Topo

Sem latinos, Cannes terá Woody Allen e Amy Winehouse fora da competição

Thiago Stivaletti

Do UOL, em São Paulo

16/04/2015 06h37Atualizada em 16/04/2015 09h52

Lars Von Trier, Pedro Almodóvar, Michael Haneke, Abbas Kiarostami. Essa é lista dos cineastas que você NÃO vai ver no Festival de Cannes este ano. Há muitos anos o festival não apresentava uma seleção tão sem grandes nomes para atrair os holofotes da imprensa. “Os grandes autores não estão em atividade, por isso tivemos que ir atrás de novos talentos”, declarou o delegado-geral do festival, Thierry Frémaux.

Outro fato que chama a atenção na lista de filmes selecionados para a competição oficial é a ausência do cinema latino-americano, que vinha marcando presença nos últimos anos --em 2014, o argentino "Relatos Selvagens" foi um dos destaques. Apenas um título da América Latina aparece na mostra paralela Um Certo Olhar, o mexicano "Las Elegidas", de David Pablos.

Com a lista anunciada hoje, o Brasil não aparece na seleção oficial pelo terceiro ano consecutivo –a última vez foi com “Na Estrada”, produção internacional de Walter Salles falada em inglês. Há a expectativa de que o novo filme de Hector Babenco, “Meu Amigo Hindu”, com Willem Dafoe, ainda apareça na lista.

Na competição pela Palma de Ouro, o nome mais forte é o de Gus Van Sant (“Elefante”), com “Sea of Trees” (Mar de Árvores), drama em que Matthew McConaughey vive um americano suicida que faz amizade com um japonês numa floresta próxima ao Monte Fuji.

Fora de competição, Woody Allen vai estrear sua nova comédia, “O Homem Irracional”, em que Joaquin Phoenix vive um professor de filosofia que se apaixona pela aluna Emma Stone. Em sessão especial, está também o aguardado documentário sobre a cantora Amy Winehouse. “Amy” é dirigido por Asif Kapadia, o mesmo do documentário sobre Ayrton Senna.

Ainda na competição, outros dois filmes americanos devem fazer barulho: “Sicario”, de Denis Villeneuve (“Os Suspeitos”), policial com Josh Brolin; e “Carol”, primeiro filme de Todd Haynes desde “Não Estou Lá” (2007) --um drama estrelado por Cate Blanchett e adaptado de um livro de Patricia Highsmith (“O Talentoso Ripley”). No entanto, em número de títulos, predomina o cinema europeu, com cinco filmes franceses, três italianos e um dinamarquês, além de longas da Hungria e Grécia. A lista também inclui oito trabalhos de cineastas estreantes, que concorrem à Câmera de Ouro.

Trailer em inglês do documentário "Amy"

Vencedora do Oscar de melhor atriz por “Cisne Negro”, Natalie Portman mostra no festival seu primeiro longa como diretora, “A Tale of Love and Darkness” (Um Conto de Amor e Trevas), um drama todo falado em hebreu e inspirado nas memórias do escritor Amos Oz. Natalie também está no elenco.

Duas animações de peso também vão passar pelo tapete vermelho de Cannes antes de estrear mundialmente: “Divertida Mente”, da Pixar, do mesmo diretor de “Up - Altas Aventuras”; e “O Pequeno Príncipe”, adaptado do livro de Saint-Exupéry, do diretor de “Kung Fu Panda”. Também estreia em Cannes o remake "Mad Max: Estrada da Fúria".

Para os cinéfilos, porém, a seleção de Cannes continua um prato cheio, com alguns mestres consagrados: o chinês Jia Zhang-Ke (“Mountains May Depart”), o japonês Hirokazu Kore-Eda (“Nossa Pequena Irmã”), o italiano Nani Moretti (“Mia Madre”, ficção autobiográfica sobre a mãe do diretor) e o chinês Hou Hsiao Hsien, cujo suspense “O Assassino” levou oito anos pra ficar pronto.

A Itália tem a sua melhor entrada na competição em toda a história do festival, com três filmes. Além de Moretti, Paolo Sorrentino (Oscar de melhor filme estrangeiro com “A Grande Beleza”) volta com “La Giovinezza” (A Juventude), com um elenco peso-pesado de veteranos de Hollywood: Jane Fonda, Michael Caine e Harvey Keitel. E há ainda Matteo Garrone (“Gomorra”) com “Il Racconto dei Racconti” (O Conto dos Contos), estrelado por Salma Hayek e Vincent Cassel. Os diretores são italianos, mas os dois últimos são falados em inglês.

