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Salma Hayek usa vestido de 30kg e come coração na fábula "Conto dos Contos"

Thiago Stivaletti

Do UOL, em Cannes (França)

14/05/2015 07h27

Matteo Garrone pode não ser o melhor cineasta da Itália, mas é com certeza o mais eclético. Depois de "Gomorra", filmado todo em estilo de documentário, e "Reality", sobre um homem humilde que sonha em entrar para o "BBB" italiano --os dois venceram o Grande Prêmio do Júri, o segundo lugar em Cannes--, ele tenta a Palma de Ouro pela terceira vez com uma fábula, "Il Racconto dei Racconti" (O Conto dos Contos).

São três histórias diferentes, passadas em três reinos e contadas em paralelo e, apesar das imagens aparentemente fortes, a fantasia está longe da violência louca de "Game of Thrones". Numa delas, um rei (Tony Jones, de "Jogos Vorazes") cria em segredo uma pulga gigante, e promete a mão de sua filha princesa a um gigante asqueroso. Em outra, um segundo rei (o francês Vincent Cassel, de "Cisne Negro") vê de longe uma mulher que acredita ser jovem e bela, mas é uma mulher velha e muito enrugada que fará de tudo pra ser jovem de novo e agradá-lo.

Na terceira, Salma Hayek é uma rainha obcecada por ter um filho, que obriga o marido (John C. Reilly, de "Chicago") a trazer para ela o coração de um dragão do mar.

Baseado na obra de Giambattista Basile, escritor do início do século 17 pouco conhecido mesmo na Itália, "O Conto dos Contos" consegue transportar o espectador para uma fantasia tradicional, com uma mistura sensacional de efeitos artesanais e digitais.

Salma, que segue linda aos 48, divertiu a entrevista coletiva com histórias da filmagem. "Comer um coração foi nojento. O Garrone queria que as tripas fossem iguais as do coração humano. Achei que eu ia vomitar. Até que a minha filha, que estava no set, me deu a dica que eu poderia cuspir as tripas num canto atrás sem aparecer na câmera", contou.

"O figurinista nunca me fazia vestir menos de 30 quilos. Imagina ter que andar 45 minutos pra passar de um lado a outro de um labirinto. O diretor me fez pular um muro com um vestido cheio de arames, fiquei presa e tive que ser resgatada por três homens da equipe, uma coisa um pouco humilhante", brincou.

"Sou um homem romântico, então gostaria de pensar que eu seria capaz de matar um dragão do mar pela minha mulher", brincou Reilly.

"Os temas são muito modernos: esse homem sempre atrás da juventude e da beleza nas mulheres, uma mulher que quer recuperar uma juventude que não existe mais, a solidão de um homem que se apega a seu animal de estimação", definiu Cassel.