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"A Disney absorveu mais de nós do que nós deles", diz presidente da Pixar

Cenas das animações "Valente" (2012) e "Frozen" (2013), respectivamente da Pixar e da Disney, que são bom exemplo de como os estilos dos dois estúdios vêm se aproximando nos últimos anos - Divulgação
Cenas das animações "Valente" (2012) e "Frozen" (2013), respectivamente da Pixar e da Disney, que são bom exemplo de como os estilos dos dois estúdios vêm se aproximando nos últimos anos Imagem: Divulgação

Natalia Engler

Do UOL, em São Paulo

09/12/2014 06h15

A Disney e a Pixar sempre andaram lado a lado muito antes da gigante do entretenimento comprar a produtora responsável por colocar a tecnologia digital nos cinemas, em 2006. Mas engana-se quem acha que a companhia desenvolvida por Steve Jobs e Edwin Catmull foi obrigada a absorver a cultura criada por Walt Disney.

“Para falar a verdade, acho que a Disney absorveu mais de nós do que nós absorvemos da Disney”, disse Jim Morris, presidente da Pixar, durante visita ao Brasil. Recém-promovido à presidência, Morris está na Pixar desde 2005 e acompanhou de perto a relação das duas produtoras, que diz ser muito amigável.

Jim Morris - Deborah Coleman/Divulgação - Deborah Coleman/Divulgação
Jim Morris, presidente da Pixar, nos estúdios da companhia em Emeryville, na Califórnia
Imagem: Deborah Coleman/Divulgação

“A primeira coisa que acho que foi importante para a Walt Disney Animation é que Ed Catmull e John Lasseter, que são meus chefes, foram convidados a revigorar o estúdio, porque eles estavam passando por um período meio de ‘seca’ criativa e seus filmes tinham decaído um pouco”, diz Morris, referindo-se aos fundadores da Pixar, que hoje são respectivamente presidente e chefe criativo dos dois estúdios.

“John e Ed pegaram muitas das mesmas filosofias que usaram para desenvolver a Pixar para tentar revigorar os longas de animação da Disney. E fizeram um trabalho fantástico. Os filmes recentes da Disney Animation foram ótimos e muito bem-sucedidos. Nunca vi uma virada criativa como essa em uma companhia”, acredita Morris. E com razão, já que as bilheterias das produções da Disney vêm crescendo desde “Bolt: Supercão” (2008), culminando com o sucesso estrondoso de “Frozen”, animação mais bem-sucedida da história, ultrapassando “Toy Story 3”, da Pixar.

Se a Disney se beneficiou e evoluiu com a parceria, para Morris, a Pixar continua basicamente a mesma. “Nós nos mantivemos basicamente os mesmos. Trabalhamos muito próximo deles, mas nossa cultura é muito distinta. Gosto de pensar que os ajudamos muito e gostamos de trabalhar com eles, mas não acho que nossa cultura mudou muito como resultado”.

Essa cultura que é tão enfatizada pelo executivo resultou em algo que aproxima os dois estúdios no dia a dia: a prática de mostrar as produções de um estúdio ao conselho criativo do outro, para receber “pitacos”. Chamados de “story trust” (na Disney) e “brain trust” (na Pixar), esses conselhos servem para apontar falhas e problemas nas animações, e fazem parte da cultura Pixar introduzida na Disney por Lasseter.

“O papel que temos um para o outro é de trazer um olhar fresco aos filmes e ajudar a resolver qualquer questão de história ou personagem. Temos uma relação muito amigável”, explica Morris, enfatizando que as duas produtoras não costumam trabalhar diretamente juntas.

A peixinha Dory, protagonissta de "Procurando Dory", que será lançado em junho de 2016 - Divulgação - Divulgação
A peixinha Dory, protagonissta de "Procurando Dory", que será lançado em junho de 2016
Imagem: Divulgação

Franquias

Morris também ressalta que a Disney interfere bem pouco na maneira em que a Pixar trabalha e nos filmes que decide fazer, o que talvez seja uma das razões para o estúdio ter tão poucas franquias no currículo –dos 14 filmes lançados até hoje, apenas quatro foram sequências. Mas esta relação deve mudar nos próximos anos, com mais quatro sequências entre as dez produções já confirmadas.

“Acho que é mais coincidência, para ser honesto. A Disney não nos diz que filmes fazer e pede muito pouco de nós nesse quesito. Eles nos pedem sim que façamos bons filmes, mas é essa é a exigência. A maneira em que escolhemos nossos filmes na Pixar tem a ver com o que é a paixão do diretor”, conta Morris.

“Algumas empresas fazem sequências porque estão procurando uma maneira de ganhar dinheiro. Mas todos os nossos filmes foram muito bem sucedidos. Então, realmente não precisamos fazer isso. Conseguimos focar no que o cineasta quer fazer. E apoiamos isso, somos um estúdio guiada pelos cineastas. Às vezes eles têm uma nova ideia com a qual estão animados, outras vezes querem explorar um mundo em que já estivemos”, explica.

Um exemplo disso foi a decisão de produzir a sequência de “Procurando Nemo”. Previsto para junho de 2016, “Procurando Dory” vai se passar seis meses depois do primeiro filme e foca na busca de Dory por sua origem, que ela descobrirá estar ligada a uma instituição de preservação da vida marinha na Califórnia.

“Andrew Stanton fez 'Procurando Nemo' há um bom tempo e fez muitos filmes no meio tempo. E não tinha nenhuma intenção de fazer uma sequência, não foi pedido que fizesse, mas ele teve uma ideia que o deixou animado, que é a ideia do 'Procurando Dory'. Eles costumam depurar essas ideias por um bom tempo, mas conforme avançou, ele ficou animado em fazer esse filme, então apresentou a ideia a nós. Era uma boa história e gostamos. Choramos quando ele contou a história, porque era muito sentimental. É assim que escolhemos nossos filmes”, conclui.

Além de “Procurando Dory”, a Pixar já confirmou para os próximos anos duas outras três sequências: “Carros 3” e “Os Incríveis 2”, ambos sem data de estreia, e “Toy Story 4”, previsto para junho de 2017. Antes disso, porém, o estúdio levará às telas em 2015 duas produções originais: “Divertida Mente”, animação cujos personagens principais são as emoções de uma garotinha, e "O Bom Dinossauro", que explora o que teria acontecido se um asteroide não tivesse exterminado os répteis.