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Cinderela será rebelde e irreverente, diz Kenneth Branagh; veja o trailer

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  • Suzanne Plunkett/Reuters

    Na animação, a Cinderela e o príncipe nunca se encontram antes do baile. Neste filme, nós os fizemos se encontrarem e nenhum dos dois sabe quem é o outro. Eles se encontram e se conectam nesse momento. Então, a conexão é real e diferente, e não envolve avaliar quanto dinheiro o outro ganha, ou quantas casas tem.

    Kenneth Branagh (foto), sobre a relação entre Cinderela e o príncipe

Natalia Engler

Do UOL, em São Paulo

19/11/2014 12h00

Todos os elementos clássicos estão lá –o sapatinho de cristal, a abóbora que se transforma em carruagem, a fada madrinha, a madrasta má e o príncipe encantado, mas Kenneth Branagh ("Thor", "Hamlet") promete que sua Cinderela trará frescor ao clássico conto de fadas de Charles Perrault, eternizado na animação da Disney de 1950.

Na versão com atores de carne e osso, que ganha seu primeiro trailer nesta quarta (19) (assista acima, com exclusividade), a Gata Borralheira se chama Ella (Lily James), e não tem nada de coitadinha –é uma garota forte, irreverente, generosa e rebelde a sua maneira.

“Acho que ela é inquestionavelmente forte. Nossa Cinderela é romântica, claro, e poética”, afirma Branagh ao UOL por telefone, de Estocolmo. “Acho que ela tem um coração muito generoso. Olha para os outros com compaixão. E tem um tipo diferente de rebeldia, se rebela de uma forma própria, é uma resistência não-violenta. Ela é engraçada, irreverente, bobinha às vezes, mas não simplória. Gosta de si mesma e, mais importante, gosta das outras pessoas, e não pressupõe que o mundo vai decepcioná-la”, conta o diretor e ator inglês, conhecido por suas adaptações da obra de Shakespeare.

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  • Divulgação/Walt Disney Pictures

    Esta Cinderela é feliz, porque, apesar de levar alguns golpes da vida --a perda de entes amados, a ignorância dos outros--, ela também consegue aproveitar cada momento, seja um dia ensolarado, ou andar a cavalo.

    Kenneth Branagh, sobre quem é a Cinderela de seu filme

"Cinderela" tem estreia prevista para 2 de abril de 2015 e traz no elenco Lily James ("Downton Abbey") como Cinderela, Richard Madden (o Robb Stark de "Game of Thrones" como o príncipe, Cate Blanchett como a madrasta e Helena Bonham-Carter como a fada-madrinha.

Leia a entrevista.

UOL - Nos últimos anos, a Disney fez um esforço para mostrar nas telas heroínas que são fortes, independentes, de personalidade --como acontece em "Valente", "Frozen" e Malévola". Sua Cinderela vai integrar essa linhagem?
Kenneth Branagh -
Acho que ela é inquestionavelmente forte. Nossa Cinderela é romântica, claro, e poética. Ela é definida pelo tipo de amor e alegria que seus pais vivenciaram e que ela gostaria de ter, mas também de compartilhar. Ela tem um coração muito generoso, olha para os outros com compaixão. E tem um tipo diferente de rebeldia, se rebela de uma forma própria, é uma resistência não-violenta. Ela é engraçada, irreverente, bobinha às vezes, mas não simplória. Gosta de si mesma e, mais importante, gosta das outras pessoas e não pressupõe que o mundo vai decepcioná-la. Ela sabe que a vida é dura, que coisas ruins acontecem, que perdas, dificuldades, crueldade e ignorância acontecem, mas acredita não na vida como é, mas em como poderia ser se você acreditar na bondade, na coragem e, às vezes, em um pouquinho de magia.

