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Para Wagner Moura, "Praia do Futuro" é filme sobre abandono

06.mai.2014 - Wagner Moura, durante coletiva do filme "Praia do Futuro", em São Paulo - Thiago Duran/AgNews
06.mai.2014 - Wagner Moura, durante coletiva do filme "Praia do Futuro", em São Paulo Imagem: Thiago Duran/AgNews

Guilherme Solari

Do UOL, em São Paulo

06/05/2014 16h03Atualizada em 06/05/2014 17h38

No filme "Praia do Futuro", que estreia em 15 de maio, Wagner Moura vive o salva-vidas Donato, que abandona o irmão mais novo, Ayrton (Jesuíta Barbosa), em Fortaleza (CE), para viver um romance com outro homem na Alemanha. Em entrevista coletiva sobre o longa, na tarde desta terça (6), o ator afirmou que, para ele, a produção não deveria chamar atenção pelo fato de seu personagem ser homossexual e, sim, por abordar a questão do abandono. 

"O Brasil é, sim, um país conservador, e, para mim, isso [o personagem homossexual] não deve ser assunto. Para mim, que sou pai de três filhos, foi muito mais forte o abandono do Ayrton", diz Moura.  Segundo afirma, o grande público pode até se chocar com sua atuação, que contém cenas de sexo homossexual e nu frontal, mas ele não se importa. "A resposta sincera é que tanto faz."

No filme, dirigido pelo cearense Karim Aïnouz, o salva-vidas Donato trabalha na praia de mesmo nome, em Fortaleza (CE). Pela primeira vez em sua carreira, ele falha ao tentar salvar uma pessoa de um afogamento e conhece o amigo da vítima, o motoqueiro alemão Konrad (Clemens Schick). Donato parte então para a Alemanha em busca de uma nova vida, deixando para trás o irmão mais novo, que o idolatrava. Oito anos depois, Ayrton parte para a Alemanha em busca do irmão mais velho.

De acordo com Moura, classificar o seu personagem no filme como gay é algo simplista. "Não é um personagem gay. É um personagem com tanta coisa... E entre elas ele é gay. É só mais uma característica e não a identidade dele", diz Moura, que completa: "Em certo aspecto, talvez seja o personagem mais parecido com o Capitão Nascimento que eu fiz. Um personagem homossexual, por exemplo, também pode ser viril e agressivo. O Brasil é sim um país conservador e pode haver uma reação, mas isso não deve ser assunto".

Companheiro de elenco de Moura, o ator alemão Clemens Schick concorda: "Você não pode rotular esses personagens de gays, mas vivemos em um mundo no qual ser gay é errado", diz. "Por que ninguém pergunta como eu fiz para me preparar para interpretar um personagem heterossexual? Quero ser idealista e pensar que talvez, no futuro, esse tipo de pergunta nem seja levantada". Segundo Clemens, as cenas íntimas com Moura foram naturais depois da amizade forjada entre os dois.

"A diferença produz tolerância", afirma o diretor Karim Aïnouz, tanto sobre o tema do filme quanto sobre o fato de "Praia do Futuro" ser uma coprodução entre Brasil e Alemanha, países sem laços culturais muito diretos. Ele diz que não se sentiu fora de ambiente em nenhum momento. "Eu já passei por tantos lugares que nem sei mais o que são terras estrangeiras".

"Para mim é um filme sobre raiva e tristeza, sobre como uma perda inicial produz muita dor, mas também vida", afirma Aïnouz, que lidou com temas semelhantes em filmes como "Madame Satã" e "O Céu de Suely". Ele diz também que considera "Praia do Futuro" seu filme mais ambicioso até o momento, pela narrativa cortada em dois países e momentos diferentes.

Dois idiomas
O jovem ator Jesuíta Barbosa, que se destacou no filme "Tatuagem" e na minissérie "Amores Roubados", conta que conseguiu aprender o idioma alemão e que está muito feliz com o seu momento na carreira. "Eu nunca tinha saído do país antes do filme. Foi muito novo e quero só aproveitar o que está acontecendo, aprender mais e ficar mais forte".

Wagner Moura conta que tentou aprender alemão, mas logo desistiu. "Falei para a professora, me mostre só como falar essas falas aqui", lembra. "Nessa parte o Clemens me ajudou bastante a trabalhar na pronúncia".

O ator alemão, que possui um longo monólogo em português, contou que apenas conseguiu o feito através de ensaios constantes, e que não aprendeu a falar português. "Em uma cena à noite, na praia, eu não conseguia me expressar sem saber falar. Foi frustrante".

"Ele disfarça, na verdade ele está entendendo tudo", brinca Moura. O elenco garante que a dificuldade de linguagem ajudou no próprio filme, afinal os personagens passam pelo mesmo processo. "É um filme repleto de coisas ditas com o silêncio, no olhar. São pessoas que se expressam pelo que elas fazem", diz Moura. O ator também contou que, após o lançamento de "Praia do Futuro", embarca para a Colômbia para filmar a série sobre Pablo Escobar produzida pelo Netflix e dirigida por José Padilha.