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Discretos na vida real, Garfield e Stone vivem romance atribulado na ficção

Eduardo Graça e Natalia Engler*

Do UOL, em Nova York (EUA)

05/05/2014 07h15

Se as cenas de ação com efeitos especiais espetaculares fossem cortadas de “O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro”, o que sobraria seria quase uma comédia romântica indie, ao melhor estilo do primeiro filme do diretor Marc Webb, "(500) Dias com Ela".

Entre uma perseguição a um bandido e um salvamento, Peter Parker (Andrew Garfield) passa a maior parte do tempo tentando não perder Gwen Stacy (Emma Stone) --mesmo quando cede à culpa e abre mão do namoro, como havia prometido ao pai dela--, e as trocas de olhares e a comunicação por meio de pequenos gestos que compõem a química do casal não são apenas alguns dos pontos mais tocantes do longa, mas também movem a maior parte da trama. Tanto que Webb decidiu deixar de fora algumas cenas que introduziriam Mary Jane no novo universo cinematográfico do herói.

"O fato é que Gwen é um ótimo par para Peter aqui”, afirma Emma Stone a um grupo de jornalistas durante visita ao set do filme, em Long Island (Nova York), no ano passado. “No sentido de que ela cresceu com um pai que era uma espécie de herói [o capitão da polícia de Nova York George Stacy, que morre no primeiro filme]. Então, ela sabe como é ter o homem de sua vida se dedicando às pessoas tanto quanto se dedica à sua família ou à sua parceira. Acho que ela entende isso, ela admira e respeita isso de verdade", completa.

Mas Emma também acredita que a culpa que Peter sente, e que acaba separando o casal, é compreensível. "Acho que Peter tem esse grande dilema com a promessa que fez ao pai dela. Toda vez que Peter está em grande perigo e Gwen se envolve de alguma maneira, ele sente essa enorme culpa. O que é compreensível, porque ele prometeu que ficaria longe dela. Acho que eles repassam esse drama 'flutuante' várias e várias vezes, porque ele se sente muito culpado com o que está fazendo, por estar com ela."

Já para o diretor Marc Webb, o relacionamento de Peter e Gwen passa por um momento muito comum na vida dos jovens. "Há um momento em que os jovens estão lutando para se definir, e ela tem seu próprio mundo, ela tem sua própria vida, assim como ele. E ela tem habilidades para ajudar as pessoas, assim como ele, e essas vidas nem sempre conseguem correr em paralelo, eles não estão sempre juntos. É como aquele momento em que o seu primeiro amor vai para uma faculdade diferente, ou outra cidade, ou segue um caminho diferente, e isso te deixa andando em círculos. Acho que isso é uma dica de como o romance vai caminhar", indica.

Entre tantas idas e vindas, Andrew Garfield acredita que a vida romântica de Peter continua "uma bagunça". "Tudo é uma bagunça para Peter. E é assim que tem que ser. Mas, como estabelecemos no primeiro filme, Gwen é o amor da vida dele. E é uma relação muito poderosa. É difícil ter uma relação com um super-herói. Não é perfeito e não vai ser fácil o tempo todo. Mas o amor entre eles é real. Muito genuíno e autêntico."

Andrew Garfield e Emma Stone falam sobre "O Espetacular Homem-Aranha 2"

Vida real
Real e genuíno é também o romance de Andrew e Emma fora das telas –-onde ela deu a ele o apelido carinhoso de Andy Pandy. Mas é bom não esperar que o casal comente com tanto entusiasmo um possível paralelo entre a relação fictícia e a da vida real, que começou durante as filmagens de "O Espetacular Homem-Aranha" (2012).

"Não é algo sobre o qual conversamos", desconversa Emma, durante entrevista recente ao UOL, pouco antes da estreia do novo filme, ao ser questionada se ela e Andrew discutiram como distanciar o romance da vida real do romance que está no roteiro (assista ao vídeo).

"O que fazemos é aparecer para trabalhar, é tudo profissional. E a vida pessoal é deixada do lado de fora. E eu também não falo da minha vida pessoal em entrevistas, mas adoro falar sobre a Emma como atriz", diz Andrew, também fugindo do assunto em entrevista mais recente (assista ao vídeo), para então se derreter em elogios à atuação da namorada: "Posso escrever um livro sobre isso. É impossível colocar em palavras o que ela faz. Então, eu escreveria um livro com páginas em branco", brinca.

