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"Divergente" chega ao cinemas pouco divergindo de "Jogos Vorazes"

Guilherme Solari

Do UOL, em São Paulo

14/04/2014 07h00

"Divergente" (EUA, 2014) estreia nesta quinta-feira (17) no Brasil com a missão de seguir os passos de sucesso de "Jogos Vorazes" entre as adaptações cinematográficas de livros para jovens adultos. A estratégia do filme - e do livro no qual foi baseado - foi seguir religiosamente os passos da saga de Suzanne Collins. Em time que está ganhando não se mexe, mesmo quando o time é dos outros. E como indicam as bilheterias estrangeiras, a estratégia parece estar funcionando.

É praticamente impossível falar de "Divergente" sem comparações a "Jogos Vorazes", já que os pontos de semelhança são inúmeros. Distopia pós-apocalíptica? Presente. Protagonista feminina de origens humildes e personalidade forte? Presente. Competição de vida ou morte? Presente. Conspirações políticas? Presente. Facções divididas unificadas pela protagonista? Presente. Romance com bad boy? Presente. Até a atriz Shailene Woodley parece ter sido escolhida em uma competição de clones de Jennifer Lawrence.

A história de "Divergente" se passa após uma guerra ter destruído grande parte da população mundial. A protagonista Beatrice/Tris é integrante junto de sua família de Abnegação, uma das cinco castas que vivem no que restou de Chicago. Essas facções - as outras são Amizade, Audácia, Erudição e Franqueza - representam arquétipos de comportamentos humanos - decerto "inspiradas" também nas casas de Hogwarts em "Harry Potter".

Montagem "Divergente" e "Jogos Vorazes" - Divulgação - Divulgação
Separadas no nascimento: Shailene Woodley em "Divergente" e Jennifer Lawrence em "Jogos Vorazes"
Imagem: Divulgação

Ao chegarem na idade adulta, os jovens precisam escolher permanecer em sua casta de nascença ou escolher uma nova. Em um teste alucinógeno de vocação, Tris descobre que é "divergente", não tem apenas características de uma casta em particular, o que é ilegal. Ela precisa então esconder seu segredo conforme descobre um complô para dominar a cidade.

"Divergente" tem uma boa narrativa, que dá peso às escolhas de Tris. Novamente como em "Jogos Vorazes", a protagonista precisa aprender a lutar contra oponentes mais fortes usando de astúcia e a atriz Shailene Woodley mostra bem essa vulnerabilidade. A competição para entrar na facção que Tris escolheu tem um ar de vestibular, conforme ela precisa "passar" para não se tornar uma sem-casta. A fotografia é boa, mas os cenários e figurinos dão um ar "bareteiro" ao filme. O mundo em si não parece verossímil pela divisão de castas e Chicago parece um vilarejo ao invés de bastião da civilização.

Foi-se o tempo em que adaptar séries de jovens adultos era o equivalente a ter uma licença de imprimir dinheiro. Para cada "Crepúsculo" e "Jogos Vorazes" há uma legião de "Academia de Vampiros", "A Hospedeira", "Os Instrumentos Mortais" e "Dezesseis Luas"; séries cujo sucesso nas livrarias não se converteu às bilheterias. O filme  "Divergente" teve um bom desempenho nos cinemas estrangeiros (com US$ 56 milhões no primeiro fim de semana dos EUA, e um total de US$ 139 em todo o mundo até a última quarta, 9), mostrando potencial para as sequências baseadas em cada livro - ou para metades de livros, como é a recente moda de Hollywood de ordenhar ao máximo cada franquia.

"Divergente" não é um filme ruim para fãs do gênero, apenas está à sombra de uma série mais popular. Para quem estiver sentindo muito a abstinência de "Jogos Vorazes" até a chegada do próximo filme da saga, "Divergente" pode valer o preço do ingresso. Só não espere encontrar um pingo de criatividade.