Topo

Bilheterias no Brasil crescem 22% em junho mesmo com Copa e poucas estreias

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

08/07/2014 11h36

A expectativa do mercado de cinema para o mês de junho não era das melhores. Com os exemplos recentes das Copas do Mundo na Alemanha (2006) e África do Sul (2010), que fizeram minguar seus públicos durante os jogos, exibidores e distribuidores brasileiros previam uma queda de até 40% em suas receitas. O bom desempenho das bilheterias, entretanto, surpreendeu.

Segundo a Rentrak, empresa que acompanha as bilheterias junto aos cinemas, o mês de junho atraiu um público de 15,9 milhões de pessoas (16,5 % acima dos registrados no mesmo período do ano passado), com renda de R$ 197,5 milhões (22% a mais do que em 2013). De acordo com o portal Filme B, que também recolhe e analisa os números do mercado cinematográfico, houve ainda um aumento de 25% no público e de 32% na renda gerada apenas nas duas primeiras semanas do torneio, entre 12 e 29 de junho.

O amadurecimento do mercado nacional é, hoje, menos suscetível a fatores externos como o Mundial e traz um cronograma de estreias acertado, com títulos voltados a um público mais feminino e infanto-juvenil --e, teoricamente, menos dependente das partidas. Tudo isso é visto pelas empresas como possível razão dos bons resultados, que também se valeram do acaso: nenhum jogo da seleção brasileira na primeira fase do torneio, disputada inteiramente em junho, coincidiu com um dia de fim de semana, quando há mais gente nos cinemas.

"Já se tornou um hábito, as pessoas procuram outras formas de entretenimento. E nem todo mundo está tão envolvido assim com o futebol. Existem outros programas. E como o cinema é um dos meios mais democráticos, atendendo a criança, adolescente, adultos e velhos, conseguimos nos sair bem", avalia a diretora de marketing do Cinemark Brasil, Bettina Boklis, que vem exibindo partidas da Copa ao vivo em suas salas. "Alguns distribuidores até tiraram uma parte dos filmes de cartaz. E eu não tenho dúvida de que alguns deles devem ter se arrependido de ter colocado o pé no freio".

Entre os títulos que ajudaram a manter o fôlego do faturamento estão "Malévola", "A Culpa É das Estrelas", "X-Men: Dias de um Futuro Esquecido" e "Os Homens São de Marte... E É Pra Lá Que Eu Vou", cujas estreias coincidiram com as semanas anteriores ao início da Copa do Mundo. Outro destaque é a animação "Como Treinar o Seu Dragão 2", que entrou em cartaz no dia 19 de junho, na segunda semana de jogos, e que hoje é o longa mais visto no país pela terceira semana consecutiva. Juntos, todos esses filmes acumulam R$ 240 milhões em bilheteria --superando os grandes destaques do mesmo período em 2013, com "Velozes e Furiosos 6", "Se Beber, Não Case! 3" e "Minha Mãe é Um Peça".

"Durante os jogos do Brasil, o público realmente não tem interesse. Tivemos uma queda de 70% na estreia da seleção. Mas, no geral, os números mostram que esse dano foi muito menor do que do que o mercado falava", diz o diretor da distribuidora Paris Filmes, Márcio Fraccaroli, que não antecipou nem adiou nenhum lançamento em função da Copa. "O Brasil está vivendo um momento de amadurecimento. A gente gosta de futebol, mas há um mundo paralelo no dia da partida. Pode haver um dano, mas no dia seguinte ao jogo as pessoas têm que continuar vivendo e fazendo outras coisas."

Pior para os nanicos

Embora o crescimento das bilheterias em mês de Copa tenha saído melhor que a encomenda, nem tudo é sucesso. No caso dos filmes menores, do gênero de arte, o desempenho foi considerado ruim. E sem prognóstico de recuperação.

"Acho que o sucesso vem de uma confluência de fatores, como acontece agora com o cinema comercial, com filmes voltados a um perfil não necessariamente ligado à Copa. Mas o cinema de arte vem sofrendo. Talvez por ser um público mais interessado em futebol, e também porque distribuidores seguraram títulos importantes. Tivemos até agora, de grande lançamento, apenas 'O Grande Hotel Budapeste'", diz o diretor de programação do circuito Itaú de cinema, Adhemar Oliveira.

"Cinema é igual agricultura. Olhamos para o céu, para o vento, para as pragas, e dependemos do produto que vem. Não dá para prever os resultados. Ninguém falava que teríamos essa congruência de fatores que proporcionasse esse crescimento de receitas. Estava todo mundo apavorado. Espero que o crescendo continue."