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Chris Nolan cita "Contatos Imediatos" como influência para "Interestelar"

Eduardo Graça

Do UOL, em Los Angeles

06/11/2014 06h30

Stanley Kubrick ou os irmãos Wachowskis? Nenhum dos dois. A referência que Christopher Nolan mencionou em encontro com a imprensa internacional foi “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, não por acaso um dos clássicos de Steven Spielberg, estabelecendo uma conexão direta entre o Roy de Richard Dreyfuss e o Cooper de Matthew McConaughey em seu “Interestelar”, que estreia nesta quinta (6).

“Eu e meu irmão (o roteirista Jonathan Nolan) conversamos o tempo todo sobre possíveis projetos. Ele sempre sonhou em escrever um filme de ficção científica. Mas o que mais me interessou foi a família que ele criou, a história deste pai, o Cooper, e suas duas crianças. E também a ideia de se fazer um filme sobre o que eu acho ser uma inevitabilidade na evolução do ser humano: o momento em que a raça humana terá de deixar a Terra para trás e encontrar um novo lar no universo. Pensei imediatamente em um dos blockbusters que foram mais importantes para mim em minha infância, ‘Contatos Imediatos’. Lá, também, se aponta para algo que pode ocorrer no futuro, faz você pensar em como vai se sentir quando aquilo de fato ocorrer um dia”, diz o diretor.

Trailer legendado de "Interestelar"

Relação pai e filha

Nolan conta que foi dele a decisão de transformar Murph, a filha de Copper, em, bem, uma menina. Na versão original do roteiro, o personagem para quem Cooper promete um dia voltar, era masculino: “Ora, o que para mim parecia mais real era a relação pai-filha. Sim, eu tenho uma filha, ela se chama Flora e o filme acabou tendo este segundo ‘título’, informal, para nós, ‘Uma Carta para Flora’. O filme é, no fim, sobre a dificuldade de ser pai e deixar as crianças em casa para trabalhar. Claro que no caso de Cooper é uma situação extrema. Mas, quando penso na minha solução, por exemplo, não deixo de rir sozinho: eu levo a Flora para o escritório e para o set. Simples assim”.

O foco de “Interestelar”, garante Nolan, está nas relações humanas, no papel de emoções nada racionais, como o amor e a compaixão, nas mais sofisticadas jornadas planetárias. Uma das decisões mais importantes da trama, não por acaso, se dá em oposição à racionalidade científica. E trará um personagem-surpresa, vivido por Matt Damon.

“As pessoas me perguntam se eu poderia ter vivido o Cooper antes de me tornar pai. Sim, poderia", diz McConaughey. "Mas agora não usei o que eu imaginava ser a paternidade, eu já a exerço, diariamente, ficou mais fácil. Meus instintos e emoções mais realistas, vêm, naturalmente, de quem eu sou. Então, imagino que tenha a ver com o porque ele me convidou para fazer o Cooper e porque eu acreditei que seria um papel extremamente pessoal para mim, alguém de fato próximo”, contou.

Ciência

O ator, que em 1997 protagonizou, ao lado de Jodie Foster, a ficção científica “Contato”, de Robert Zemeckis, cujo roteiro foi cerzido pelo astrofísico Carl Sagan (1934-1996), lembrou da longa conversa que teve, lá se vai uma década e meia, com um dos maiores comunicadores sociais da ciência nos EUA pouco antes de sua morte. “Foram cinco horas de aula informal sobre teorias da expansão do universo e lembro de sair do bate-papo pensando: uau, nosso quintal da existência é muito maior do que eu imaginava. Tive uma conversa similar, ainda que diferente, com o físico Kip Thorne, que foi nosso principal consultor em ‘Interestelar’. Acabou que minha parte favorita do processo de filmagem foram as conversas que, por conta do contato com Thorne, tive com Chris Nolan sobre conceitos, regras, gravidade, tempo, espaço. Saí do filme ainda mais interessado no tema”, disse McConaughey.

Cada conversa com uma mente privilegiada no mundo da astrofísica, dizem elenco e diretor, só aumenta as possibilidades de exploração do tema para o cinema contemporâneo. “Kip e Sagan eram grandes amigos. E não estou diminuindo a importância de Kip para meu filme ao dizer que o pouco que entendo deste tema eu devo à série ‘Cosmos’, criada por Sagan e que via religiosamente na tevê nos anos 80", diz Nolan. "Digo mais: não há nada neste filme que não possa ser entendido por uma criança de 10 anos que, exatamente como eu, veja ‘Cosmos’ hoje em casa".

Jessica Chastain, que interpreta a filha do protagonista quando adulta, diz que as conversas com Thorne foram fundamentais para “entender os meus diálogos”. “Mas tinha uma vantagem em relação a Matthew e Anne, o fato de que meu personagem já havia sido construído e apresentado anteriormente, a Murph jovem. O principal para mim foi me isolar, já que a versão adulta de Murph é resultado de seu afastamento do mundo à sua volta”, diz a atriz.