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"Divertida Mente" é filme corajoso sobre tristeza, diz presidente da Pixar

Natalia Engler

Do UOL, em São Paulo

09/12/2014 06h15

Depois de passar dois anos sem lançar um longa de animação –fato inédito desde 2006--, a Pixar retornará aos cinemas em 2 de julho de 2015 com “Divertida Mente”, uma animação protagonizada pelas emoções da garotinha Riley –Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Nojinho--, que comandam os comportamentos, reações e memórias a partir de um centro de comando na mente.

“Acho que é muito corajoso fazer um filme em que é a Tristeza quem salva o dia”, afirmou Jim Morris, presidente da Pixar, durante visita ao Brasil.

Na trama, apesar de Riley ser uma garota alegre, a pré-adolescência e uma mudança de cidade bagunçam as coisas na mente da menina, levando a um desentendimento que coloca a Alegria e a Tristeza para fora do centro de comando e em uma jornada pelas diversas regiões da mente. Em duas cenas inéditas assistidas pelo UOL já fica evidente que a animação bebe em fontes espinhosas –como a psicanálise e a neurociência-- e toca em temas delicados, como a depressão, sem deixar de lado a riqueza visual e o humor que caracterizam as produções da Pixar.

“A Alegria sempre tenta arrumar as coisas, mas é a Tristeza quem colabora para que tudo funcione. E é uma ideia complexa, estávamos muito preocupados. Mas fizemos uma exibição com algumas crianças e elas todas entenderam tudo. Acho que há muito pouco que as crianças não entendem. Elas solucionam as coisas, são muito espertas e às vezes entendem até melhor do que os adultos”, acredita.

Se as crianças entenderam bem a ideia do filme, talvez seja porque ele foi inspirado em uma delas: a filha do diretor Pete Docter.

“Pete Docter observou sua filha crescer, e ela era essa criança feliz. Mas, de repente, entrou na pré-adolescência e começou a ficar pelos cantos, amuada. Ele se perguntava: 'o que aconteceu com a minha garota?’”, conta Morris, descrevendo um comportamento muito parecido com o de Riley nas cenas do filme.

“As coisas que acontecem no filme são muito genuínas. Mas o que levou Pete a essa ideia, depois de pesquisar, é que, mesmo que queiramos que as pessoas sejam felizes e alegres, elas têm que ficar tristes às vezes. E ele percebeu que tinha que deixar sua filha passar um pouco por aquilo para ajudar no processo de crescimento e em seu equilíbrio. Ela não tinha que ser sempre feliz e animada. Há algo curativo em chorar e passar por um período de tristeza para chegar ao próximo estágio”, acredita Morris.

Teaser dublado de "Divertida Mente"

“Toy Story 4”

Depois de “Divertida Mente”, a Pixar ainda tem muito trabalho pela frente, lançando dois filmes por ano até pelo menos 2018. “Também temos muita coisa em desenvolvimento sobre as quais ainda é muito cedo para falar. Na verdade, acho que é o melhor horizonte que já tivemos, no sentido de que temos projetos muito para o futuro já com diretores trabalhando neles, mais do que tivemos no passado”, adianta Morris.

Se alguns projetos ainda estão muito crus para serem revelados, outros já estão dando o que falar, como é o caso do quarto filme de “Toy Story”, anunciado há um mês --uma das poucas franquias nas quais o estúdio investiu, porque a maneira em que a Pixar escolhe seus filmes, segundo Morris, “tem a ver com o que é a paixão do diretor”.

Cena da animação "Toy Story 3" - Divulgação - Divulgação
Cena da animação "Toy Story 3"
Imagem: Divulgação

“'Toy Story 4' é um bom exemplo. Nós tínhamos decidido que não faríamos mais filmes porque achamos que os três primeiros foram muito bons e funcionavam bem como uma trilogia”, explica. “John [Lasseter, chefe criativo das animações da Pixar e da Disney e diretor do primeiro ‘Toy Story’], Ed [Catmull, fundador da Pixar e presidente das divisões de animação da Disney] e Pete [Docter, roteirista do primeiro filme] decidiram que não faríamos mais a não ser que alguém tivesse uma ideia que fosse irresistível. E tiveram!”, conta, animado.

“Andrew Stanton [roteirista dos três ‘Toy Story’] teve uma ideia e a trabalhou com John. E John, que agora supervisiona todas as companhias, gostou tanto que quis dirigir e está muito animado. Tentamos impedi-lo, para falar a verdade, porque precisávamos dele fazendo muitas outras coisas. John é uma pessoa única na história do cinema, porque é um ótimo diretor e fez ótimos filmes, mas também preparou um grande grupo de diretores na Pixar e na Disney. E gostamos que ele faça isso. Mas ele no fundo é um artista e, quando se apaixona por um projeto, você tem que sair do caminho”, explica Morris sobre o retorno de Lasseter à direção.

Sem querer dar muitos detalhes sobre a trama, o presidente da Pixar revela que o novo filme será um romance e trará de volta Woody, Buzz e companhia, mas também vai introduzir novos personagens e cenários.

“Apesar de ser tecnicamente uma franquia e parte do mundo de 'Toy Story', não é parte daquelas três histórias originais. É um novo capítulo naquele mundo. É uma história de amor entre dois personagens, e é muito charmosa e diferente. Temos ótimos roteiristas trabalhando com a nossa equipe, Rashida Jones e Will McCormack [de “Celeste e Jesse para Sempre”], e eles estão trazendo um toque muito contemporâneo para o filme. São jovens roteiristas e trazem uma cara diferente, que é muito inovadora e revigorante”, revela.

“Os Incríveis 2”

Além de “Toy Story”, a Pixar também vai trazer de volta seu time de super-heróis para competir com a onda de filmes do gênero que tomará os cinemas nos próximos anos.

filme "Os Incríveis" - Reprodução - Reprodução
Personagens do filme "Os Incríveis", que voltarão em sequência ainda sem data de estreia
Imagem: Reprodução

“Nosso filme de super-heróis é 'Os Incríveis 2', mas, olhando com cuidado para quando Brad Bird fez o primeiro longa, era na verdade sobre uma família crescendo e passando por coisas, e a ideia de que são super-heróis no começo, mas são colocados de lado e tentam levar vidas normais. Acho que é isso que é muito diferente da maioria dos filmes de heróis. É muito humano e coloca esses personagens nas mesmas situações que todos nós vivemos todos os dias, deixa com os pés no chão e diz algo sobre nós mesmos e como lidamos com nossas famílias, como vivemos e crescemos”, acredita Morris.

Ele explica que o novo filme ainda não tem data de estreia, mas certamente será lançado ainda em meio à avalanche de heróis que chegarão ao cinema até 2020.

“Sempre acho que, se você faz um bom filme, vai achar seu público”, diz Morris sobre a concorrência. “Então, vamos seguir em frente. Somos muito amigos da Marvel, Kevin Feige é um grande amigo meu, eles fazem ótimos filmes, e há muitos filmes de super-heróis por vir. Mas o nosso é diferente. Com sorte, teremos espaço para todos nós”, conclui.