"Homem-Aranha 2" aposta em público infantil; "Pernalonga foi inspiração"
Em "O Espetacular Homem-Aranha", de 2012, a Sony já deixava clara sua intenção de modernizar o personagem e distanciá-lo dos filmes comandados por Sam Raimi, transformando Peter Parker em um garoto que anda de skate e usa camisetas de bandas. Já o segundo filme da franquia dirigida por Marc Webb, que estreia na quinta (1º), ao mesmo tempo em que avança neste caminho de rejuvenescimento –a trilha sonora produzida pelo músico do momento Pharrell Williams vai por aí–, também apela para o caráter atemporal do personagem, rendendo-se ao fascínio que ele provoca nas crianças, geração após geração.
"Eu era fã do Homem-Aranha, especialmente quando eu era criança", contou Jamie Foxx, caracterizado com a maquiagem azul do vilão Electro, durante uma visita de jornalistas ao set de "O Espetacular Homem-Aranha 2", em Long Island, próximo a Nova York, ainda durante as filmagens. "A série de TV fazia muito sucesso no Texas. E é interessante como o Homem-Aranha passa de geração em geração. A minha filha tem quatro anos e vem ao set com sua fantasia de Homem-Aranha. Eu pergunto: 'Tem certeza que você não é a Mulher-Aranha?', e ela responde: 'Não, eu sou o Homem-Aranha'".
E esta ligação de Annalise com o personagem vem de antes do pai ser escalado para o filme. "No seu último aniversário, ela tinha um pula-pula do Homem-Aranha, e não sabíamos que eu estaria no filme. Ela já era fã do Homem-Aranha", conta Foxx.
Questionado sobre qual o motivo do amor de sua filha pelo personagem, Foxx diz não saber. "Eu não faço ideia, mas ela pode falar disso a noite toda. A gente nunca sabe ao que as crianças vão se apegar, mas isso é mais um mérito da franquia, ser capaz de alcançar crianças que têm três, quatro anos".
A dica mais óbvia de que a equipe do filme levou o público infantil muito a sério está na inclusão dessa admiração como parte (secundária) da própria trama: um garotinho que sofre bullying é salvo pelo Homem-Aranha e, mais tarde, veste seu traje do herói para se colocar frente a um vilão que destrói a elegante Park Avenue. É claro que o próprio Aranha aparece para assumir o trabalho, mas a cena é uma clara tentativa de permitir uma identificação imediata do público desta faixa etária com o filme.
Na trama, Peter Parker (Andrew Garfield) acaba de terminar a escola, já se tornou "mestre" em ser o Homem-Aranha. Peter continua tentando entender o motivo de ter sido abandonado pelos pais e tem também que proteger Nova York de vilões que não param de surgir, como o Electro, Rino e o Duende Verde. Ao mesmo tempo, ele continua apaixonado por Gwen Stacy (Emma Stone), mas decide se afastar para protegê-la e cumprir a promessa que fez ao pai da namorada antes de sua morte.
O cuidado em fazer um filme "para toda a família" aparece também na forma inocente como este romance é mostrado, mesmo que agora Peter e Gwen já estejam formados na escola e começando suas vidas adultas. A química entre o casal, que também namora na vida real, é palpável, mas eles não protagonizam nenhuma cena mais quente do que um romântico beijo no alto de uma ponte, com o skyline de Manhattan ao fundo.
A atenção com as crianças não para por aí. Um filme de super-herói tem que ter muita destruição, claro, mas em "O Espetacular Homem-Aranha 2" isto é feito sem apelar para qualquer tipo de violência gráfica –há pouco sangue, poucos golpes em close, e mesmo poucas mortes.
Trailer de "O Espetacular Homem-Aranha 2 - A Ameaça de Electro"
"O Pernalonga foi uma inspiração. Eu queria esse elemento. Isso foi algo sobre o qual conversei com Andy [Armstrong, chefe da equipe de dublês] e Marc [Webb, diretor]. Essa qualidade trapaceira", conta o próprio Homem-Aranha, Andrew Garfield.
"E ele também é um pacifista. Uma das qualidades do trapaceiro é que ele usa as fraquezas de seus inimigos contra eles. Adoro a ideia deles batendo em si mesmos em vez de eu ter que fazer alguma coisa enérgica ou violenta. Também temos uma responsabilidade, porque muitas crianças pequenas assistem ao nosso filme, e obviamente estamos em um momento muito permissivo em termos de cultura, violência e desse tipo de distanciamento uns dos outros que nos permite entrar em uma escola e atirar", argumenta Garfield.
O ator acredita que "O Espetacular Homem-Aranha 2", que no Brasil recebeu a classificação de não recomendado para menores de 12 anos, é sim um filme adequado para crianças menores. "Espero que sim. Meu controle disso só vai até certo ponto, mas esta seria a minha intenção em tudo que estou fazendo, em termos de coreografar as sequências de ação. Mas, por sorte, temos uma equipe de pessoas que têm filhos, garotinhos, como Matt Tomalch, o produtor, e Alex Kurtzman, o roteirista. Eles dois têm filhos pequenos da mesma idade, que são o público-alvo e os fãs do Homem-Aranha. E acho que eles supervisionam muitas dessas coisas".
Se esta era a intenção do protagonista, a versão final do filme deve ter lhe agradado, especialmente quando Peter Parker veste seu uniforme azul e vermelho e salta entre os prédios de Nova York para impedir crimes, sem esquecer de soltar piadinhas ou deixar os vilões em situações constrangedoras –logo em uma das sequências iniciais, o bandido russo interpretado por Paul Giamatti acaba não só preso, mas também sem calças.
O outro vilão da história, o Electro de Jamie Foxx, também entra nessa dinâmica cômica com o Aranha –primeiro como Maxx Dylon, antes da transformação, quando tem seus ralos cabelos arrumados pelo herói depois de ser salvo; e, mais tarde, já transformado, cantando a canção infantil "Dona Aranha" ao armar uma armadilha para o herói.
Mas nem tudo é diversão para o Amigão da Vizinhança. Entre dúvidas sobre o passado do pai, um reencontro com o amigo de infância Harry Osborn (Dane DeHaan) e idas e vindas com Gwen, Peter também tem sua dose de drama adulto, que, aliás, rende as cenas mais tocantes do longa. Mas contar mais já seria revelar um grande spoiler, e os leitores crescidinhos não ficariam muito contentes.
* A jornalista viajou a convite da Sony Pictures
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