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Astro de "Intocáveis" e "Samba", Omar Sy é a cara do cinema do novo século

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Omar Sy, em cena de "Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros"
Imagem: Reprodução

Roberto Sadovski

Do UOL, em São Paulo

09/07/2015 07h00

Se existe um ator que representa a cara do cinema do novo século, seu nome é Omar Sy. É como se o melhor de um novo mundo, miscigenado, plural, colorido e cheio de personalidade, estivesse encapsulado neste francês de 37 anos, de talento inegável e personalidade magnética. E nem faz tanto tempo assim que o mundo o conheceu.

No finalzinho de 2011, o drama de leveza singular “Intocáveis” chegou aos cinemas franceses com um estrondo, fazendo com que o fenômeno se expandisse pelo ano seguinte. Com quase inacreditáveis US$ 430 milhões em caixa, o filme fez os olhares se voltarem para Omar. A comédia dramática “Samba”, que estreia por aqui nesta quinta (9), retoma a parceria do ator com os diretores Olivier Kanache e Éric Toledano (veja acima a cena do filme que tem trilha de Jorge Benjor). Um círculo se fecha –com um monte de coisas dentro dele.

Omar Sy é filho de imigrantes da costa da África. Sua mãe, da Mauritânia, trabalhava como faxineira; já seu pai, nascido no Senegal, dava expediente em uma fábrica. Criado entre o sem número de “novos franceses” em uma de muitas comunidades de baixa renda no subúrbio, ele é o quarto de oito filhos e, desde cedo, acostumou-se com o barulho de uma casa cheia.

O artista tinha 18 anos quando, ao terminar o ensino médio, começou uma carreira como comediante na Radio Nova de Paris, que priorizava uma programação eclética e independente. Foi onde conheceu seu parceiro no crime, Fred Testot, com quem criou a série de TV “Omar et Fred”, em 2001, que consistia em sketches de dois minutos. Na década seguinte, o ator trabalhou como coadjuvante em diversos filmes e séries de TV, também emprestando sua voz para animações e jogos de videogame.

Depois de "Intocáveis"

“Intocáveis” mudou tudo. Omar já havia trabalado com Kanache e Toledano na comédia “Tellement Proches”, de 2009, mas o drama em que ele divide a cena com o veterano François Cluzet foi o grande divisor de águas em sua carreira.

Baseado em fatos reais, o filme mostra a amizade improvável entre um milionário, paraplégico após um acidente (Cluzet), e seu “cuidador”, Driss (Sy), que só aparece na entrevista de emprego para comprovar que está em busca de um trabalho e continuar a receber benefícios do governo. Para sua surpresa, seu jeito despachado agrada seu futuro chefe, e a amizade entre o milionário branco e o imigrante negro é solidificada para além da relação patrão/empregado.

A verdade é que “Intocáveis” é um drama agradável mas absolutamente trivial, que não tem nenhuma amarra em ser piegas ou condescendente; uma fantasia de classe que não dá um passo além do que “Conduzindo Miss Daisy” (1989) já fizera há mais de duas décadas. Ainda assim, a química espetacular de seus protagonistas e a naturalidade com que sua história é contada encantou plateias do mundo todo. Embora François Cluzet, um veterano com uma carreira de mais de 30 anos, empreste credibilidade ao filme, não há dúvida de que a presença energética de Omar Sy foi o que fez o público lotar as salas. Hollywood, claro, estava de olho.

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Omar Sy, como o mutante Bishop, em "X-Men: Dias de um Futuro Esquecido"
Imagem: Reprodução
Omar já havia feito “A Espuma dos Dias”, de Michel Gondry, quando Bryan Singer escalou o megaelenco de seu “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido”. Para a superaventura mutante, que colocou na mesma narrativa duas linhas temporais de X-Men, o diretor escalou Sy como Bishop, integrante da equipe no futuro e capaz de absorver energia, convertida em poderosos disparos de plasma.

“Trabalhar em Hollywood hoje faz eu me sentir como se estivesse na França há 15 anos, é como começar de novo”, disse o ator à época. Como se um fenômeno no currículo fosse pouco, Omar pode ser visto em cartaz atualmente no rolo compressor “Jurassic Word”, no papel do colega do personagem de Chris Pratt, cuidando não de um milionário quadriplégico, mas de um grupo de velociraptors.

Depois do flerte com o cinemão hollywoodiano, “Samba” marca seu retorno à França em uma história mais próxima de suas raízes. Nas mãos de Nakache e Toledano, também é seu primeiro filme como protagonista desde o sucesso que o catapultou à fama. Lançado em 2014, “Samba” traz Omar Sy como um imigrante senegalês –como seu próprio pai– que há dez anos trabalha em uma série de empregos secundários. Quando um erro burocrático pode complicar sua vida na França e causar sua deportação de volta ao Senegal, ele termina se aliando a uma agente da imigração (Charlotte Gainsbourg), que também está lidando com um ponto de mudança em sua vida, para permanecer no país que aprendeu a chamar de lar. Embora a mistura de comédia, drama, choque racial e de classe tenha em “Intocáveis” um espelho, “Samba” não conseguiu repetir o fenômeno.

Não que isso faça diferença para Omar Sy.  Consolidado como astro internacional, ele agora transita entre o cinemão e a produção independente, Hollywood e o resto do mundo, com desenvoltura. Ele já concluiu sua participação na comédia dramática “Adam Jones”, com Bradley Cooper, Sienna Miller (repetindo a pareceria de “Sniper Americano”), Jamie Dornan e Uma Thurman, sobre um chef que, depois de cair em desgraça, junta a melhor equipe possível em Londres para criar o restaurante perfeito. De volta à França, o ator rodou “Chocolat”, no papel do primeiro artista de circo negro da França, que experimentou enorme sucesso no fim do século 19.

Atualmente, Omar está no set de “Inferno”, terceiro filme com Tom Hanks no papel do simbologista Robert Langdon (de “O Código Da Vinci” e “Anjos & Demônios”), que chega às salas ano que vem. É o cinema do novo século em um artista talentoso, carismático e, até que mostrem o contrário, intocável.