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Fiuk se jogou em rolês para viver "maconheiro relaxadão" em comédia

Maria Angélica Oliveira

Do UOL, em São Paulo

16/04/2014 05h00

Mais conhecido pelos trabalhos na TV, Fiuk estreia seu segundo papel no cinema nesta quinta (17), quando chega às telas "Júlio Sumiu", comédia sobre uma mãe de classe média carioca (Lília Cabral) que se envolve com o tráfico para tentar encontrar um dos filhos que some de repente. O outro filho, Sílvio, é Fiuk, o maconheiro que não é lá de fazer muita coisa e se envolve na história ajudando a mãe a vender drogas.

Viver o cara que acorda tarde, fica “de boa” e sobe o morro pra fumar maconha com o amigo deu trabalho para Fiuk, que diz ser “fechado pra caramba” e “pilhado” com projetos pessoais.

Para que ele entrasse no personagem, a preparadora de elenco o levou a bares “na puta que pariu”, favelas e até cachoeiras. A ideia era apenas conhecer gente. E o receio de Fiuk era ser zoado como o “playboy” que deveria voltar para o condomínio.

“Me vesti de Sílvio, botei o chinelão, a regatona toda fudida. No meio da conversa, diziam: 'Peraí, você não é o Fiuk, velho? Porra, e aí?' Conheci um lado que não conhecia da vida, de não pensar em nada. Você fica ali, e o dia passa. Nunca funcionei assim. Acordo e tenho que pensar no dia todo. Só para o que tenho de projetos, preciso de uns 50 anos”, conta.

Nos rolês, Fiuk acabou conhecendo “uns 15 Sílvios”, e a experiência foi uma “farra” que o transformou.

“Andava, encontrava a galera na rua. Alguém falava “e aí, tá indo pra onde? Vamo lá”. Sabe aquela coisa assim, sem roteiro? Quando via, já tinha feito amizade. Comecei a sentar de boa nos bares.”

Videoclipe da música "Puta que Pariu", do cantor Fiuk, trilha de "Júlio Sumiu"

Tudo isso porque em “As Melhores Coisas do Mundo”, seu trabalho anterior e estreia no cinema, Fiuk interpretou um adolescente denso. Agora, teve que se esforçar para sair da casca. Feito o laboratório, ele diz que ficou mais leve. Passar cenas “no meio da rua” deixou de ser um problema.

“Sempre pego alguma coisa pra mim que posso usar, e isso é um lado bacana. O outro filme tinha me deixado um pouco mais introspectivo, fechado. Eu já tinha meio que um atalho para o outro personagem.”

No set, Lília Cabral 'liderou' todo mundo
Mesmo mais tranquilo agora, Fiuk não deixa de ficar ansioso com cada novo trabalho. Até que a primeira cena seja gravada, a dúvida o assombra.

“Fiz 'Malhação'. Eram 30 cenas por dia, 40 páginas de texto, nem eu sei como conseguia fazer. Mas você entra no embalo e vai. Depois, fui fazer novela das sete. Peguei a primeira cena e falei 'Meu Deus, vou ter que decorar isso aqui.' Quando fui fazer filme, foi a mesma coisa.”

Agora, ele sabe que a ansiedade o deixa “vivo”. Tudo bem ficar nervoso: “Esse é o barato.”

No set de “Júlio sumiu”, a parceria com Lília Cabral, que interpreta Edna, a mãe do “sumido” e de Sílvio, também foi um aprendizado. A atriz, com quem ele sonhava trabalhar, o impressionou pela postura e delicadeza para sugerir, por exemplo, mudanças num diálogo. “Ela liderou todo mundo.”

“Me deu uma segurança em ser ator, de ver uma atriz casca grossa, que já fez tudo, estar ali como um ser humano que gosta de atuar e ponto.”

Tropa de Elite e a Copa do Mundo
Outro ídolo do ator é o diretor José Padilha, de “Tropa de Elite”, filme que Fiuk assistiu “umas cinco vezes”. “Tenho muita vontade de chegar ao meu extremo. E o Padilha tem cara de que faz coisas extremas. Não só tiro, mas coisas impactantes.”

Talvez seja a visão crítica dos filmes de Padilha sobre política que o atraia. Questionado sobre o que pensa a respeito da Copa do Mundo, Fiuk  fica em dúvida em falar o que pensa, mas acaba revelando o medo de um “oba-oba” no país.

“Se falar, vou ser um louco sozinho. Tenho até medo de sobrar pra mim. Temos um país lindo pra cacete, um dos melhores do mundo, e é mal cuidado pra cacete. Vamos filosofar? Vamos. Educação, saúde... Copa agora aqui para quê? Qual a finalidade da Copa, no fim? É ajudar ou para todo mundo ficar quieto e festejar e aí ninguém vê mais nada do que está acontecendo? Se o Brasil ganhar, vira festa, todo mundo sai na rua: 'o Brasil ganhou, foda-se o resto'. Tenho um pouco de receio disso até porque achei que, com a Copa vindo para o Brasil, muita coisa iria mudar. Não (achei) que o Exército fosse descer pra rua, e sim melhorar os hospitais e as escolas”, questiona.

Apesar das críticas, ele não participou dos protestos iniciados em junho de 2014 no país. “Tinha medo de me envolver, e aí no meio do caminho tinha gente querendo se promover, estava lá para tirar foto e sair no Ego. Ficou todo mundo perdido.”