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Paulo Coelho oferece US$ 100 mil à Sony para distribuir "A Entrevista"

James Cimino e Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

18/12/2014 18h06

O escritor Paulo Coelho surpreendeu seus seguidores nesta quinta (18) ao oferecer à Sony US$ 100 mil para adquirir os direitos sobre o longa "A Entrevista", cujo lançamento foi cancelado depois que hackers norte-coreanos invadiram os sistemas do estúdio e divulgaram informações confidenciais.

"Vou postar (o filme) de graça no meu blog. Por favor, entre em contato comigo via Sony Pictures do Brasil", publicou o escritor brasileiro, que já vendeu mais de 165 milhões livros no mundo, em sua conta no Twitter.

Em seguida, o autor de "O Alquimista" completou: "A oferta para a Sony Pictures vale até as 12h desta sexta-feira. Vocês recuperam 0,01% do orçamento, e eu posso dizer 'não' para ameaças terroristas".

O escritor conversou com a reportagem do UOL nesta quinta-feira (18) explicando o motivo de sua proposta.

"Eu acho uma ameaça a qualquer artista em qualquer lugar do mundo. Na minha juventude acompanhei o caso de Salman Rushdie [autor do polêmico livro "Versos Satânicos"]. Os editores suspenderam, mas depois resolveram publicar. Foi um horror. Teve editor assassinado, teve livraria queimada, mas a liberdade de expressão foi mantida. A Sony abriu um precedente terrível", disse o escritor brasileiro.

Coelho disse ainda acreditar que a Sony não aceitará sua proposta por temer o vazamento de mais informações sigilosas. "Liguei para eles para saber se tinham uma resposta, mas até agora nada. Tem muita gente hoje vivendo sob o império do medo."

Questionado se não tinha medo de sofrer um ataque de hackers, o autor respondeu: "Claro que sim! Se eles hackearam a Sony, imagina meu blog? A precaução que tomei foi fazer um backup!"

Estrelado por James Franco e Seth Rogen, que também dirige, o longa é orçado em US$ 42 milhões. A expectativa da Sony era que atingisse cerca de US$ 100 milhões em bilheteria.

Após o cancelamento da comédia, que acompanha dois jornalistas recrutrados pela CIA para assassinar o líder norte-coreano Kim Jong-il, o criador de "Game of Thrones", George R. R. Martin, também se solidarizou à causa, oferecendo uma sala de cinema para lançar o filme.

O caso

Sob a ameaça de ataques terroristas de hackers, a Sony Pictures chocou Hollywood ao cancelar a estreia do filme "A Entrevista", com Seth Rogen e James Franco, na quarta-feira (17). Quem apostava apenas no adiamento do lançamento, recebeu a notícia com espanto. "A Sony Pictures não tem planos futuros de lançamento para o filme", disse o porta-voz do estúdio.

A estreia da comédia também está cancelada "até segunda ordem" no Brasil, segundo a assessoria de imprensa do estúdio no país. O filme estava programado para estrear em circuito nacional no dia 29 de janeiro. Na comédia, James Franco e Seth Rogen interpretam dois jornalistas recrutados pela CIA para exterminar o líder norte-coreano Kim Jong Un.

Anteriormente, a Sony estava estudando lançar "A Entrevista" online, sob demanda. No entanto, de acordo com a "Variety", o filme não deve ser lançado nem em DVD, em uma decisão sem precedentes na história de Hollywood. Segundo o site especializado "The Wrap", o prejuízo do estúdio pode chegar a US$ 90 milhões (cerca de R$ 230 milhões).

A Sony divulgou também que não irá lançar em março, como previsto, o longa "Pyongyang", do diretor Gore Verbinski, estrelado por Steve Carell. Baseado na graphic novel de Guy Delisle, o suspense retrata experiências de um ocidental que trabalha na Coreia do Norte por um ano.

Nesta semana, hackers denominados Guardians of Peace chegaram a ameaçar a Sony caso o filme fosse lançado, evocando, de forma obscura, os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Os hackers, que disseram também ser responsáveis por invadir os sistemas da Sony Corp no mês passado, alertaram na terça-feira (16) para que as pessoas ficassem longe dos cinemas que exibissem o filme estrelado por Franco e Rogen. "Recomendamos que vocês se mantenham distantes desses lugares nesse período", escreveram os hackers. "Se sua casa for próxima, é melhor você sair."