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Estrela de comédia, Lília Cabral pede mais generosidade com cinema nacional

Maria Angélica Oliveira

Do UOL, em São Paulo

18/04/2014 05h30

Termina o filme, e sobem os créditos da comédia “Júlio Sumiu”. Segundos depois, surge uma cena de novo. Parte do elenco está no sofá da sala do apartamento de Edna (Lília Cabral) olhando para a câmera como se houvesse acabado de assistir ao longa. “É, até que filme nacional é bom”, ironiza Eustáquio (Dudu Sandroni), o militar aposentado casado com a protagonista. Edna - ou seria Lília falando? - debocha: “Ah, não pode falar mal do cinema brasileiro”.

É nesse clima que “Júlio Sumiu” chega aos cinemas neste fim de semana: querendo mostrar que o país pode fazer comédia boa e “mais elaborada”, como definiu o diretor, Roberto Berliner. O filme se esforça em elaborar a trama e as piadas, mas também usa gatilhos que soam familiares no cinema nacional: cenas canastronas e efeitos sonoros que dão a deixa para risadas.

Sobre este “recado” para a crítica no fim do filme – um momento em que o diretor deixou a câmera ligada e os atores livres para bater papo -, Lília pede mais “generosidade”. “Aquela brincadeira nada mais é do que o que todo mundo fala: 'ah, é bom, mas [pensar em] prêmio?” ou “aquela pecinha que você fez'”, explica.

Já o diretor defende que os jornalistas assistam aos filmes duas vezes antes de escrever qualquer crítica. “A gente fica muito tempo trabalhando. E aí vem um crítico e assiste ao filme, [mas] está com dor de cabeça ou brigou com a mulher”, diz.

Beto Silva, o ex-Casseta & Planeta que assina o roteiro adaptado de um livro seu, diz que tanto as comédias com trama, como “Júlio Sumiu”, quanto as que fazem a “piada da piada” têm seus méritos.

“Acho que essa onda da comédia está acontecendo porque está dando certo, senão ela não aconteceria. Um filme que leva 3 milhões ao cinema cumpre o seu objetivo. Não é possível você falar mal do filme. Posso até não gostar. Agora, como projeto, ele é válido pra caramba”, opina o Casseta.

Trailer de "Julio Sumiu"

Mãe, traficantes, policiais

“Júlio Sumiu” narra a história de uma dona de casa que se envolve com o tráfico para tentar encontrar o filho, que desaparece de repente. A família mora num apartamento de classe média exatamente em frente a uma favela carioca. Edna tem outro filho, Sílvio (interpretado por Fiuk): um “vida boa” que se divide entre dormir até tarde e subir o morro para fumar maconha com o amigo.

Lidando com a banda podre da segurança, o marido medroso, o filho preguiçoso e traficantes, Edna tem momentos ótimos quando começa a entrar no jogo e solta palavrões no meio de tanta meiguice.

“O que me instigou [para o papel] é que, de uns tempos para cá, tenho feito mãe de tudo que é jeito: mãe de tetraplégica, mãe que apanha, avó de neto com Síndrome de Down. Agora, uma mãe que se transforma em traficante nunca me passou pela cabeça”, diverte-se Lília.

Quando Júlio some, Edna põe o prosaico vestido de bolinhas e vai até a favela para falar com Tião Demônio, o chefe do tráfico que teria sequestrado Júlio. Quem interpreta o bandido é Leandro Firmino, o Zé Pequeno de "Cidade de Deus".

“Fiquei duas semanas antes das filmagens com a barba e o cabelo vermelho. Fui visitar meu filho de 2 anos, cheguei cedo e peguei ele meio que acordando. Pensei: vou assustar o garoto. E foi o contrário, ele me viu e começou a rir. Pensei, que legal, tá começando a funcionar”, contou o ator.

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