Cinebiografia expõe juventude tumultuada para ter Paulo Coelho mais humano
A cinebiografia "Não Pare Na Pista - A Melhor Historia de Paulo Coelho" fez a sua pré-estreia na abertura do Festival de Paulínia, que aconteceu na noite de terça-feira (22), com a missão de mostrar não apenas o escritor brasileiro mais traduzido em outros países, mas também de focar as diversas fases de sua vida.
Os períodos em que foi executivo de gravadora, seguidor do ocultista Aleister Crowley e teve a juventude tumultuada entre idas e vindas em hospitais psiquiátricos ganham força no filme e mostram um Paulo Coelho mais humano e tangível. "O caráter pop do Paulo Coelho, além dos livros, impressiona. E isso está no filme", explicou a produtora Iona de Macedo, durante a coletiva de imprensa sobre o longa no festival.
Com um roteiro caleidoscópico, o filme segue Paulo Coelho em três épocas. Na adolescência, o gaúcho Ravel Andrade, estreante em longas, interpreta o garoto que vive em conflito com o pai por querer se tornar escritor. Na parte ambientada nos anos 70, quando o escritor passava por uma fase mística e vivia experiências com as drogas, quem assume o papel é Júlio Andrade --irmão de Ravel na vida real.
Ravel faz um trabalho honesto como o Paulo Coelho adolescente. O jovem, que entrou no filme por indicação do irmão, é elogiado pela equipe. "Quando o Julinho comentou sobre o irmão, ficamos com medo de uma saia justa. 'E se ele não for bom?', pensamos. Fizemos um teste na casa do Julio, com uma cena inicial, quando o Paulo jovem conversa com o médico. Aquilo foi tão forte, que não podíamos negar", contou Carolina Kotscho, roteirista do longa.
Já Julio Andrade, que estava ausente na coletiva de imprensa por conta das filmagens da novela "O Rebu" (Globo), na qual vive o personagem Oswaldo, dá vida a Coelho com maestria. Outro ator que brilha na fase anos 70 do filme é o baiano Lucci Ferreira, que vive Raul Seixas. O ator não chega a se parecer fisicamente com o cantor e compositor morto em 1989, mas a voz e os trejeitos personificam a imagem de Raul com perfeição.
Quase irreconhecível, Julio também interpreta Paulo Coelho na fase atual, quando ele segue para a festa de 25 anos do lançamento do romance "O Alquimista" na Europa, após passar por uma cirurgia no coração. A maquiagem, por vezes muito pesada e caricata, foi feita pela produtora DDT, que trabalhou na saga "Harry Potter".
Trailer de "Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho"
Muito Paulo para um filme só
Mescladas, essas fases retratadas no filme, no entanto, fazem com que o longa quase derrape na pista. Mas a própria história (que chega a soar inverossímil) do escritor e os atores principais seguram o vai e vem esquizofrênico da edição. A equipe se defendeu, com o argumento de que havia muitos Paulos para um filme só.
Outras partes da vida do escritor, como a sua experiência homossexual e a época em que apresentou as drogas a Raul Seixas, são apenas pinceladas. "São algumas coisas que estão discretas no filme, como foram realmente na vida dele. O Paulo mesmo já disse que tentou duas vezes ter uma experiência homossexual, mas não passou disso", explicou a roteirista Carolina Kotscho.
Responsável também pelo roteiro de "Dois Filhos de Francisco", Carolina afirmou que a história de Paulo Coelho vai além do final feliz, como no caso da dupla sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano. "Para o bem e para o mal, ele sempre desperta curiosidade nas pessoas. Estive com ele em oito países, e é uma coisa incrível. Acho que ele tem uma verdade e uma transparência com o leitor."
"Sou como imaginam"
Com orçamento de R$ 12 milhões, sendo grande parte de origem privada --mesmo que você não preste atenção à história, os patrocinadores saltam da tela durante as cenas--, o longa está prestes a fechar uma parceria para o lançamento internacional.
Paulo Coelho não compareceu à sessão em Paulínia, e não há nada combinado com o escritor para que participe da divulgação quando o filme estrear em 300 salas em agosto. A única cláusula digna de nota estava em um pedido: de que tudo que estivesse ali fosse verdade. Para que o filme fosse feito, o autor, que a cada dia está mais recluso em Genebra, deu depoimentos a Carolina Kotscho e se encontrou apenas uma vez com Julio Andrade. No bate-papo, teria dito "Sou como as pessoas imaginam".
Nos últimos dias de filmagem, o escritor também chegou a se encontrar com a equipe em Santiago de Compostela, mas não quis ir ao set. "Pensava em trazer um Paulo com virtudes e defeitos, e tocamos ele de alguma maneira. Ele assistiu, se emocionou e riu em alguns momentos. Tive a impressão de que aquilo reverberou nele de uma maneira que não cabia em palavras", contou o diretor Daniel Augusto. Ele, no entanto, não se arrisca a fazer uma avaliação sobre a obra do personagem. "Acho que cabe uma análise profunda sobre a obra de Paulo Coelho. Ele merece um estudo sério. Não é diplomacia, é uma questão de método. Não dá para negar o alcance que ele tem e dizer que é ruim ou bom."
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