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Novo Drácula diz que seu vampiro é monstro e super-herói ao mesmo tempo

Eduardo Graça

Do UOL, em Nova York (EUA)

22/10/2014 06h15

Um conde Drácula entre “Game of Thrones” e filmes de super-herói. “Drácula - A História Nunca Contada”, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (23) é uma tentativa da Universal Pictures de criar mais uma franquia de ação, liderada por Luke Evans.

O ator de 35 anos, nascido no País de Gales --conhecido do público por encarnar Zeus em “Imortais” e por participações em duas outras produções-em-série, “O Hobbit” e “Velozes e Furiosos”--, é o protagonista da história que promete contar as origens do vampiro mais famoso do folclore europeu.

O espectador encontra o Conde Vlad em seus domínios na Transilvânia em 1467 e recebe uma bem-vinda dose de perspectiva histórica, com a opressão turca e a batalha religiosa nos Bálcãs. Também há efeitos especiais de sobra –uma das cenas mais impressionantes traz Vlad enfrentando sozinho todo um batalhão de janízaros, a elite das forças armadas dos sultões otomanos– e personagens e paisagens místicas, em uma mescla de fantasia com referências medievais que garantiu o sucesso da série televisiva da HBO.

Quando chega para conversar com a imprensa, Evans se depara com dentes de alho colocados pela assessoria do estúdio na mesa a sua frente, localizada em uma suíte de hotel de luxo em Manhattan, com direito a vista para o Central Park. Seu espanto parece genuíno e a gargalhada, demorada, reflete o desejo de bisar a interpretação do musculoso Vlad imaginado pelo diretor irlandês Gary Shore em sua estreia em Hollywood. O filme, não por acaso, teve a maior parte de suas belas locações na Irlanda.

Questionado pelo UOL, o ator de cabelos negros e rosto ossudo admite que sua versão do vampiro tenha uma aura de herói.

"Entendo a conexão com os super-heróis. Meu Drácula é capaz de voar e tem um monte de, bem, outros super-poderes, é verdade", concorda Evans, fazendo a ressalva de que, ainda assim, o personagem continua fortemente calcado na tradição. "Mas todas as referências são da tradição folclórica europeia, não as incluímos simplesmente porque queríamos criar um blockbuster hollywoodiano. Os vampiros são as criaturas da noite e o que fizemos foi incrementar um pouco estes poderes já insinuados e usar o que de melhor tínhamos em termos de tecnologia no cinema contemporâneo", diz.

Se pesa a mão no uso de imagens geradas por computador afim de criar sua Transilvânia fictícia com o cenário real das Ilhas Britânicas, o diretor Gary Shore, por outro lado, decidiu descartar as câmeras 3D, formato que não lhe apraz.

"Fico aliviado de que esta versão da história de Drácula não tenha sido feita em formato 3D. Ela jamais foi pensada para ser em 3D. Esta história não pedia isso, a natureza da trama é fantástica, é entretenimento puro, mas eu quis fazer algo mais clássico", diz ele.

Origem do herói

No filme --que funciona exatamente como uma narrativa de origem nas fórmulas de adaptação de HQs de super-heróis para a tela grande--, os vilões são dois. Um é o sultão otomano vivido por Dominic Cooper, companheiro, em circunstâncias complexas, de Vlad na infância, e agora seu mais feroz inimigo. O outro é o Mestre Vampiro, vivido por Charles Dance, em outra conexão pouco discreta com a série da HBO. Ele é o sórdido Tywin Lannister de “Game of Thrones”.

Trailer legendado do filme "Drácula - A História Nunca Contada"

O Vlad de Evans, por sua vez, só se deixa transformar em um "monstro" para proteger seus súditos da iminente invasão turca. E vive um romance de conto de fadas com sua mulher, vivida pela canadense Sarah Gadon, em interpretação alguns tons acima do que Shore parece ter imaginado para seu filme.

"O filme oferece esta dualidade: é possível ser um super-herói e um monstro ao mesmo tempo?", questiona Evans. "Em determinado momento Vlad diz: 'há situações em que o mundo não precisa de um herói e sim de um monstro'. Ele está tentando encontrar o lado correto desta criatura sinistra que é um vampiro, e lá no século 15. Hoje em dia, para mim, heróis são bombeiros, são enfermeiras, o mundo é outro".

“Drácula - A História Nunca Contada” termina suas 1h36 minutos de batalhas e diálogos pomposos de forma mais ou menos aberta, o prenúncio de uma inevitável sequência. Nos Estados Unidos, o filme, cujo orçamento é estimado em 70 milhões de dólares, não ultrapassou os 40 milhões de bilheteria, abrindo em segundo lugar na estreia. Mas com a ajuda da audiência internacional, já amealhou 136 milhões, números provavelmente suficientes para garantir a continuação da história de Vlad. Ao que tudo indica, nos dias de hoje.

Isso apesar do nariz torcido da crítica, cuja aprovação, de acordo com o agregador RottenTomatoes, não passou de 10%, uma das piores marcas do ano. No “New York Times”, Ben Kenigsberg escreveu que a história lembra um pastiche dos "Batman" de Christopher Nolan, e o novo Vlad é como uma Tempestade dos X-Men, que consegue até mesmo controlar os ventos e nuvens. “Mas buscar a possibilidade de a trama ser plausível em um filme cujo título é "Drácula - A História Nunca Contada" é tão sem-sentido quanto tentar encontrar personalidade ou graça na interpretação de Luke Evans”. Que Batman abra bem os olhos. Ou não.