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"Ele queria voltar a filmar", disse viúva de Hugo Carvana

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio

05/10/2014 11h07

“Ele foi um homem que, antes de tudo, era um brasileiro, um carioca considerado a imagem do nosso Rio de Janeiro, um suburbano autêntico que adorava reunir os amigos”, disse Martha Alencar, viúva do ator e diretor Hugo Carvana, que morreu no fim da manhã deste sábado (4).

Segundo infomou a família ao UOL, nesta última semana, Carvana, 77 anos, se encontrava debilitado e já estava internado havia seis dias no Pró-Cardíaco. Ele faleceu por complicações respiratórias devido a um cãncer no pulmão. O cineasta também sofria de mal de Parkinson.

O corpo chegou às 8h no Parque Lage, na zona sul do Rio, onde está sendo o velório. A viúva e os quatro filhos – Pedro, 45; Cacala, 43; Julio, 39 e Rita, 35 – prepararam uma homenagem ao pai com objetos pessoais e e figurinos usados em seus inúmeros filmes.

Seu caixão foi coberto pela bandeira do Fluminense, time de futebol que Carvana era fanático torcedor.

A viúva admitiu que Carvana já apresentava um estado de saúde debilitado, mas mantinha viva a ideia de fazer seu próximo filme “Curto Circuito”. “Era o que o mantinha vivo, ele queria voltar para a quimioterapia e ficar bem. Nem divulgamos muito do tumor no pulmão porque estávamos concorrendo a vários editais. Ele queria voltar a filmar”.

Martha comentou que seus dois últimos filmes – “Casa da Mãe Joana” (2013) e “Não se preocupe, nada mais vai dar certo” (2010) –, Carvana já apresentava dificuldades para dirigir pois enfrentava o mal de Parkinson. “Ele dirigiu sem conseguir andar, mas o set era uma alegria, uma festa. Era isso o que mantinha o Hugo Vivo. Ele sempre dava a volta por cima e foi enfrentando as doenças, mas perdeu para o câncer o qual ele já tinha vencido uma vez em 1996”, relembrou.

Naquele ano, Carvana tinha acabado de filmar o “Homem Nu” e descobriu que estava com câncer no pulmão. “Ele já tinha vencido o câncer há 17 anos e esse realmente foi incidioso, pegou de surpresa. Acabou morrendo de complicaçôes no câncer, estava com muita dificuldade respiratória. Reclamou que não conseguia falar e que não ia conseguir viver sem falar”, emocionou-se.

“Ele tinha uma tribo e era o cacique. Um cara que expressou a  a alma brasileira, a alma do carioca com um humor único e devastador. Mas nunca rompeu com os limites da generosidade e do respeito. Tinha uma visão crítica da mídia e da política”, comentou Martha.

Carvana morreu um dia antes das eleições que ocorrem neste domingo (5) em todo o Brasil. A esposa lembrou que o cineasta sempre se interessava por política. “Ele era muito engajado nas questões políticas. De vez em quando gostava de olhar as pesquisas eleitorais. Ele teria ajudado a montar o ato de apoio a Dilma, mas era engajado com uma visão de Brasil e não partidária. Ele queria o melhor para o Brasil”, disse.

 
Trajetória
 
Carioca, nascido em Lins de Vasconcelos, Zona Norte do Rio, Hugo Carvana de Holanda começou sua carreira artística aos 18 anos fazendo figuração para um filme. Depois disso fez 22 chanchadas. 
 
Em 1954, foi fazer teatro. Encenou "O Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna, em 1958, e mais tarde , "O Pagador de Promessas", de Dias Gomes e "Boca de Ouro", de Nelson Rodrigues, da companhia do Teatro Nacional de Comédia, TNC. 
 
Ainda nos anos 50, participou do Cinema Novo, estreando com Ruy Guerra, em "Os Cafajestes", e depois trabalhando com Cacá Diegues e Glauber Rocha 
 
Carvana tornou-se conhecido do grande público atuando em novelas na televisão. Foi Daniel Filho quem o convidou para seu primeiro trabalho, "Anastácia, a Mulher sem Destino" (1967). de Janete Clair.
 
Foi no cinema que Carvana foi mais reconhecido com o primeiro filme que ele dirigiu, "Vai Trabalhar, Vagabundo", de 1973. Com o longa, ganhou o Kikito de Ouro de Melhor Filme, no Festival de Gramado. 
 
De 1962 a 2013, foram 681 atuações no cinema. Entre elas, "Bravo Guerreiro", de Gustavo Dahl; "A Grande Cidade", "Os Herdeiros", "Quando o Carnaval Chegar" e "Deus é Brasileiro", de Cacá Diegues; "Tenda dos Milagres", de Nelson Pereira dos Santos; "Macunaíma", de Joaquim Pedro de Andrade e Pindorama e "Toda Nudez Será Castigada", de Arnaldo Jabor. O último foi em "Giovanni Improtta", de 2013.