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Muylaert diz que "teve orgasmos" com atuação de Regina Casé em filme

Regina Casé em cena do filme "Que Horas Ela Volta?", exibido no Festival de Gramado - Divulgação
Regina Casé em cena do filme "Que Horas Ela Volta?", exibido no Festival de Gramado Imagem: Divulgação

Mariane Zendron

Do UOL, em Gramado

08/08/2015 16h47

A recepção brasileira do “Que Horas Ela Volta?”, novo filme de Anna Muylaert, foi parecida com a estrangeira, muitos elogios e uma constatação: Regina Casé é grande, mas o filme não é só dela. “Não sei se a imprensa fez essa associação, mas eu nunca disse que o filme era só dela”, disse a diretora, durante debate do longa no Festival de Gramado, neste sábado (8). O filme foi exibido pela primeira vez no Brasil nesta sexta, fora da competição na serra gaúcha.

Dos papéis pequenos, como o de Theo Werneck e Luis Miranda, passando por Lourenço Mutarelli, até os papéis maiores, como os de Camila Márdila e Karine Teles, todo o elenco colaborou ativamente da criação dos personagens e da história. “Eu não gosto de atores que repetem o que eu escrevi. Quero que todos me tragam coisas novas”, disse ela. “Eu não sou diretora que dá ordens, gosto que eles me alimentem, mas para isso, claro, eu preciso de bons profissionais”.

A qualidade de todo o time é inegável, mas Regina Casé tem ali um dos maiores momentos da carreira. Em um filme que discute opressão patrão-empregado, maternidade e racismo, Regina consegue fazer comédia durante duas horas, sem cansar o espectador. “Ela faz isso num tom muito delicado, que é o tom do ‘Eu, Tu, Eles’, mas acho que nesse ela desenvolveu de um jeito ainda melhor. Eu tinha orgasmos nas filmagens. E ela estava há 13 anos sem fazer cinema. Acho que ter ficado esse tempo todo sem atuar fez com que ela reservasse força”.

No filme, Casé vive Val, uma empregada doméstica que mora com seus patrões. Sua condição e seus direitos começam a ser questionados pela filha Jéssica (Mardila), que deixa o nordeste e vai morar com a mãe em São Paulo para poder prestar vestibular. Como não se acha inferior ou superior a ninguém da casa, a adolescente quer entender as regras impostas aos serviçais naquele ambiente quase escravocrata.

Relação com “Casa Grande” e “O Som ao Redor”

No Brasil e em outros países (longa foi premiado em Sundance (EUA) e no Festival de Berlim), o filme vem sendo associado a outros dois longas recentes, “O Som Ao Redor” (2012), de Kleber Mendonça Filho, e “Casa Grande” (2014), de Fellipe Barbosa. A diretora confirmou que o filme dialoga com esses dois projetos. “O filme tem uma influência direta de ‘O Som ao Redor’, onde o oprimido de repente tem a força. Eu estava há 20 anos tentando contar essa história e o filme do Kleber apareceu. Não me deu respostas, mas me abriu caminhos”.

Em relação a “Casa Grande”, ela acha que o seu filme e o de Barbosa começam de maneira semelhante, mas correm para caminhos muito diferentes depois. “Eu me concentro em quem está na cozinha e não no patrão adolescente da trama”.

O imbróglio que tirou o filme da competição do festival voltou a ser assunto no debate deste sábado. Uma pré-estreia marcada para o dia 11 de agosto em São Paulo violou o regulamento do evento e fez com que ele fosse exibido como hors concours. “A verdade cristalina é que não sabíamos dessa regra”, afirmou a diretora. “Achamos que Gramado seria bom para o filme pela proximidade com a estreia, mas tudo bem sair da competição porque senão estaríamos aqui bem mais nervosos”.