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Herdeiro dos filmes de espionagem, "Kingsman" abraça vertente fantástica

Roberto Sadovski

Do UOL, em São Paulo

05/03/2015 10h08

Com seu herói elegante, locações exóticas, gadgets mirabolantes e um vilão megalomaníaco, "Kingsman: Serviço Secreto", que estreia nesta quinta (5), é uma adição de peso ao nobre e seleto grupo de filmes de espionagem. Colin Firth é Harry Hart, membro de uma organização que opera nas sombras, obrigado a recrutar um jovem com potencial para se tornar um espião e, se for o caso, salvar o mundo. James Bond e Jason Bourne em seu DNA, o filme de Matthew Vaughn ("X-Men: Primeira Classe", "Kick-Ass") é diversão acelerada e um novo caminho para o gênero.

O Homem Que Sabia Demais - Divulgação - Divulgação
Cena de "O Homem Que Sabia Demais" (1934), de Alfred Hitchcock
Imagem: Divulgação

Britânico de nascimento, popularizado não só no cinema, mas na TV e também na literatura, o "spy movie" surgiu ainda durante a Primeira Guerra Mundial, apostando na paranoia que surge na sombra dos grandes conflitos. Foi Alfred Hitchcock quem ajudou a popularizar a temática ainda nos anos 1930, apostando em suspenses como "O Homem que Sabia Demais" (1934) e "Os 39 Degraus" (1935), que não raro colocavam um sujeito comum em situações extraordinárias. A Segunda Guerra e sua imediata conclusão trouxeram aventuras de agentes aliados na Europa ocupada pelos nazistas, retratando então um mundo claramente dividido entre bons e maus.

Já a Guerra Fria introduziu uma enorme área cinzenta no gênero, e também criou seu maior expoente. Embora a literatura de John le Carré e Len Deighton já apresentasse espiões realistas e nada heroicos, em 1962 a criação literária de Ian Fleming ganhou o corpo de Sean Connery e os cinemas com "007 Contra o Satânico Dr. No". Com Connery, James Bond misturou perigo e sofisticação com aventuras cada vez mais fantasiosas e bem humoradas –quando Roger Moore assumiu o papel, podia se esperar que a qualquer momento Bond daria uma piscadela direto para a plateia.

007 Contra o Satânico Dr. No - Divulgação - Divulgação
Ursula Andress e Sean Connery em cena de "007 Contra o Satânico Dr. No"
Imagem: Divulgação

O sucesso avassalador de James Bond deu origem a diversos imitadores, tanto no cinema quanto na TV. Derek Flint (James Coburn) não fugia da paródia, assim como o elegante Matt Helm (Dean Martin). A TV americana logo entrou na brincadeira com "O Agente da UNCLE" e "Sou Espião". Maxwell Smart, o Agente 86, foi protagonista de uma das sátiras mais populares do gênero, encontrando um herdeiro digno em Austin Powers, que na pele de Mike Myers encabeçou uma trilogia de sucesso.

Os filmes de espionagem sofreram com o final da Guerra Fria, já que o inimigo misterioso atrás da Cortina de Ferro perdeu fôlego com a queda do Muro de Berlim. Ainda assim, a adversidade forçou o gênero a se reinventar, substituindo os espiões da União Soviética por terroristas sem bandeiras como os vilões da vez. Tom Cruise foi bem sucedido em abraçar o mundo moderno ao adaptar a série de TV "Missão Impossível", criando um espião moderno e aventureiro na figura de Ethan Hunt.

Austin Powers - Divulgação - Divulgação
Imagem do filme "Austin Powers - 000 Um Agente Nada Discreto"
Imagem: Divulgação

As fantasias exageradas de Bond pareciam deslocadas no cinema moderno antes de Daniel Craig encabeçar o reboot "Cassino Royale" em 2006, e Hollywood tentou preencher o vácuo de duas formas. A primeira foi canhestra, colocando Vin Diesel como um espião “moderno” em "Triplo X", que parecia escrito por um comitê que tentava descobrir o que a plateia queria em um filme do gênero. Melhor sorte teve Matt Damon, que acertou em cheio como Jason Bourne em três filmes espetaculares, baseados no personagem dos livros de Robert Ludlum.

Cassino Royale - Divulgação - Divulgação
Daniel Craig em cena de "007 - Cassino Royale"
Imagem: Divulgação

O cinema de espionagem contemporâneo parece ter encontrado seu equilíbrio. Existe espaço para dramas sérios como "O Alfaiate do Panamá" (adaptado do livro de John le Carré, com um Pierce Brosnan brilhante), "Syriana" (que deu um Oscar a George Clooney em 2005), "O Espião Que Sabia Demais" (mais um Le Carré, desta vez com Gary Oldman no papel do espião meticuloso George Smiley) e "Argo", dirigido e protagonizado por Ben Affleck. Há também demanda por fantasias escapistas como a série "Pequenos Espiões", de Robert Rodriguez, bobagens como "Salt" (2010, com Angelina Jolie) e "Encontro Explosivo" (também 2010, com Tom Cruise), e a série "RED", com Bruce Willis.

"Kingsman" se encaixa na última categoria. Ainda traz o pedigree moderno de ser uma adaptação de histórias em quadrinhos (de Mark Millar e Dave Gibbons) e de abraçar o melhor de todos os mundos. Apesar de ser uma fantasia rasgada, o filme de Matthew Vaughn não alivia na violência e traz um vilão, embora maluco, mais preocupado em salvar que em destruir o mundo. E Colin Firth, honestamente, fica muito bem com um terno e uma licença para matar.

Trailer de "Kingsman - Serviço Secreto"