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Paulo Miklos vive taxista "reaça" em curta baseado em HQ de Caco Galhardo

taxista - Divulgação - Divulgação
Cartaz do curta "Quando Parei de Me Preocupar com Canalhas", de Tiago Vieira
Imagem: Divulgação

Mariane Zendron

Do UOL, em Gramado (RS)

14/08/2015 16h45

“No tempo da ditadura é que era bom”. A frase bastante ouvida em tempos de “Fora Dilma” também é repetida pelo taxista paulistano vivido por Paulo Miklos no curta “Quando Parei de Me Preocupar com Canalhas”, de Tiago Vieira, exibido nesta quinta (13) na competição do Festival de Gramado.

O personagem divertiu a plateia ao defender a ditadura e soltar pérolas, como: “Você pega um táxi até para abrir o olho do que acontece, porque a gente é o termômetro da sociedade”.

Ao UOL, o diretor do curta disse que não era a intenção que ficasse tão engraçado. “Era para ser uma cara mais reaça, mais incômodo mesmo, mas acho que pela proximidade com a realidade, as pessoas riram”, disse Vieira, que ainda contou que o cantor e ator, estrela do longa “O Invasor”, estudou os taxistas de São Paulo para criar o personagem.

Adaptação de uma história em quadrinhos de Caco Galhardo, publicada na revista “Piauí” em 2008, o curta é protagonizado por Matheus Nachtergaele, que vive um cara que se acha politizado, mas começa a se dar conta de que vem se tornando tão chato quanto os taxistas da cidade, só que um taxista de esquerda. A solução é tornar-se um alienado.

Cansado de reclamar

Vieira disse que se identificou com o personagem porque sempre gostou muito de debater política, mas percebeu que isso fazia mais mal do que bem. “Só reclamar é muito chato e não leva a lugar algum. Quando refleti sobre isso, consegui fazer outras coisas da vida, como esse filme, por exemplo”.

Mesmo já tendo sete anos de vida, o texto de Galhardo é mais atual do que nunca. Para Vieira, esses personagens –a esquerda no bar, o taxista reacionário, o motoboy– sempre estiveram por aí. A diferença é que esse tipo de discussão está mais aflorada. “Pelo menos em são Paulo, o taxista sempre foi essa figura. Talvez não falasse de ditadura com tanta segurança. Hoje ele já solta o verbo sem pudor”.

Crowdfunding

Por atirar para todos os lados da política, Galhardo disse a Vieira que não seria bom que o filme tivesse financiamento público, o que atrasou a produção em vários anos. “Caco já tinha autorizado a adaptação em 2008. Sem grana, engavetei o projeto e, em 2013, descobri o Catarse [plataforma de financiamento coletivo]”.

Para ajudar no orçamento, Vieira começou a convidar os interessados no projeto a assinar como produtores. “Numa dessas, mandei uma mensagem para o Matheus [Nachtergaele], que se interessou pelo projeto e pelo papel de protagonista. A chegada dele deu força para o projeto”. Depois vieram Miklos e o cantor Otto, que também vive um botequeiro apaixonado por discussões políticas no bar.

Exibido em uma mostra paralela do Festival de Cannes, o filme também estará no festival de curtas Kinoforum, em São Paulo, com exibições nos dias 20, 22 e 23 de agosto.