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Irmão mais velho de Javier Bardem morou em Búzios e diz que é "mais feio"

O ator espanhol Carlos Barden participa da sessão de gala do filme "González" no Festival do Rio - Rogerio Resende/R2Foto/Divulgação
O ator espanhol Carlos Barden participa da sessão de gala do filme "González" no Festival do Rio Imagem: Rogerio Resende/R2Foto/Divulgação

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio

10/10/2014 06h15

Os seis anos que distanciam o ator espanhol Carlos Bardem, 51, de seu irmão mais novo, Javier Bardem, não são capazes de diminuir a admiração que o primogênito sente pelos papéis marcantes do caçula, como o psicopata de "Onde os Fracos Não Têm Vez", dos irmãos Coen, e o sedutor Juan Antonio de "Vicky Cristina Barcelona", de Woody Allen.

"Enquanto o Javier joga nas grandes ligas mundiais do cinema, eu sou um ator muito mais modesto", riu o irmão, em entrevista ao UOL, durante o Festival do Rio. "Mas compartilhamos o mesmo método de trabalho, a pretensão de conseguir o click mágico, deixar de ser você e voar para ser outra pessoa. Isso se consegue não apenas com intuição, mas com preparação e interiorização. Isso nós temos em comum. O que não temos em comum é que ele é uma grande, grande, grande estrela mundial, e eu não", disse.

Bardem, o Carlos, não deixa de se comparar ao caçula, por quem cultiva respeito e muito carinho. De passagem pelo Rio de Janeiro para lançar "González", do diretor mexicano Christian Díaz Pardo, falou sobre como encara seus papéis no cinema e não economizou elogios ao irmão.

Família de artistas

"Sou muito mais feio que ele", brincou. "Meu irmão é meu melhor amigo, é meu mestre, não só como ator mas como ser humano.” Os irmãos Bardem vêm de uma família de artistas --a bisavó já era atriz, e o avô, diretor de cinema. “Javier teve isso claro desde muito jovem. Fomos criados nos camarins dos teatros e nos sets de filmagem.”

Ninguém melhor que Carlos para definir o estilo de seu irmão: há porcentagem mínima de atores que são grandes artistas e criadores, “Javier é um desses”. Ele define a arte de encenar como o ofício de um artesão que “põe a sensibilidade, a voz, a imagem, o corpo e a técnica a serviço de um personagem”.

“Admiro muito a vontade do Javier de correr riscos e tento seguir esse caminho. Ele me inspira, claro. A verdadeira magia da atuação é deixar de ser você para ser outra pessoa”, ressaltou.

Bar em Búzios

Em um bate-papo franco no hall do hotel onde esteve hospedado em Copacabana, zona sul do Rio, o ator lembrou-se dos anos em que era dono de um bar em Búzios. Ele contou um pouco de sua trajetória até chegar ao teatro, depois de ter se formado em filosofia e letras e ter trabalhado, inclusive, como comissário de bordo na companhia aérea Iberia. “Trabalhei em muitas coisas, todos os trabalhos que podem existir num bar, eu passei por eles”, riu.

Pela primeira vez no Festival do Rio, Carlos guarda ainda viva a memória dos tempos em que aventurou-se a viver em Búzios, na Região dos Lagos, com um amigo. Isso ocorreu no final da década de 80 e início dos 90.

“Meu amigo tinha um terreno, e a ideia era fazermos uma pousada. Quando chegamos, nos apaixonamos pelo lugar e vimos que éramos mais de bar que de pousada. Deixamos a ideia da pousada de lado e construímos um bar em uma casa velha em ruínas lá na rua das Pedras. Era uma loucura aquilo”, lembrou.

Filmar no Brasil

Apesar de já ter feito alguns trabalhos como ator, Carlos nunca havia se dedicado tanto à profissão quanto Javier. “Eu dei muitas voltas, mas finalmente nos encontramos depois na profissão. Antes, não tinha enfocado como uma profissão com dedicação absoluta”, disse, ao lembrar que o irmão caçula começara antes nas artes cênicas. “Comecei a atuar um pouco tarde, em parte pelos quatro anos da minha vida que passei no bar em Búzios”.

As recordações daquela época são inesquecíveis para Carlos, a ponto de render-lhe um romance. Hoje seu sonho é filmar no Brasil, se possível no próximo ano. “Foi um estilo de vida muito louco e interessante, que valeu para escrever ‘Buziana o el Peso del Alma’ (Buziana ou o peso da alma, em tradução livre)”. Mais recentemente, seu livro foi adaptado para um filme, que será dirigido pelo amigo mexicano Everardo Valerio Gout.

“Queremos filmar aqui no Brasil assim que conseguirmos financiamento. É um thriller ambientado em algum lugar da costa do Brasil, queremos rodar para o mercado internacional nas duas línguas, inglês e português, com muitos personagens brasileiros. Adoraria poder utilizar meu portunhol”, anunciou. O roteiro já está pronto, e Carlos fala, sem cerimônias, que gostaria muito de contar com Wagner Moura no elenco.

Cena do filme "González", de Christian Díaz Pardo - Divulgação - Divulgação
Cena do filme "González", de Christian Díaz Pardo
Imagem: Divulgação

Pastor evangélico

O espanhol parece ser bastante crítico com relação à escolha de seus personagens e garante que não interpretaria nada que fosse contra o que acredita, apenas se tiver a finalidade de denunciar.

Este é o caso do pastor evangélico Elias, que Carlos encarna em “González”. Ele prega a salvação dos fiéis mediante o pagamento de dízimo. Na opinião do espanhol, o filme retrata um fenômeno bastante presente no Brasil e em países latino-americanos, das igrejas evangélicas que apresentam uma alternativa farsante e vendem esperança e salvação em troca de dinheiro.

“Tenho um compromisso comigo mesmo e tento manter. Nunca interpretaria nada que falasse de uma maneira positiva de um fascista, homófobo, racista ou alguém que extorque, mas me parece divertido interpretar se for para denunciá-los e não uma exaltação. Nós atores temos o direito e o privilégio de interpretar aquilo que mais odiamos se for para denunciar”, conclui.