Uma das sinopses mais intrigantes é a de “The Lobster”, primeiro filme em inglês do grego Yorgos Lanthimos (“Dente Canino”). Num futuro distópico, as pessoas solteiras são obrigadas a encontrar um namorado em 45 dias. Se não conseguirem, são transformadas em animais e soltos na floresta. O elenco tem Colin Farrell, Rachel Weisz (Oscar por “O Jardineiro Fiel”) e Léa Seydoux (“Azul É a Cor mais Quente”).

O delegado geral de Cannes, Thierry Frémaux, disse que o anúncio de hoje contempla 90% da seleção, e que novos filmes devem ser anunciados ao longo dos próximos dias –ao menos mais dois na competição pela Palma de Ouro. Apesar da falta de grandes nomes, ele defendeu que a competição este ano é “bela, nova e arriscada”. “Mas muitos ainda estão sendo finalizados neste momento, por isso vamos aguardar um pouco mais pra anunciá-los”. 

Cartaz do 68º Festival de Cannes - Divulgação - Divulgação
Ingrid Bergman estampa cartaz do 68º Festival de Cannes
Imagem: Divulgação

Competição
"La Tête Haute" (Standing Tall), de Emmanuelle Bercot (abertura; fora da competição) (França)
"Dheepan" (título temporário), de Jacques Audiard (França)
"La Loi du Marché" (A Simple Man), de Stéphane Brizé (França)
"Marguerite et Julien", de Valérie Donzelli (França)
"Il Racconto dei Racconti" (The Tale of Tales), de Matteo Garrone (Itália/França/Inglaterra)
"Carol", de Todd Haynes (EUA)
"Nie Yinniang" (The Assassin), de Hou Hsiao Hsien (Taiwan)
"Shan He Gu Ren" (Mountains May Depart), de Jia Zhang-Ke (China/Japão)
"Umimachi Diary" (Our Little Sister), de Hirokazu Kore-Eda (Japão)
"Macbeth", de Justin Kurzel (Inglaterra)
"The Lobster", de Yorgos Lanthimos (Grécia/França/Holanda/Inglaterra/Irlanda)
"Mon Roi", de Maïwenn (França)
"Mia Madre", de Nanni Moretti (Itália/França)
"Saul Fia" (Son of Saul), de László Nemes (Hungria) (primeiro filme)
"La Giovinezza" (Youth), de Paolo Sorrentino (Itália/França/Suíça/Inglaterra)
"Louder than Bombs", de Joachim Trier (Dinamarca/Noruega/França/EUA)
"The Sea of Trees", de Gus Van Sant (EUA)
"Sicario", de Denis Villeneuve (EUA)

Um Certo Olhar
"Masaan" (Fly Away Solo), de Neeraj Ghaywan (primeiro filme)
"Hrútar" (Rams), de Grímur Hákonarson
"Kishibe no Tabi" (Journey to the Shore), de Kiyoshi Kurosawa
"Je Suis un Soldat" (I Am a Soldier), de Laurent Larivière (primeiro filme)
"Zvizdan" (The High Sun), de Dalibor Matanic
"The Other Side", de Roberto Minervini
"Un Etaj Mai Jos" (One Floor Below), de Radu Muntean
"Mu-Roe-Han" (The Shameless), de Seung-Uk Oh
"Las Elegidas" (The Chosen Ones), de David Pablos
"Nahid", de Ida Panahandeh (primeiro filme)
"Comoara" (The Treasure), de Corneliu  Porumboiu
"Chauthi Koot" (The Fourth Direction), de Gurvinder Singh
"Madonna", de Suwon Shin
"Maryland", de Alice Winocour

Sessões da meia-noite
"O Piseu" (Office), de Won-Chan Hong (primeiro filme)
"Amy", Asif Kapadia

Sessões especiais
"Oka", de Souleymane Cisse
"Hayored Lema'Ala", Elad Keidan (primeiro filme)
"Sipur al Ahava ve Choshech" (A Tale of Love and Darkness), de Natalie Portman (primeiro filme)
"Amnesia", de Barbet Schroeder
"Panama", Pavle Vuckovic (primeiro filme)
"Asphalte", de Samuel Benchetrit

Fora de competição
"Mad Max: Estrada da Fúria", de George Miller
"O Homem Irracional", de Woody Allen
"Divertida Mente", de Pete Docter e Ronaldo Del Carmen
"O Pequeno Príncipe", de Mark Osborne