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Com brilho e perrengues, transformistas vêem sua arte na tela em Paulínia

A arte de se "montar" é ensinada no curta "Jessy", de um trio baiano de diretores - Divulgação/FestivaldePaulínia
A arte de se "montar" é ensinada no curta "Jessy", de um trio baiano de diretores Imagem: Divulgação/FestivaldePaulínia

Tiago Dias

Do UOL, em Paulínia (SP)

26/07/2014 22h30

Plumas, vestidos espalhafatosos, maquiagem carregada e muita dublagem. Transformistas e drag queens se espalharam na tela do Festival de Paulínia, que acontece até domingo (27), e ganham uma visão direta e honesta desse mundo particular da cena cultural gay. Um desses personagens, o portoalegrense João Carlos Castanha, ator de "Castanha, afirma que já era sem tempo o surgimento dessa cena no cinema. "É ótimo mostrar gays. Antes éramos tratados apenas como personagens de 'A Praça é Nossa'", disse ao UOL. 

Conhecido no underground da capital gaúcha, Castanha se transveste há 32 anos, na cena LGBT da cidade. O filme de Davi Pretto, sobre sua vida, é um híbrido entre ficção e documentário. O ator reencena sua vida com elementos ficcionais e tem ao lado sua mãe -- na tela e na vida real --, Celina. 
 
Exibido no último Festival de Berlim, "Castanha"é denso e mostra as dificuldades do artista em se apresentar, ganhar dinheiro e lidar com os problemas familiares. "Quando assisti ao filme pela primeira vez em Berlim, desandei em lágrimas. Lembro quando o Davi disse que queria fazer um filme sobre minha vida, eu perguntei: Por que? Minha vida é tão comum. É a vida de quem se desdobra em 30 pessoas para viver de arte".

Castanha - Divulgação/FestivaldePaulínia - Divulgação/FestivaldePaulínia
Conhecido no underground da capital gaúcha, Castanha se transveste há 32 anos
Imagem: Divulgação/FestivaldePaulínia

A arte de se "montar" é ensinada no curta "Jessy", dos diretores baianos Paula Lice, Rodrigo Luna e Ronei Jorge, exibido no primeiro dia do Festival de Paulínia, na quarta-feira (23). A própria Lice é o dispositivo do filme para entender a arte das drag queens baianas, "Meu sonho era ser uma transformista. Eu sempre tive muita admiração por essa arte, que é feita em um palco pequeno, tudo bem mambembe", contou. "Minha diva é a Elka Maravilha, uma mulher drag". 
 
Sob o nome de Jéssica Cristopherry, ela aprende a se "montar" com as drags no Beco dos Artistas, tradicional reduto underground no bairro do Garcia, em Salvador. Há a maquiagem carregada, cílios postiços longuíssimos e uma técnica específica para a dublagem das músicas. A espontaneidade criativa se passa com leveza e humor. Com adolescentes da cidade de Paulínia na plateia, o curta rendeu gargalhadas. 
 
"Eu acho que não somos educados para a cultura da diversidade, só para os padrões normativos da sexualidade. O filme cria empatia em ver um objeto de manipulação. O próprio humor é uma estratégia para atingir as pessoas", observa Lice à reportagem.
 
Em busca do resgate do glamour da arte, o curta "O Clube", exibido na sexta-feira, comemora os 53 anos de existência do Turma OK, espécie de confraria gay no centro do Rio de Janeiro, onde transformista se apresentam em um ambiente familiar. A equipe defendeu o resgate da família na cena e no cinema para ajudar na aceitação dos homossexuais.