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Filmes póstumos como "13º Distrito", com Paul Walker, são comuns; relembre

Roberto Sadovski

Do UOL, em São Paulo

18/06/2014 06h00

"13º Distrito" é a refilmagem do filme de ação francês "Banlieue 13", de 2004. É também o último filme que o ator Paul Walker completou antes de morrer em um acidente automobilístico em novembro de 2013.

Não é a primeira --e, infelizmente, nem deve ser a última-- vez em que o cinema recebe o lançamento depois da morte de um ator do elenco. Pela engrenagem por trás de um filme, a produção muitas vezes se dá meses e meses antes de sua estreia. Dependendo do fluxo de trabalho de um ator, o público termina assistindo ao filme bem depois de uma tragédia.

Foi o caso com Paul Walker. Alçado à condição de astro com o primeiro "Velozes & Furiosos", ele equilibrou novos capítulos da série com outros trabalhos mais modestos, geralmente distante da mesma resposta do público. "13º Distrito", que estreia nesta quinta (19) no Brasil, já estava filmado, em fase de pós-produção.

Não era o caso do sétimo "Velozes", que teve sua produção suspensa após a morte de Walker e sua data de estreia alterada. Com metade das cenas com o ator já filmadas, os produtores optaram por usar tecnologia digital para completar o filme, usando dublês e os próprios irmãos de Walker, Cody e Caleb.

Outros casos

Philip Seymour-Hoffman - Divulgação - Divulgação
Philip Seymour-Hoffman e Julianne Moore na primeira imagem de "Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1"
Imagem: Divulgação

Philip Seymour Hoffman é outro exemplo recente de ator que terá trabalhos chegando aos cinemas após sua morte --ele foi vítima de uma overdose em fevereiro deste ano. O suspense "O Homem Mais Procurado", que estreia por aqui em setembro, já estava sendo aplaudido no circuito de festivais quando Hoffman foi encontrado morto em seu apartamento em Nova York.

Um dos mais festejados atores de sua geração, ele equilibrava produções modestas com candidatos a blockbuster. Foi o que o levou a entrar na série "Jogos Vorazes" em seu segundo capítulo, "Em Chamas". Como não havia terminado sua parte na conclusão da franquia, "A Esperança" (dividido em duas partes, a primeira estreia em novembro), Hoffman foi “interpretado” por um dublê digital.

Usar a tecnologia para compensar a ausência de um ator não é novidade. O veterano Oliver Reed estava em plena produção de "Gladiador" (2000) quando foi vítima de um ataque cardíaco --em um bar, num intervalo das filmagens. Seu rosto foi reconstruído digitalmente sobre a face de um dublê, ao custo de 3 milhões de dólares, para a cena da morte de seu personagem.

Família Lee
A mesma tecnologia só engatinhava quando Brandon Lee foi morto acidentalmente pelo disparo de um revólver em uma cena de "O Corvo" (1994). Os produtores tiveram de remontar o roteiro e recriar a narrativa, usando fragmentos de imagens do ator inseridas em outras cenas. "O Corvo", trampolim para o estrelado para Brandon, ganhou fama de filme maldito, e o negativo do filme que captou o momento em que ele é alvejado foi posteriormente destruído.

A morte de Brandon Lee alimentou por um tempo a lenda urbana da “maldição” que acometeu sua família. Afinal, seu pai, o lendário Bruce Lee, também morreu prestes a se tornar um astro global --o que aconteceu com o lançamento, em agosto de 1973, de "Operação Dragão". Um mês antes, Bruce morreu vítima de um edema cerebral. Ele tinha 32 anos. Mas isso não impediu que, nos anos seguintes, diversos produtores em posse de cenas não aproveitadas de seus filmes --uma vasta coleção de aventuras rodadas na China-- lançassem aventuras “inéditas” do astro.

O mais notório é "Jogo da Morte", de 1978. Lee havia rodado combates com diversos oponentes, entre eles o gigante Kareem Abdul-Jabbar, e o filme usou um dublê que passa boa parte do tempo oculto nas sombras para completar a produção. Inacreditavelmente, três anos depois "Jogo da Morte" ganhou uma continuação com o mesmo recurso picareta. Em 2013, Bruce Lee foi recriado digitalmente para um anúncio de bebida.

Vida breve
Quando Heath Ledger criou a versão mais perfeito do Coringa para Christopher Nolan em "Batman - O Cavaleiro das Trevas" (2008), mal sabia que seria seu último filme completo. Ledger, que ganharia um Oscar póstumo de coadjuvante por seu trabalho como nêmeses do Homem-Morcego, estava filmando "O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus" quando sucumbiu a uma mistura letal de remédios controlados. Para terminar a aventura fantástica, três amigos do ator assumiram seu personagem quando ele entra no mundo dos sonhos do filme de Terry Gillian: Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell emprestaram seu talento para um filme lúdico e singelo.

Morrer jovem não era o que esperava James Dean. Mas o astro só tinha 24 anos de idade quando seu Porsche Spyder colidiu com outro carro e despedaçou-se nas colinas da Califórnia em setembro de 1955. Cinco meses antes, ele deixara o mundo mesmerizado com seu desempenho em "Vidas Amargas", de Elia Kazam. Ele já havia terminado seu trabalho em "Juventude Transviada" e "Assim Caminha a Humanidade", lançados nos doze meses seguintes a sua morte. Imortalidade e juventude eterna se tornaram sinônimos de James Dean, que deixou de ser mais um ator para tornar-se um ícone.

No Brasil
E uma vida de paixão pelo nosso cinema foi o legado de José Wilker, que morreu em abril passado aos 69 anos. Apesar de ganhar fama com seu trabalho na TV, Wilker deixou sua marca em filmes que fazem parte do DNA da produção nacional.

Em mais de trinta filmes, o ator deu um tapa na ditadura ("Bye Bye Brasil"), fez ação ("Doida Demais"), drama épico ("Guerra de Canudos"), biografia política ("O Homem da Capa Preta"), comédia ("Casa da Mãe Joana"), filmou em Hollywood ("O Curandeiro da Selva") e protagonizou um dos maiores sucessos da história do cinema nacional ("Dona Flor e Seus Dois Maridos").

Sua história em celuloide ainda não chegou ao fim: o suspense "Isolados", com Bruno Gagliasso e Regiane Alves, estreia em setembro. Foi seu último filme.