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Gagliasso: Proposta de "Isolados" era ficar parecido com outros suspenses

Mariane Zendron e Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

17/09/2014 06h00

É o tipo de história que já foi contada: em crise, um casal decide se enclausurar em uma casa isolada no mato, cenário de mortes aparentemente sem explicação. A receita inclui muitos sustos, uma trilha sonora sinistra e uma virada narrativa pouco ortodoxa no final. Conhecidos pelo público, os elementos de cinema de gênero costuram o suspense “Isolados”, do diretor Tomas Portella, que estreia nesta quinta (18).

Com Bruno Gagliasso e Regiane Alves nos papéis principais, o filme já foi descrito pela crítica como datado e pouco inventivo. Pechas que, para a dupla, não são tão assustadoras assim. De certa forma, soam quase como um elogio.

“Se você pegar qualquer filme de gênero, vai ver que a fórmula é basicamente a mesma. Mas é ["Isolados"] um filme bem feito, que dá medo”, diz ao UOL o ator, que também assina a produção do longa. Segundo ele, não havia a preocupação de criar algo inovador. “Nós não estávamos preocupados. A nossa proposta era que ficasse parecido [com a maioria dos filmes do gênero].”

“Acho legal, como o próprio Tomas diz, que nós assumamos os nossos clichês. Os sustos, as facas, os gritinhos. Só assim o filme vira um suspense. São códigos, e não há problema em usá-los. Tem gente que diz que lembra ‘O Iluminado’, que lembra tal filme. Mas somos obrigados a usar esses elementos para que funcione”, completa Regiane.

Atração de abertura do festival de Gramado, “Isolados” é mais um sopro na recente onda de produções nacionais de suspense que apostam em atores famosos, ao lado de "O Lobo Atrás da Porta", "Quando Eu Era Vivo" e “Confia em Mim”.

Trazendo a última aparição de José Wilker no cinema, o thriller psicológico foca no público de terror mais clássico. As narrativas que crescem de forma natural e evolvente, como as de “Bebê de Rosemary”, “Os Outros” e “Ilha do Medo”, são as grandes referências do filme, que também buscou inspiração nos toques psicóticos de Jack Nicholson em "O Iluminado", clássico de Stanley Kubrick lançado em 1980.

Alheio às críticas, Bruno Gagliasso diz que o simples fato de “Isolados” levantar discussões de estilo e comparações já é um sinal de sucesso.  

“O que eu percebo é que as pessoas sentem falta desse tipo de filme sendo feito no nosso cinema. A maior prova dessa carência é o nosso trailer, que tem 1 milhão e meio de visualizações. Gostaria muito que as pessoas se inspirassem para fazer cada vez mais filmes assim”, diz Gagliasso, que, com sua produtora Escambo, foi responsável pela escolha de Regiane Alves.



Infecção psicológica

No longa, Bruno vive o médico Lauro, que se apaixona por uma ex-paciente, a problemática artista plástica Renata. Para compor a personagem, Regiane mergulhou em uma preparação que incluiu várias sessões com uma psicanalista. Na trama, ela sofre da chamada síndrome de Cotard, distúrbio que faz o paciente acreditar que está morto.

“Abriu uma porta para mim. É pesado. Depois do filme, cheguei em casa e fiquei dois dias na cama, pensando que havia pegado uma infecção respiratória. Fui ao médico, e ele disse que era emocional. Acho que precisava de um tempo para dar uma processada em tudo que passei ali.”

Regiane conta que não conseguiu dormir após ler o roteiro. Até hoje tem pesadelos, como se estivesse perdida em uma floresta, como a da região serrana do Rio que serviu de pano de fundo para as filmagens.

“Escolhi a Regiane porque a admiro como atriz, e fico feliz que seja mútuo. Ela  se entrega aos projetos. Acho que, quando a gente consegue perceber afinidade artística, precisamos trabalhar com colegas assim”, diz Gagliasso.