"A Esperança - Parte 1" arma o tabuleiro para um clímax que nunca acontece
Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) é o rosto da revolução, a voz que vai inspirar uma nação a se revoltar contra a tirania de seu governo. Mas quando “Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1” começa, não há o menor traço da “garota em chamas” que, em dois filmes, passou de vítima em potencial a sobrevivente e combatente calejada. Chorando, acuada em um canto, é como se a personagem perdesse toda a fibra que a fez tão especial em primeiro lugar.
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- http://cinema.uol.com.br/enquetes/2013/11/14/qual-e-a-melhor-serie-infantojuvenil-do-cinema.js
Claro que isso faz parte da jornada da conclusão da saga escrita por Suzanne Collins, que se tornou um dos maiores fenômenos do cinema “jovem adulto” moderno. Ao dividir o terceiro livro em dois filmes, porém, o estúdio Lionsgate, amparado pelo diretor Frances Lawrence (“Eu Sou a Lenda”), fez desta “Parte 1” um longo e verborrágico prólogo de um clímax que promete ser, de fato, eletrizante. Tanto blablablá político e existencial mantém a fidelidade ao texto do livro, mas nos faz pensar se os 123 minutos do filme que estreia nesta quarta (19) não caberiam facilmente em uma horinha.
Assim como outros filmes divididos explicitamente em episódios, “A Esperança - Parte 1” não traz uma experiência completa. Ao contrário de Matrix Reloaded ou o primeiro “Harry Potter e as Relíquias da Morte”, não há aqui um arco completo, uma resolução de parte da trama, algo que configure uma narrativa redonda, mesmo com pontas a ser amarradas na aventura seguinte. A opção de Lawrence foi substituir a ação (aqui praticamente inexistente) por um discurso político e revolucionário que tenta instruir sobre os mecanismos da propaganda, tão importante em um cenário de guerra quanto os próprios combates. Mas a política mostrada em “A Esperança - Parte 1” é ingênua e rasa, sem nunca abraçar o potencial sugerido em sua premissa.
Trailer de "Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1"
Sorte que “Jogos Vorazes” tem em Jennifer Lawrence uma atriz tão poderosa para carregar o peso da série. Ela consegue conferir à Katniss indignação e fragilidade, determinação e autoconfiança. O elenco de apoio é igualmente sólido, com Liam Hemsworth finalmente ganhando destaque (Sam Clafin, por outro lado, é mero coadjuvante de luxo), o grande Philip Seymour Hoffman surgindo como contraponto para Julianne Moore (que entra na série como Alma Coin, presidente do Distrito 13) e Donald Sutherland devorando o cenário com voracidade.
“A Esperança - Parte 1” também quebra o molde de seus antecessores, deixando de lado o conceito dos “jogos” (com competidores isolados em uma batalha por sobrevivência) para abraçar sua vocação como distopia revolucionária. O plot, porém, perde muito tempo na indecisão dos rebeldes em finalmente invadir a Capital e resgatar Peeta Mellark (Josh Hutcherson), que está sendo usado como arma de propaganda do governo ditador. É quando o filme ameaça finalmente pegar fogo, mesmo que Katniss esteja ausente de sua única grande cena de ação.
Ainda acima da média de outros filmes do gênero (como “Crepúsculo”, “Dezesseis Luas” ou “Os Intrumentos Mortais”), “Jogos Vorazes” é ficção científica em seu melhor momento. Mesmo que, para uma experiência de fato satisfatória, seja preciso degustar este aperitivo: quando estiver completo, “Jogos Vorazes: A Esperança” promete ser um filmaço.
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