Travesti na TV e drag no cinema, Sant'anna diz que "comédia traz reflexão"
Uma travesti do subúrbio do Rio de Janeiro praticamente renovou o público e as piadas do humorístico “Zorra Total”, da TV Globo. Por trás da personagem, o ator Rodrigo Sant’anna agora se aventura no cinema. Em seu primeiro papel de protagonista na tela grande, ele volta a usar peruca e carregar na maquiagem para viver a drag queen Gorete Chevalier em “O Casamento de Gorete”, comédia que estreia nesta quinta-feira (27) nos cinemas.
De origem e personalidade completamente distintas da personagem do cinema, a Valéria da TV acabou chamando a atenção do diretor do filme, Paulo Vespúcio, quando ele buscava um ator para viver a apresentadora de rádio, expulsa de casa por ser homossexual. “Estou falando de um universo que eu já brincava na TV. Elas são primas-irmãs”, conta Sant’anna, ao UOL.
Tanto Valéria quanto Gorete são tipos excluídos na vida real, mas cedem, cada uma a sua maneira, toda a diversidade, arte e humor (além dos perrengues) para a ficção. Para Sant’anna, o universo gay ainda é tabu para plateias conservadoras, mas o riso ainda é o melhor caminho para tocar em assuntos polêmicos.
“O bobo da corte, lá atrás na história, era o único homem na monarquia que podia satirizar situações. A comédia, de alguma maneira, leva [questões polemicas] para o espectador de maneira leve, por mais preconceituoso que ele seja”, opina. “A comédia satiriza e de alguma maneira faz refletir sobre temas que, se fossem tratados de maneira séria, seria um pouco maçante, panfletário”.
Rejeitada, Gorete decide abandonar a família e o colega por quem estava apaixonada. Anos depois, após a morte do pai, ela descobre que precisará se casar para conseguir receber a herança. Ela ainda conta com a ajuda dos amigos gays Domitila (Tadeu Melo) e Marivalda (Ataíde Arcoverde). Letícia Spiller também faz uma ponta no papel de outra drag queen.
As piadas, assim como na TV, estão todas lá, e o ator diz não se preocupar com o tom de cada gracejo. “Eu procuro ser sincero, verdadeiro no que o cotidiano está dizendo. E se aquilo vai afetar alguém, eu procuro retratar uma verdade. Minha preocupação é sempre essa, e não se vou esbarrar em um pré-conceito ou situação”.
Para ele, o trabalho no cinema abriu espaço para a veia dramática e um mergulho mais profundo no personagem – algo pouco explorado na televisão, principalmente em personagens do universo LGBT. “Sem dúvida, as pessoas vão identificar coisas da Valéria na Gorete, mas o cinema me deu a possibilidade de tocar em lugares mais sutis, em outras emoções”, conta.
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