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Não gostei: Apesar de boa atmosfera, falta novidade em Planeta dos Macacos

Guilherme Solari

Do UOL, em São Paulo

23/07/2014 07h00

Continuação do filme de 2011 "Planeta dos Macacos: A Origem" --reboot da clássica série de ficção científica--, "Planeta dos Macacos: O Confronto" chega aos cinemas nesta quinta-feira (23) mostrando um mundo pós-apocalíptico, e o que restou da humanidade está na luta pela sobrevivência após uma pandemia de um vírus mortal. O filme traz visuais impressionantes --em particular nas tomadas de batalha com toda a macacada reunida-- e personagens marcantes, mas peca pelo argumento batido que já foi visto e revisto no cinema.

Com leves variações, o filme tem basicamente a mesma história que você já viu desde "Pocahontas" a "Avatar". O grupo dos "civilizados" quer um recurso na terra dos "selvagens", quando surgem as tensões. No caso do filme, é a energia abundante --a preço menor que o de banana-- de uma usina hidrelétrica que os humanos desejam. Enquanto isso, um homem bom dos "civilizados" tenta promover a paz com os "selvagens" e tudo parece dar certo por um tempo.

Até que ambos lados têm seus guerreiros em pé de guerra, descambando para uma batalha. No caso dos humanos, Dreyfus (Gary Oldman) é um ex-soldado que tenta fazer com que a humanidade reconquiste o planeta. E do lado dos macacos há o guerreiro Koba, que revela ter pretensões ditatoriais. Em seus melhores momentos, "O Confronto" questiona o quanto é real essa separação de "civilizados" e "selvagens", mas novamente nada que já não seja padrão da ficção científica desde os anos 1960.

Personagens humanos são apanhados de esteriótipos. Temos o cientista que quer o bem, a médica pacifista, o soldado cabeça-quente, o adolescente introvertido. É muito bem vindo, no entanto, que os macacos não sejam apenas bons personagens de computação gráfica, mas bons personagens e ponto final. O líder César tem uma aura convincente, e é onde se vê a impressionante tecnologia de captura de movimentos e expressão facial. Uma bela "maquiagem digital", como define Andy Serkis, o ator macaco velho da atuação digital e que interpreta César.

"O Confronto" infelizmente não tem diálogos muito bem escritos, e não ajuda nada que metade do tempo são ditos no "macaquês" com pausas entre cada palavra. Esses momentos deveriam ser emocionais, mas passam com esterilidade, e a trilha sonora inunda música orquestrada para tentar distrair o público.

O medo do desconhecido

O escritor de terror H. P. Lovecraft dizia que a emoção mais forte e antiga da humanidade é o medo, e o medo mais antigo e forte é o medo do desconhecido. Em seus melhores momentos, "Planeta dos Macacos: O Confronto" se alimenta precisamente desse medo inato.

Os macacos do filme têm olhos com aquela esperteza animal, que pode ser tão eficiente quanto a inteligência humana, e ficam ainda mais assustadores ao se assemelharem aos seres humanos --porque sabemos o quão cruéis nós mesmos podemos ser. Um dos momentos mais fortes do longa é justamente quando os símios adquirem armas de fogo e se entregam à guerra de forma assustadoramente humana. Os macacos do filme são tão perturbadores porque são a cara da nossa extinção.

"O Confronto" poderia ser melhor, mas acerta na atmosfera e escorrega nos clichês. Se "Planeta dos Macacos: A Origem" marcava o crescimento da inteligência das criaturas, este segundo sedimenta as diferenças e monta o palco para a guerra total que deve dar as caras no terceiro filme. Assistir à queda total da humanidade já cambaleante deve ser uma conclusão à altura para a trilogia.