilha, virei para o Luis: ‘Não gostei de mim’”. Foi incentivada pelo diretor: “Você está ótima”.

Trailer de "Jogo de Xadrez"

O filme chega às telas no momento em que o julgamento do Mensalão chega ao fim, com a prisão de políticos. Priscila não apareceu em campanhas com o olhos maquiado, como se tivesse apanhado e não participou das manifestações nas ruas, mais por conta do filho, do que por falta de afinidade com o protesto. “Quando filmamos, tudo isso ainda estava distante. Foi uma vitória, mesmo que depois eles tenham concedido prisão em regime aberta. Acho que quanto mais falarmos sobre isso, melhor para todos, inclusive àqueles que foram privados do direto à educação”.

Série
Mina é um personagem dúbio, talvez por uma falha na execução do filme, que não sustenta muito às reviravoltas da trama. Para a atriz, no entanto, a ausência revela a dubiedade das pessoas. “Ninguém se salva lá. Não tem mocinho nem vilão”.

Se depender da atriz, daqui pra frente, seus projetos serão mais ousados. Ela tem na manga um projeto de série, um formato que lhe seduz a um bom tempo.

“É indiscutível o poder de abrangência de uma novela. Mas acho que esse é o produtor do futuro, não do momento apenas. E está na melhor mídia, sendo feita com cuidado e tempo natural de cinema. Tem espaço para um desempenho maior e a criação de uma maior curva para o personagem”.