Topo

Com ingresso a R$ 0,25, Festival de Havana enche grandes salas

Benicio del Toro deixa uma sessão de cinema durante o Festival de Cinema de Havana - Ernesto Mastrascusa/Divulgação
Benicio del Toro deixa uma sessão de cinema durante o Festival de Cinema de Havana Imagem: Ernesto Mastrascusa/Divulgação

Thiago Stivaletti

Do UOL, em Havana (Cuba)

17/12/2014 18h38

Criado há 36 anos, o Festival de Cinema Latinoamericano de Havana é um microcosmo da realidade social no país. A face mais visível do regime socialista dos irmãos Castro, o acesso à saúde e à cultura, está lá. O ingresso para um filme do festival custa apenas dois pesos cubanos – cerca de 25 centavos de real, contra 20 reais em São Paulo. Também é possível adquirir uma cartela que dá direito a assistir 15 filmes por 20 pesos cubanos – cerca de R$ 2,50.

O resultado é que salas gigantes do centro de Havana, como o Cine Yara, com 2.800 lugares, formam filas gigantescas que dobram o quarteirão mesmo para sessões às 16h de um dia de semana. Filmes cubanos – como "Venecia", uma comédia à la Almodóvar sobre três amigas cabeleireiras que sonham em abrir o próprio salão, ou "Fátima o el Parque de la Fraternidad", dirigido pelo ator Jorge Perugorría – são as mais concorridas, deixando centenas de pessoas de fora.

Fachada do cine Yara, em Havana (Cuba), com 2.800 lugares - Thiago Stivaletti - Thiago Stivaletti
Fachada do cine Yara com 2.800 lugares
Imagem: Thiago Stivaletti
Como a internet é item raríssimo (e caro) na ilha, nem pense em consultar as sinopses e a programação no site do festival. Um pequeno jornal com os horários é afixado na entrada de cada sala de cinema, e os cubanos se acotovelam para consultá-lo. Só é possível saber a programação até o dia seguinte – ela vai sendo divulgada a conta-gotas.

Mas o outro lado do regime cubano, o embargo a filmes que não interessam ao governo, também pode ser sentida. Este ano, "Retorno a Ítaca", longa do francês Laurent Cantet rodado na ilha, sobre amigos que se reencontram e fazem um ajuste de contas depois que um deles retorna do exterior, foi retirado do festival sem a mínima explicação.

Segundo Zita Morriña, diretora de programação do festival, os 290 longas do festival atraem entre 300 mil e 400 mil espectadores todo ano. "Nossa maior dificuldade é a falta de projetores digitais. São apenas três, dois deles alugados, para 18 salas do circuito", conta. A solução é exibir boa parte dos filmes em Blu-Ray, uma vez que as cópias em 35mm praticamente não existem mais para os filmes contemporâneos, apenas para as retrospectivas.

Este ano, o festival exibiu oito longas de ficção e cinco documentários brasileiros, entre eles "Casa Grande", de Fellipe Barbosa, e "A História da Eternidade", de Camilo Cavalcante. "Praia do Futuro", de Karim Ainouz, despertou uma especial curiosidade nos cubanos, porque Wagner Moura é o vilão da novela "Paraíso Tropical" (2007), que atualmente passa duas vezes por dia na TV cubana.

O Brasil saiu com sete prêmios do festival, entre eles o de melhor música original e som para "Praia do Futuro" e melhor contribuição artística num longa de estreia para "Obra", de Gregorio Graziosi.