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Produtores de suspense com Del Toro não queriam mulher como protagonista

Thiago Stivaletti

Do UOL, em Cannes (França)

19/05/2015 07h45

O canadense Denis Villeneuve continua em ascensão. Depois da indicação ao Oscar por "Incêndios" e do aclamado thriller "Os Suspeitos", com Hugh Jackman, ele entrou forte na competição pela Palma de Ouro do Festival de Cannes 2015 com outro grande suspense, "Sicario", situado no turbulento mundo do narcotráfico mexicano na fronteira com os EUA.

Kate (Emily Blunt, de "O Diabo Veste Prada") é uma agente do FBI no Arizona que arromba cativeiros de sequestros ligados ao tráfico. Até que um agente de elite do governo (Josh Brolin, de "Onde os Fracos Não Têm Vez") a convida para uma missão maior: em vez de apenas limpar a bagunça, ajudar a desmantelar um poderoso cartel na violenta cidade mexicana de Juárez. Na equipe, um ex-promotor muito violento (Benicio del Toro, de "Traffic"), que esconde um trauma do passado e parece o mais interessado em eliminar o chefão do tráfico.

Logo no início, numa cena de tirar o fôlego, eles estão presos no engarrafamento típico da fronteira de controle para voltar aos Estados Unidos quando suspeitam que os traficantes planejam matá-los. Um massacre pode explodir a qualquer momento, mas ninguém pode fugir, todos presos pelo congestionamento. Kate, uma policial entre a força e a fragilidade, lembra bastante a Clarice Starling de "O Silêncio dos Inocentes". É torcer para o filme fazer boa bilheteria nos EUA e chegar ao Oscar --além da atuação do trio principal e da direção, o filme tem a densa fotografia de Roger Deakins ("Onde os Fracos Não Têm Vez") e a perturbadora trilha sonora de Johann Johannsson (indicado ao Oscar por "A Teoria de Tudo").

"Como norte-americano, também me sinto responsável pelo que acontece lá. O filme pergunta se os fins justificam os meios. Não dá respostas. Os tempos estão mais loucos e borrados do que nunca. Por isso me interessei pelo projeto", diz Villeneuve. "Há muitos inocentes morrendo por conta dessa guerra. E é obvio que esse negócio existe por conta da demanda que existe nos EUA", comentou Brolin.

Com o debate sobre o "woman power" quente em Cannes, Villeneuve revelou que os produtores tinham receio de aceitar esse projeto porque a protagonista era mulher. "Mas, como protesto, Benicio e Josh vão subir o tapete vermelho de salto alto esta noite", brincou.

"É decepcionante. As pessoas têm que descobrir que as mulheres são fascinantes de se conhecer no cinema", criticou Blunt. "Eu vivo mulheres duronas como esta, mas não as vejo assim. Porque elas são duronas do mesmo jeito na vida. As mulheres com quem conversei no FBI são normais --vão para casa à noite ver 'Gosford Park' e 'Downton Abbey'", contou.

"Sicario" estreia no dia 24 de setembro no Brasil.

Marmelada

A seleção francesa está sendo bastante criticada em Cannes. O festival exagerou este ano na "prata da casa" --além do filme de abertura, "La Tête Haute", cinco filmes estão na competição.

Dos três exibidos até agora --"Mon Roi" (Meu rei), "La Loi du Marché" (A lei do mercado) e "L'Histoire de Marie et Julien" (A história de Marie e Julien)--, nenhum empolgou.