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Em entrevista de 2010, Williams falou sobre alcoolismo, cocaína e trabalho

Do UOL, em São Paulo

12/08/2014 15h01

Em stembro de 2010, a repórter Decca Aitkenhead, do jornal britânico “The Guardian”, escreveu um artigo com base em uma entrevista dada a ela por Robin Williams. Na ocasião, o bate-bapo seria para promover o filme “O Melhor Pai do Mundo”, que estava sendo lançado.

O ator, no entanto, parecia triste durante a conversa e se mostrou vago e tangente ao falar sobre o longa. Mas isso mudou quando o assunto passou a ser sua vida pessoal. Williams então falou abertamente sobre os seus problemas com alcoolismo, sua reabilitação e sobre a recente cirurgia cardíaca que havia feito.

Em “O Melhor Pai do Mundo”, o ator fez o papel de Lance, um escritor frustrado e professor de poesia que perde o filho em um bizarro acidente ocorrido enquanto o garoto se masturbava. Para evitar o constrangimento da família, o personagem resolve forjar uma nota de suicídio do filho. Apesar de ser engraçado, o filme trata da indústria que lucra com a dor alheia. Quando perguntado se achava que esse problema estava piorando, Williams disse: “Bom, eu acho que as pessoas querem isso. De modo estranho, isso tenta deixar a esperança viva”. O ator ainda concordou que, na América, o público costuma transformar as pessoas em mito depois que elas morrem.

Recaída no álcool

Williams então comentou as mortes do ator Christopher Reeve e da viúva dele, Dana, ambos grandes amigos dele. Depois, passou a falar sobre uma recaída que teve no alcoolismo após ficar sóbrio por 20 anos. Ele contou: “Eu estava em uma pequena cidade que não era o fim do mundo, mas você podia vê-lo de lá, e então pensei: vou beber. Eu apenas pensei, ‘hey, talvez beber vá ajudar’. Porque eu me senti sozinho e com medo. Era aquela coisa de trabalhar demais, e ficar chateado.  ‘Talvez isso vá ajudar’. E era a pior coisa do mundo [que poderia ter feito]”.

Questionado sobre o que ele sentiu em seu primeiro drinque após tanto tempo sóbrio, Williams respondeu: “Você se sente aquecido e de certa forma maravilhoso. E, depois, a próxima coisa que você percebe é que é um problema, e você está isolado”. O ator ainda esclareceu que não foi a morte do amigo Christopher Reeve que o fez voltar a beber. “Não, é uma coisa mais egoísta do que isso. É literalmente estar com medo. E você pensa ‘oh, isso vai acalmar o medo’. E não acalma”. Mas medo do quê? “De tudo. É apenas um argggghhh geral sobre tudo à sua volta.”

Ainda segundo o artigo de Aitkenhead, o ator garantiu que não usaria cocaína novamente. “Eu sei que isso me mataria”, disse. “Não. Cocaína – paranoia e impotência. Que divertido. Não havia nem um pouco de mim pensando ‘ooh, vamos voltar com isso [na ocasião em que voltou a beber]’. Conversas sem sentido até meia-noite, acordar durante a madrugada se sentindo como um vampiro. Não.”

Segundo o ator, o alcoólatra geralmente percebe que está com problemas após uma semana de bebedeira. “Nessa primeira semana, você mente para si mesmo, diz para si mesmo que pode parar. E em seguida o seu corpo reage e lhe diz ‘não, pare depois’." 

Williams ainda lembrou situações constrangedoras que viveu por causa da  bebida. “Na maioria das vezes, você chega à conclusão de que começou a fazer coisas embaraçosas”. Ele citou uma ocasião em que bebeu durante um evento de caridade promovido pela atriz Sharon Stone em Cannes. “Eu percebi que estava muito louco. E olho em volta e vejo de repente uma parede de paparazzi.”

Williams também declarou à repórter que ele costumava ser um workaholic clássico, mas, aos 59 anos e depois de uma cirurgia cardíaca, disse que estava indo mais devagar na profissão. “Em um período de dois anos, eu fiz oito filmes”, mencionou, dizendo que, em certo ponto, era considerado uma piada entrar um filme em cartaz em que ele não atuava.

“Você tem essa ideia de que é melhor continuar trabalhando, senão as pessoas vão esquecê-lo. E isso é perigoso. E então você chega à conclusão: ‘não, na verdade, se você fizer uma pausa, as pessoas talvez se interessem por você’. Agora, depois de uma cirurgia no coração, vou dar uma acalmada”, declarou.

O ator ainda falou sobre os filmes que fez nos anos anteriores, em geral comédias familiares, que não foram aclamados pela crítica como os sucessos “Sociedade dos Poetas Mortos” (1989) e “Gênio Indomável” (1997). Perguntado por que estava fazendo aquele tipo de filme, Williams disse: “Bem, um monte de gente me disse que assistiu a “Surpresa em Dobro” (2009) com os filhos e teve um bom momento”.

A repórter ainda questionou se não ofendia o seu “senso de integridade” fazer esse tipo de comédia. “Não, isso paga as contas. Há vezes em você tem que fazer um filme para ganhar dinheiro. Você sabe no que está entrando”.

No final, ao a repórter quis saber se ele estava mais feliz naquele momento. Ele disse: “Eu acho que sim. Não estou com medo de ser infeliz."

Morte aos 63 anos
O corpo de Robins Williams foi encontrado em sua casa, em Tiburon, na Califórnia, sem sinais vitais. Exames toxicológicos devem ser realizados nesta terça-feira.
 
"Nesta manhã eu perdi meu marido e meu melhor amigo", disse a mulher do ator, Susan Schneider, à imprensa norte-americana. "Em nome da família do Robin, peço que respeitem nossa privacidade nesse momento e que lembrem dele não por sua morte, mas pelos momentos de alegria e risada que ele proporcionou a todos ao longo de sua carreira", completou. A porta-voz da família, Mara Buxbaum, disse que Williams estava "enfrentando uma forte depressão nos últimos tempos".
 
A polícia de Tiburon recebeu às 11h55 (horário local) desta segunda-feira uma chamada de emergência sobre o caso de "um homem encontrado inconsciente e sem sinais de respiração em sua casa", segundo comunicado divulgado pela imprensa dos Estados Unidos. Ao chegar ao local, às 12h02, os oficiais identificaram o corpo do ator.
 
Informações preliminares da investigação indicam que o ator foi visto vivo pela última vez por volta das 22h de domingo, na residência onde vivia com a mulher. 
 
Vencedor do Oscar de ator coadjuvante por "Gênio Indomável" (1997), Robin Williams se internou no mês passado em uma clínica de reabilitação. Ele estava em um setor da Hazelden Addiction Treatment Center, em Minnesota, que possui um programa focado em manter a sobriedade por longo prazo --Williams lutava contra o vício de cocaína e álcool havia décadas. Em 2006, ele já havia ingressado voluntariamente em uma clínica para tratar o alcoolismo, depois de uma recaída após 20 anos de sobriedade.