Com Scarlett nua, "Sob a Pele" faz viagem abstrata e sensorial
Envolta em mistério, a ficção científica “Sob a Pele”, que estreia nesta quinta (15), faz jus ao burburinho criado pela divulgação das cenas de nu frontal da musa Scarlett Johanson. O apelo do filme, no entanto, vai muito além das formas exuberantes da atriz. Fábula sobre dominação sexual, o terceira empreitada do diretor britânico Jonathan Glazer retoma os ares de mistério de seu filme anterior, “Reencarnação”, mas de forma mais forte, simbólica e contundente, mesmo que em alguns momentos sua trama não consiga deslanchar.
Baseado no romance homônimo do escritor Michel Faber, o longa acompanha a alienígena Laura (Scarlett), que cumpre na Terra a clássica missão de mulher fatal: devorar homens. Dirigindo uma van pelas ruas da gélida Escócia, ela usa sua lábia para abordar desconhecidos a esmo, pedindo informações aleatórias —várias cenas, inclusive, foram feitas pra valer com estranhos, sem encenação.
Atraídas pelos encantos mundanos da protagonista, as vítimas são levadas a uma casa abandonada. Lá, em um ritual sombrio e metafórico, submergem em uma espécie de tanque d´água (embora não exatamente) posicionado no chão, por onde a "deusa" parece caminhar incólume, sem afundar, em sua sessão de strip tease. Nem a origem da personagem nem suas motivações são deixadas claras, alimentando toda uma aura de suspense ao longo do filme. Com a frieza típica dos serial killers, ela conta com a ajuda de um não menos misterioso cúmplice motoqueiro.
A história só muda de rota quando, sem nenhuma explicação, Laura falha ao tentar capturar um de seus alvos, um perturbado homem com o rosto deformado. A ET, então, entra em crise. Agora vulnerável, busca ajuda e se descobre como um ser de traços humanizados. Em suas tentativas de conhecer a si mesma, ela tenta inutilmente comer um pedaço de bolo e fazer sexo com o homem que a acolhe, o que a faz sentir pela primeira vez os limites de seu corpo. Daí nasce a rápida (e coerente) cena de nudismo em frente a um espelho.
A partir desse momento, de potencial epifania, o filme parece murchar. A pouca expressiva Scarlett não faz mais do que sempre fez para acrescentar à alienígena um mínimo de empatia. De forma deliberada, tudo é estranho, insípido e deslocado. Como um sonho lúcido. Talvez, por ironia, o que mais aproxime a estranheza do filme ao mundo real.
Apostando em uma narrativa lenta, mas sem ser exatamente cansativa —o que já o fez ser comparado a “De Olhos Bem Fechados” e “O Iluminado”, do diretor Stanley Kubrick—, Jonathan Glazer propõe uma jornada abstrata e sensorial, praticamente sem diálogos.
O trunfo da história está nas sensações e, principalmente, na curiosiodade que de desperta nos espectadores e mesmo nos próprios personagens, incapazes de compreender seus próprios mundos e prováveis rumos. Esse vazio sinestésico é maximizado pela fotografia de luz e sombra e pelas paisagens chapadas do campo escocês, que marcam a persistente sensação inquietude. Se não irá mudar os rumos do gênero do suspense, o "Sob a Pele" tem tudo para agradar a fãs decepcionados com os últimos filme do diretor M. Night Shyamalan –do horror psicológico "O Sexto Sentido".
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