Cinderela - Divulgação - Divulgação
Cartaz de "Cinderela", estrelado por Lily James
Imagem: Divulgação

Você já disse que a sua Cinderela não passaria a ideia de que a vida só vale a pena se um homem rico aparece. Qual é a interpretação que você quis dar a este clássico?
De certo modo, o filme é sobre o que é preciso para ser feliz, e isso que você mencionou não é necessariamente algo que ajuda a ser feliz. É sobre a felicidade estar dentro de você. Esta Cinderela é feliz, porque, apesar de levar alguns golpes da vida --a perda de entes amados, a ignorância dos outros--, ela também consegue aproveitar cada momento, seja um dia ensolarado, ou andar a cavalo. Ela consegue ser divertida, sexy, inteligente e legal. E tem amor próprio, é uma boa companhia, se diverte. Ela não minimiza seus problemas, que são duros, mas não se enxerga como coitadinha. Ao nos aproximarmos do filme, emerge esse tipo de força inspiradora, pessoal, espiritual. E temos Lily James, uma atriz que consegue transmitir isso.

Contos de fadas geralmente fazem tanto sucesso porque têm elementos com os quais as pessoas se identificam, não importa a época. Que elementos você sentiu que deveria manter e o que achou necessário mudar para que o filme fale mais com o público contemporâneo?
É uma pergunta interessante. Por exemplo, queríamos mostrar para o público uma versão crível da maldade da madrasta. Temos uma atriz magnífica, a Cate Blanchett, temos um visual maravilhoso para ela, figurinos incríveis de Sandy Powell. Ela é muito enérgica, mas é complicada, insuportável, e acho que a atualidade vem de não podermos menosprezá-la como uma figura quase caricata. Ela é um ser humano complicado, porque não atrai simpatia, mas você entende como ela pensa. Uma outra coisa que teremos, entre as coisas que já são esperadas, é uma maravilhosa abóbora que se transforma em uma bela carruagem, com os ratinhos e tudo. Damos isso ao público. Uma coisa que não fizemos é que, na animação, a Cinderela e o príncipe nunca se encontram antes do baile. Neste filme, nós os fizemos se encontrarem e nenhum dos dois sabe quem é o outro. Eles se encontram e se conectam nesse momento. Então, a conexão é real e diferente, e não envolve avaliar quanto dinheiro o outro ganha, ou quantas casas tem, ou qualquer coisa relacionada a isso. Acho que isto faz parte de fazer de Cinderela uma mulher independente e de bem consigo mesma. Acho que vamos surpreender as pessoas pela qualidade emocional do filme. É muito, muito tocante. É muito humano, tem muita compaixão. Acredito que o toque contemporâneo e a qualidade emocional são a base para esta versão clássica e para o mundo luxuoso e suntuoso que criamos. E, pegando todos os grandes momentos --o baile, as músicas, a transformação--, com sorte conseguiremos passar isso para o público.

A figura do príncipe encantado se tornou um pouco anacrônica. Como você a adaptou para que ele fosse mais verossímil para o público atual?
Ele tinha que estar de acordo com a história. Tinha que ser um homem pensante e com sentimentos. Ele é responsável e impetuoso, e tem que ganhar o respeito da Cinderela, o amor dela. Seria um privilégio para ele conquistar essa garota, assim como ela teria sorte em conquista-lo, no sentido de que ambos têm um espírito generoso. Ele leva suas responsabilidades a sério, tem obrigações reais e um pai que não ajuda muito, mas é muito masculino, jovial, vigoroso, tem um senso de humor meio selvagem e vivaz, tem bons amigos, é um bom ouvinte, tem sensibilidade sem ser ‘fofinho’. É cheio de masculinidade e, nesse sentido, é um belo complemento para ela. E essa maravilhosa química entre os dois atores, Richard Madden e Lily James, esta paixão, também é perpassada por um senso de humor afiado. Acho que é crucial que, como acontece no nosso filme, eles se conheçam fora do baile, quando não sabem quem é o outro, e isso por si só introduz uma noção de realidade que é diferente de Cinderela aparecer e estar pronta para dançar com qualquer um que esteja vestindo a roupa, o uniforme certo.