Emma também não tem problemas em falar sobre Andrew profissionalmente. "Ele cresceu como pessoa da mesma forma que eu cresci como pessoa, acho que isso acaba aparecendo no personagem de muitas formas", afirmou Emma, no set, logo depois de brincar que apenas tinha feito o filme com Andrew e acabava de encontrá-lo pela primeira vez naquele dia, para as filmagens.

"Foi divertido trabalhar com Andrew de novo e bater e rebater verbalmente", relembrou ela.

A segunda é mais fácil
Se trabalhar no primeiro filme pode ter sido uma experiência um pouco assustadora para os dois, que vieram de produções menores, a segunda vez, como era de se esperar, foi mais fácil.

"A relação com o Marc é diferente, minha relação com Andrew também”, conta Emma, citando o diretor Marc Webb. “Acho que Marc está mais adaptado ao tamanho deste universo. Nós todos estamos. Não é tão assustador como da primeira vez, em que eram esses galpões enormes, e de repente estamos fazendo esse filme gigantesco e pensávamos 'o que diabos estamos fazendo?'. Parece um pouquinho mais confortável".

"Não sei se foi mais fácil, mas eu aproveitei muito", relembra Andrew. "E o Peter é um personagem que me é muito caro, e eu quero representá-lo da melhor maneira possível. Posso interpretar o meu herói da infância por algum tempo. Então, vou aproveitar ao máximo enquanto estiver nisso", diz.

Mas nem tudo foi tão fácil como eles fazem parecer. Emma, por exemplo, teve problemas com as cenas noturnas. "Em filmagens noturnas no meio de multidões, eu fico assustada. Isso manda um sinal de perigo para o seu cérebro. Tem também os hematomas. Isso é um pouco diferente de outros filmes. Você se machuca num filme como esse. Mas vale a pena. É divertido. Normalmente eu não tenho muita ação além da retórica", conta.

Andrew também relata as dificuldades físicas do papel. "Tem dias que só quero ser Peter, ser humano, ser imperfeito e me debater com uma relação, em vez das dores e contusões que posso estar sentindo quando tenho que fazer algo físico e fingir que estou salvando o mundo."

Mudanças
Participar de um filme de super-herói de grandes proporções pode ser assustador para um jovem ator, e Andrew sentia essa pressão quando conversou com o UOL em 2012, antes da estreia do primeiro filme. Mas suas preocupações parecem ter sido em vão. "Foi uma preocupação em vão. Foi um desperdício da minha energia. Há uma lição nisso, acredito. Não acho que minha vida tenha mudado muito, na verdade, nem um pouco. Me sinto incrivelmente igual. Então, isso demonstra que você não deve colocar o carro na frente dos bois e se estressar com coisas que, de qualquer forma, estão fora do seu controle. Sinto como se nada tivesse mudado. Infelizmente", conta, rindo.

Emma Stone também conseguiu não se tornar "vítima" da fama, e diz que fãs dos quadrinhos não costumam abordá-la. "Estranhamente, não encontro muitos super-fãs dos quadrinhos no meu dia a dia. Achava que mais gente falaria comigo sobre Gwen, mas não acontece com frequência", diz.

Mesmo que em termos de assédio a vida dos dois não tenha mudado muito, Andrew ainda sente a responsabilidade de interpretar um herói tão amado e tem muito respeito pelo legado do personagem. "Acho que contribuí muito da primeira vez e o mesmo agora. Mas não sou dono dele e nunca serei. Assim como ninguém é dono dele", afirma.

"Acho que essa é uma das belezas do personagem, o Homem-Aranha é de todos. Na primeira vez em que estive na Comic-Con, foi um muito, muito importante para mim, e eu não sabia o que fazer, porque não queria sentar em um painel e estar numa plataforma acima das pessoas com quem eu sentia que deveria estar. Porque sou só um fã do Homem-Aranha, e sinto, sim, que ele pertencia a mim mesmo antes que eu interpretasse o papel. É como todo fã do Homem-Aranha se sente", acredita o ator. "Então, não, eu nunca me senti dono do personagem e espero nunca me sentir dono dele. Caso contrário, uma dose saudável de fúria virá ao meu encontro e serei golpeado por Stan Lee. Ele mandará raios saindo de suas mãos, e eu serei fritado", conclui, rindo.

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