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"Hoje, filmes são feitos para o espectador não pensar", diz Arnaldo Jabor

Do UOL, em São Paulo

16/09/2014 01h27

Entrevistado do programa "Roda Viva" (TV Cultura) desta segunda-feira (15), o jornalista e cineasta Arnaldo Jabor fez duras críticas ao cinema atual e afirmou que hoje em dia não há "interesse para o raciocínio reflexivo”. "Eu fazia filme para o espectador pensar. Hoje, os filmes são feitos para o espectador não pensar. Você vai ao cinema, não pensa que é um alívio, depois vai comer uma pizza e vai para casa. E fala: 'É legal o filme'", declarou.

"Os filmes, hoje em dia, são propositalmente inexplicáveis e mal-feitos. Existe um cinema confuso, nada tem autor, é uma mutação muito grande. Um mundo sem autores, sem regras filosóficas claras”, disse o jornalista.

Jabor dirigiu clássicos do cinema brasileiro como "Eu te Amo", "Eu Sei que Vou te Amar" e "Toda Nudez Será Castigada". Com o último, ganhou o Urso de Prata do Festival de Berlim e o Kikito de melhor filme do Festival de Gramado.

De acordo com ele, mesmo dedicando boa parte de sua carreira ao cinema, do fim da década de 60 até o início dos anos 90, não ganhava dinheiro nenhum.“‘Eu Sei que Vou te Amar’, por exemplo, fez 5 milhões de telespectadores. Hoje, talvez, o filme nem fosse lançado. Eu não aguentava mais a situação no cinema. Não ganhei dinheiro nenhum com filmes. Não se ganha dinheiro com cinema, impossível. Ao menos que você faça uma comédia bem vagabunda ou um filme bem sórdido como muitos estão que sendo feitos no Brasil. Se você não fizer isso e tentar fazer um filme mais reflexivo, um pouco mais crítico, você dança”, contou Jabor,  que diz se sentir mais útil escrevendo.

Na década de 90, Jabor tornou-se colunista de diversos veículos de comunicação do grupo Globo, como o telejornal “Jornal da Globo” e o jornal “O Globo”. Também é autor de livros, como "Amor é Prosa", "Sexo É Poesia" e "Pornopolítica", e acaba de lançar "O Malabarista".

“Ter opinião é considerado caretice”

Citando Liev Tolstói e outros escritores, Jabor contou que escreve de uma maneira que “passe o incrível mundo da literatura às pessoas”. “Escrever era uma tarefa tão fascinante para os jovens, como hoje é jogar videogame. Eu li Rimbaut com 13 anos, parecia que eu estava viajando de ácido. Hoje em dia, eu tento passar isso para as pessoas. Mas, hoje em dia, não tem interesse para o raciocínio reflexivo. É um videoclipe mental permanente”, afirmou ele, que, diariamente, recebe dezenas de comentários na internet sobre suas crônicas.

Jabor  acredita que a era da internet fez com que “ter opinião fosse considerado caretice”. “Ter certeza ficou feio. É o clima geral de que a opinião, a autoria, é coisa do passado. A internet está mudando como pensamos. É uma mutação interna. É uma nova forma de arte, é uma nova forma de cultura. Pode ser que surja uma nova arte”, imaginou ele.

Participaram da bancada desta edição do “Roda Viva” Carla Jimenez, editora-chefe da edição brasileira do jornal espanhol "El País"; Cynthia de Almeida, jornalista e colunista revista "Claudia"; Denise Fraga, atriz; Glenda Mezarobba, cientista política; e Dan Stulbach, ator, diretor e apresentador do programa "Fim de Expediente", da Rádio CBN.