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Fã, Maria Ribeiro diz que filme sobre Los Hermanos é "declaração de amor"

Cena do documentário "Los Hermanos - Esse é Só o Começo do Fim da Nossa Vida" - Divulgação
Cena do documentário "Los Hermanos - Esse é Só o Começo do Fim da Nossa Vida" Imagem: Divulgação

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

08/04/2014 14h52

"Tardei, tardei, tardei, mas cheguei, enfim...”, cantarola Rodrigo Amarante no camarim, acompanhado da guitarra. Marcelo Camelo ouve atentamente. “Parece [Dorival] Caymmi”, comenta. “É sua?”. Amarante sinaliza que sim com a cabeça. “Que bonito, cara”. A cena se passou em 2012, quando a canção, que integra o disco solo de Amarante, “Cavalo” (2013), ainda estava fresca nos acordes e nas letras e quando o Los Hermanos voltara para uma breve turnê pelo Brasil após sete anos de separação.

A cena foi registrada por Maria Ribeiro, que acompanhou a banda em seis cidades, munida de gravador e câmera. “Isso é do c******”, ela se anima em conversa ao UOL. “É uma das minhas cenas favoritas”.

A atriz de “Entre Nós” e uma das provocadoras do programa “Saia Justa” mostra agora o resultado de seu documentário, “Los Hermanos – Esse É Só O Começo Do Fim Da Nossa Vida”, no festival É Tudo Verdade, que acontece simultaneamente no Rio de Janeiro e São Paulo. E ela não esconde que é fã.

A ideia de documentar a história dos Hermanos e seus fãs devotos surgiu quando a banda anunciou “pausa por tempo indeterminado” em 2007. Camelo recusou. Ribeiro voltou a tentar com o passar dos anos até ouvir do cantor em 2012: “É, acho que agora rola, Maria”.

A atriz, que já dedicou um filme ao cineasta Domingos de Oliveira, agora se prepara para fazer um documentário sobre seu pai. Sobre o documentário dedicado aos Los Hermanos, ela avalia: "É uma declaração de amor para eles".

"Medo de se repetir"
O filme de Ribeiro não tem conflito, entrevistas e passa longe de “Anna Julia”. “Fizemos o filme que queríamos fazer”, diz. “Sou louca por documentários, por aquele do D. A. Pennebaker, o “Don’t Look Back”, sobre o Bob Dylan, que é cinema direto. Aquela câmera que acompanha o personagem até praticamente sumir”.

Enquanto no filme dos anos 60 Dylan aparecia em conflito com os fãs, o empresário e sua namorada na época, a cantora Joan Baez, com Los Hermanos a história é mais família. O tecladista Bruno Medina aparece jogando videogame, Amarante conversando com o pai e Camelo descalço no quarto de hotel. “É uma banda atípica, eles são família. Costumo dizer que são uma banda anti-rock”, observa a atriz.

Maria Ribeiro e Marcos Damigo em cena da peça "Deus é DJ", de Marcelo Rubens Paiva (30/3/12) - Vicente de Mello/Divulgação - Vicente de Mello/Divulgação
"Eles aparecem no quarto de hotel com os caras bebendo vinho, falando de quando eles dividiram um quarto no Japão. Para mim o subliminar é a passagem do tempo, que também é sobre mim, sobre o que me toca. De alguma maneira diz respeito a mim", diz Maria Ribeiro, atriz, diretora e fã de Los Hermanos
Imagem: Vicente de Mello/Divulgação

Em raro momento, durante um jogo de sinuca, o baterista Rodrigo Barba é quem comenta a pausa: “Havia um medo de se repetir...”. “O que me encanta é a falta de persona. Os caras chegam com a roupa de casa e cantam praticamente com a carteira no bolso. Não tem figurino, não tem uma postura. O jeito que eles são no palco eles são fora. Então não teve fã que dorme no quarto, ou alguma briga”.

Filme sobre o tempo
O filme, que custou R$ 200 mil, foi bancado em partes de seu próprio bolso. “Sou uma mulher barata. Só compra umas bolsas de vez em quando”, ri. Nos bastidores, ela teve acesso livre, mas se manteve de fora quando sentia que poderia não ser bem vinda. “Houve uma restrição todo o tempo, sem ser imposta. Teve um dia em Recife que a Malu [Magalhães, mulher de Camelo] chegou e foi todo mundo pra piscina. Eu perdi o dia, mas disse: ‘isso eu não vou fazer’”.

Foi em busca da essência de seus ídolos mundanos que Ribeiro acabou se redescobrindo. “Eles aparecem no quarto de hotel com os caras bebendo vinho, falando de quando eles dividiram um quarto no Japão. Para mim, o subliminar é a passagem do tempo, que também é sobre mim, sobre o que me toca. De alguma maneira diz respeito a mim”.

Aos 38 anos, ela teoriza. “Vai dando medo. Sinto que sou meio nova, meio velha. É o momento de você assumir o que você quer, fazer escolhas. Que é isso: vou deixar o grupo de teatro e fazer novela, ou vou largar a banda e vou investir na carreira solo. O filme tem esse paradoxo o tempo inteiro”.

Após a banda cantar “Conversa de Botas Batidas”, sobre o adeus de um casal, a cortina se fecha. “É quase um casamento desfeito”, observa a diretora.

Serviço:
“Los Hermanos – Esse é Só o Começo do Fim da Nossa Vida”, de Maria Ribeiro
Rio de Janeiro
8/4 às 19h Espaço Itaú de Cinema Botafogo
9/4 às 13h Espaço Itaú de Cinema Botafogo

São Paulo
11/4 às 19h Cine Livraria Cultura
13/4 às 15h Cine Livraria Cultura