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Conheça Truffaut, cineasta "delinquente" e apaixonado que ganha exposição

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

14/07/2015 07h00

A vida foi breve para o cineasta francês François Truffaut, mas sua passagem pelo cinema teve o efeito de um verdadeiro terremoto. Ele pode não gozar da mesma popularidade que o diretor Stanley Kubrick (de "Laranja Mecânica" e "2001"), que foi tema de uma exposição disputada no Museu de Imagem e de Som, em São Paulo, em 2013. Truffaut, no entanto, foi um dos cineastas mais relevantes para a sétima arte, servindo de inspiração para Steven Spielberg e Martin Scorsese, entre outros.

Fundador do movimento Nouvelle Vague, Truffaut foi um diretor prolífico –em 25 anos de carreira, dirigiu 26 filmes. Morto aos 52 anos, em 1984, em decorrência de um câncer no cérebro, o diretor era movido por sua paixão pelo cinema e pelas mulheres. A merecida mostra “Truffaut: um Cineasta Apaixonado”, que começa nesta terça-feira (14), no MIS, revela mais de suas obsessões.

Ao cinema, ele dedicou “A Noite Americana” (1973), clássico metalinguístico sobre a produção de um filme que levou Oscar de melhor filme estrangeiro em 1974. Truffaut também atuou no longa no papel do próprio diretor. Gostava de atuar e, mais tarde, aceitaria o convite de Spielberg para viver um cientista em “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” (1977). Abraçou o cinema americano como ninguém e foi responsável por resgatar a importância da obra de seu diretor favorito, Alfred Hitchcock.

O cinema, porém, o havia conquistado muito antes do início de sua carreira. Sem conhecer o pai biológico, Truffaut foi uma criança problemática e costumava matar aula para assistir a filmes.  Aos 14, abandonou definitivamente a escola e viveu de furtos. Entre o cineclube e o reformatório, deu os primeiros passos como crítico de cinema.

Impulsivo, alistou-se nas Forças Armadas francesas, mas se arrependeu logo em seguida. Ao tentar fugir do serviço militar, foi preso por tentativa de deserção. Salvo pelo influente crítico de cinema André Bazin, Truffaut saiu da prisão para escrever na revista recém-lançada (e hoje considerada uma bíblia sobre o cinema) “Cahiers du Cinéma”. Em sua estreia, atacou sem piedade a produção francesa da época, chamada por ele de “cinema obsoleto”.

A infância dura, o abandono dos pais e a vida nos subúrbios eram questões muito familiares ao diretor, quando ele se sentou para fazer seu primeiro filme: “Os Incompreendidos” –ao lado de “Acossado”, de Jean-Luc Godard, a pedra filosofal da Nouvelle Vague, movimento que buscava mais espaço para cineastas jovens autorais, com argumentos intimistas e produções de baixo orçamento–, o que mudaria a cara dos anos 1960 na Europa e abriria os caminhos para o cinema independente. Em abril de 1959, o filme venceu o prêmio de melhor diretor do Festival de Cannes, além de ter sido indicado ao Oscar de melhor roteiro original.

A paixão pelo cinema se confundiu com a paixão pelas mulheres que atuavam em seus filmes. Essa devoção renderia, nos anos 1970, preciosidades como “Duas Inglesas e o Amor”, “A História de Adèle H.”, “Na Idade da Inocência” e “O Homem que Amava as Mulheres”. Mas foi com o personagem de Antoine Doine que Truffaut mais falou de si. Alterego do cineasta, Doine era o jovem delinquente em “Os Incompreendidos”, interpretado por Jean-Pierre Léaud. O ator –e o personagem– protagonizou mais cinco filmes do diretor. Da infância à fase adulta, Truffaut também retratou descoberta do amor pelo personagem no curta "Antoine et Colette" e nos longas “Beijos Proibidos” (1968), “Domicilio Conjugal” (1970) e “Amor em Fuga” (1979).

Assim como Antoine Doinel, o diretor se apaixonou pela atriz francesa Claude Jade durante a filmagem de “Beijos Proibidos”. Não era a primeira vez. Aconteceu também com “Jules e Jim - Uma Mulher para Dois” (1962), uma de suas obras-primas, quando não se contentou em apenas dirigir Jeanne Moreau. Mais tarde se casaria com outra atriz, Fanny Ardant, que protagonizara seu último filme, "De Repente, num Domingo" (1983).

No Brasil, “Truffaut: um Cineasta Apaixonado”, ganhará três alas a mais do que a mostra original. Nada mais justo para um homem que dizia não entender como um diretor de cinema podia ter hobbies como jogar tênis, por exemplo. Para ele, quando se ama uma coisa, não é possível amar outra.

SERVIÇO:
Truffaut: Um cineasta apaixonado 
Quando: de 14 de julho a 18 de outubro
Quando: de terça-feira a sábado, das 12 às 21h; domingos e feriados, das 11h às 20h
Onde: MIS, avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo
Ingressos: R$ 10 (com meia-entrada); na bilheteria do MIS a partir de 15 de julho; às terças-feiras, a entrada é gratuita
Ingressos antecipados: R$ 16 (com meia entrada); venda antecipada pelo site www.ingressorapido.com.br