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O bom é que o beijo não é técnico, diz Brichta sobre 1º filme com Esteves

Felipe Blumen

Do UOL, em São Paulo

04/08/2015 06h00

Contracenando pela primeira vez no cinema e voltando a se encontrar atrás das câmeras depois de 10 anos, o casal de atores Vladimir Brichta e Adriana Esteves levou a parceria da vida real para as telas no filme “Real Beleza”, que estreia nesta quinta (6).

“Além da intimidade, trabalhar com a Adriana ajuda porque conseguimos saber os nossos tempos de falar e de escutar, o que ajudou a contar essa história recheada de silêncios significativos”, explica Brichta. “E, claro, a melhor parte é poder dar um beijo que não é técnico”, brinca.

Na trama, Brichta faz um agenciador de modelos que vai a uma pequena cidade no interior do Rio Grande do Sul e se interessa pela jovem Maria (Vitoria Strada). Mas para tentar levá-la para São Paulo, ele precisa convencer seu pai (Francisco Cuoco), o que já seria difícil se ele ainda não estivesse apaixonado por Anita (Adriana Esteves), a mãe de Maria.

“O mais legal é que não somos exatamente um par romântico”, diz Adriana. “Meu par é o Cuoco e então não tem essa coisa de casalzinho, de uma dupla que se fecha. Isso mostrou que não é porque a gente é casado que somos uma coisa de um terminar a frase do outro. A equipe percebeu isso e por isso o filme ficou bacana”, acrescenta.

Vladimir explica que, apesar de não “se fecharem” em um casal, a vida que levam juntos fora das cenas ajudou a dar mais força ao roteiro. “Como nossos personagens não se conheciam, optamos por não contarmos quase nada sobre eles um para o outro”, diz. “Então as inseguranças da aproximação vistas no filme se tornam mais reais”.

Entre o velho e a “neochanchada”

A equipe sabe, contudo, que um drama ou romance desse tipo pode não ser a primeira opção de quem sai de casa para ir ao cinema. “O cinema hoje em dia sofre para cacete para não ser atropelado por filmes com apelo imenso, como os heróis da Marvel ou as comédias da Globo Filmes”, diz Brichta. “É um pouco frustrante saber que, se você não tem uma divulgação agressiva, daquelas que cria tipo um vírus ‘preciso ver esse filme’, você pode acabar sendo visto por menos pessoas do que imaginava”.

Ainda sobre a preferência do público, o ator acredita que o desempenho de filmes como “Real Beleza” não deve ser medido por seu gênero, mas sim pela capacidade de competir com a agressividade dos megassucessos. O diretor Jorge Furtado ("Ilha das Flores", "O Mercado de Notícias") concorda:

“Sempre houve espaço para diversos gêneros”, explica. “Sempre vai haver comédia, drama, tragédia, terror. E o cinema brasileiro cresceu quando ele assumiu seus gêneros. Porque antes existia o gênero ‘cinema brasileiro’, tinha até prateleira. E agora tem comédia, drama, filmes experimentais. Tem público para tudo e tem filmes bons de todos os gêneros”.

Para o diretor, o cenário é complicado, mas é possível encontrar um nicho, onde, segundo ele, “Real Beleza” se encaixaria. “Se você pegar dois extremos, existe um tipo de cinema voltado para festival, que não está preocupado em dialogar com o público, e tem outro extremo que é o filme para levar dois ou três milhões de pessoas para o cinema”, explica. “Entre esse cinema velho, essa ideia de filme para poucos, e essa, digamos, 'neochanchada', tem que ter espaço para um cinema humanista, um cinema que seja entretenimento, mas que seja um pouco mais durável”, conclui.