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Espetaculoso, novo Homem-Aranha desperdiça talentos e peca pelo excesso

Diego Assis

Do UOL, em São Paulo

30/04/2014 13h23

Mais ação, mais humor, mais romance, mais vilões, mais cores, mais efeitos. Com tantos superlativos sobre a mesa, o segundo Homem-Aranha comandado por Marc Webb chega aos cinemas do país nesta quinta-feira (1º) senão mais "espetacular", como sugere o título oficial do filme por aqui, certamente mais espetaculoso.

Super-herói mais popular dentro e fora dos quadrinhos, um dos poucos que conseguem se manter no radar da garotada de geração em geração graças a uma miríade de desenhos, games e produtos licenciados, o Aranha entra em campo quase sempre com o jogo ganho. Mas, para usar o bordão do tio Ben - que morre em consequência de um ato irresponsável do jovem herói logo nas primeiras histórias -, "com grandes poderes vêm sempre grandes responsabilidades".

Se em 2012, Webb era o desafiante, com um elenco novo e a missão de convencer o público a embarcar em uma segunda trilogia do Aranha apenas cinco anos depois de Sam Raimi ter botado o ponto final na sua, em 2014, o diretor, o protagonista Andrew Garfield e a mocinha Emma Stone são situação. Provaram que são capazes de manter a saúde financeira da franquia - o longa anterior rendeu aproximadamente os mesmos US$ 700 milhões em bilheterias dos filmes de Raimi - e, agora, tentam atirar sua teia em pontos mais altos.

Desta vez não é um, nem dois, mas três vilões que o herói terá de enfrentar ao longo das duas horas e trinta de filme. A promessa de tantos personagens fantasiados batendo-se entre si costuma encher o coração dos fãs desse gênero de esperança - vide o sucesso recente de "Os Vingadores" -, mas sem dúvida traz mais dor-de-cabeça aos diretores. Em 2007, Raimi tentou o mesmo para fechar com chave de ouro seu até então irretocável legado à frente do Aranha, mas para parte do público e da crítica, fracassou seriamente.

Pois "O Espetacular Homem-Aranha 2" corre risco semelhante. Para apresentar, costurar e, principalmente, fazer caber as histórias de Electro, Duende Verde e Rino em seu novo filme, Webb lança mão de uma narrativa quase esquemática. Apresenta um. Deixa de lado. Revela a origem de outro. Bota na gaveta. Introduz o terceiro. Suspende. Traz de volta... O recurso costuma funcionar satisfatoriamente em histórias em quadrinhos, acostumadas a cortes abruptos como estes a cada duas viradas de páginas, mas no cinema, de natureza mais fluida, as insistentes quebras de ritmo e linha narrativa podem atrapalhar.

Também incomodam, de certa forma, as mudanças radicais de tom entre algumas cenas. De olho no público infantil - decisão compreensível já que muitas das crianças sequer haviam nascido quando o herói estreou no cinema, 12 anos atrás -, o filme tem por vezes um ar de desenho animado ou das HQs mais inocentes do Aranha.

Quando conhecemos o auxiliar técnico Max Dillon, por exemplo, do cabelinho engomado aos óculos remendados, tudo no personagem interpretado por Jamie Foxx soa caricato, infantiloide. Depois que ele sofre um acidente de laboratório e se transforma na bomba-relógio chamada Electro, porém, o registro muda e o cenário é de terrorismo na Times Square, explosões, nervos à flor da pele. Tudo acompanhado de rajadas elétricas que remetem aos espasmos sonoros do dubstep, gênero extremo da música eletrônica que tem feito a cabeça de jovens e adolescentes. (A trilha é assinada pelos queridinhos Pharrell Williams e Hans Zimmer, mas tem cara mesmo é de Skrillex e DeadMau5).

Trailer de "O Espetacular Homem-Aranha 2 - A Ameaça de Electro"

Se as cenas com Electro são o grande chamariz do filme - pelo espetáculo de luz e som, ao menos -, a reapresentação de Norman e Harry Osborn e a origem do Duende Verde está longe de ter o mesmo impacto, descambando para o drama de seriado teen e perdendo miseravelmente na comparação com o Duende alucinado vivido por Willem Dafoe no longa original. Você pode espernear o quanto quiser quanto à tenebrosa máscara de plástico que Dafoe usava no primeiro Aranha, mas um Harry Osborn andrógino, que faz "chapinha" no cabelo, ninguém merece.

Por fim, a galeria de vilões tem ainda o Rino, com uma armadura hi-tech de encher os olhos e o frescor de o personagem não ter sido usado em nenhum dos cinco filmes feitos até hoje. Vivido pelo ótimo Paul Giamatti, Rino é provavelmente um dos principais desperdícios do longa, com um tempo de cinco minutos de tela, se tanto, e a função de "avisar" o espectador-fã de que, daqui a dois anos, ele deve voltar, agora não mais com três, mas com um grupo de seis vilões, o chamado Sexteto Sinistro! Boa sorte, Webb...

Descartados os vilões, o que sobra em "O Espetacular Homem-Aranha 2" é o que sempre foi um dos pontos fortes do cabeça-de-teia criado por Stan Lee e Steve Ditko: o lado humano, falível, do adolescente que tem de salvar o mundo dos bandidos enquanto tenta manter o romance com a namorada, ajudar a tia May em casa e descobrir por que, afinal, foi deixado para trás por seus próprios pais no passado.

Nesse aspecto, o filme ganha brilho, especialmente pela química espontânea entre Garfield e Stone, que parecem se comunicar com pequenos gestos e olhares. São namorados na vida real, é verdade, mas parecem ansiar tanto pelo final feliz do casal Parker-Stacy quanto o público de suas poltronas. Não fosse a necessidade de lidar com esse batalhão de vilões e ainda preparar terreno para mais e mais continuações, talvez poderíamos ter tido mais da dupla. Com tantas responsabilidades nas costas, Webb parece ter deixado de lado aquele que é um dos grandes temas do filme e da trajetória do Aranha: se o herói precisa fazer sacrifícios, o diretor também precisa assumir e fazer os seus cortes. Menos é mais.

Em tempo, o blogueiro do UOL Roberto Sadovski assistiu e gostou de "O Espetacular Homem-Aranha 2". Leia a crítica.

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