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Heroína de "Jogos Vorazes" se firma como a mais interessante do cinema teen

Natalia Engler

Do UOL, em São Paulo

19/11/2014 14h12

Como se não bastasse ter se tornado a heroína de ação mais lucrativa do cinema, segundo o “Guinness Book”, Katniss Everdeen também vem se firmando como a personagem mais interessante entre as das franquias recentes voltadas para o público jovem.

Em um lucrativo filão --que faz os olhos dos executivos de cinema brilharem desde o sucesso de "Harry Potter e a Pedra Filosofal" (2001), mas que também amargou grandes fracassos--, a protagonista de “Jogos Vorazes”, na interpretação de Jennifer Lawrence, apresenta um nível de complexidade que dificilmente é visto em filmes do gênero.

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“Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1”, primeira parte do capítulo final da saga inspirada nos livros de Suzanne Collins, que estreia nesta quarta-feira (19), reafirma esta complexidade.

No filme, encontramos Katniss sofrendo de estresse pós-traumático depois de ser resgatada da edição especial que reuniu os campeões dos Jogos Vorazes. Cobiçada como símbolo de uma revolução pelos rebeldes do Distrito 13 (que todos acreditavam ter sido destruído pela Capital), ela oscila entre a raiva contra aqueles que tentam manipulá-la e a compaixão por todos que sofrem com os abusos comandados pelo presidente Snow (Donald Sutherland) --e que se espelham nela para ter esperança. Além disso, ainda sofre com a culpa por, com suas ações, colocar em perigo seu companheiro de jogos, Peeta (Josh Hutcherson), que é mantido prisioneiro pela Capital.

Esta situação reitera os múltiplos papéis que Katniss desempenha em seu mundo, dificilmente vistos reunidos em uma personagem feminina: ela é atleta, celebridade midiática, guerreira, provedora de sua família, amiga leal e potencial namorada (de Peeta ou Gale), habitando ao mesmo tempo esferas consideradas femininas e masculinas. Mesmo o elemento de romance, que está mais ligado a afeto e lealdade, é secundário, porque Katniss tem coisas muito mais importantes com que se preocupar.

Trailer de "Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1"

Nenhuma de suas “companheiras” no gênero de sagas teen consegue se igualar a isso: o dilema de Bella Swan (da “Saga Crepúsculo”) é basicamente escolher entre o lobisomem e o vampiro como par romântico; Hermione é coadjuvante de Harry Potter, apesar de ser uma personagem interessante; mesmo a Tris (“Divergente”) de Shailene Woodley não consegue se igualar, já que a adaptação cinematográfica do livro deixa a desejar, parecendo uma mistura de elementos que já foram melhor explorados em outras franquias.

Talvez a personagem mais próxima da Katniss dilacerada que vemos em “A Esperança” seja a Lisbeth Salander (Rooney Mara), de “Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres”, filme (e livro) voltado para o público adulto, o que só prova que “Jogos Vorazes” é mais sombrio, complexo e violento do que as outras franquias para jovens.

E violência é o que não falta em “A Esperança”, agora que passamos do campo do reality show homicida para o da rebelião. As verdadeiras batalhas devem ficar para a segunda parte, mas não faltam lembretes de que estamos em um mundo brutal: ossadas de milhares de pessoas mortas na terra natal de Katniss, ataques a um hospital cheio de feridos, personagens transtornados depois de serem torturados.

A mensagem do filme também é muito mais complexa do que costumamos ver em blockbusters feitos para render rios de dinheiro aos estúdios. Ainda é uma alegoria do totalitarismo e da exploração e manipulação das massas em nome de um “bem maior”, mas entramos em uma zona mais cinzenta.

Estamos diante de uma guerra midiática que não é mais monopólio da Capital, os vilões, mas também é travada pelos rebeldes. Mesmo aqueles que são os “bonzinhos” da história usam de manipulação para avançar sua causa --e o Plutarch Heavensbee de Philip Seymour Hoffman é o símbolo máximo disso, sempre pensando em como ampliar o alcance da mensagem dos rebeldes. Ninguém é inocente, e desconfiamos até das intenções da fria líder revolucionária, a presidente Coin (Julianne Moore).

É um cenário sombrio para Katniss, e Jennifer Lawrence entrega uma atuação precisa de uma heroína sempre à beira do colapso, engrandecida ainda pela presença de Seymour Hoffman e Moore. Provando mais uma vez por que é uma das atrizes mais cotadas da nova geração, Lawrence também mostra que a franquia que a lançou ao estrelato é das coisas mais interessantes que se fez para os jovens nos últimos tempos.

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