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Poliamor e homossexualidade viram verbete em "Pequeno Dicionário Amoroso 2"

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

09/09/2015 08h00

Sandra Werneck é uma diretora que gosta de variar. Esteve à frente de “Cazuza – O Tempo Não Para” (2004), “Meninas” (2006) e “Sonhos Roubados” (2009). No entanto, ao cruzar há alguns anos com Andréa Beltrão em uma festa, Werneck foi obrigada a lembrar de “Pequeno Dicionário Amoroso” (1997): “Fiquei me perguntando como estaria a Luiza nos dias de hoje e o que aconteceria se ela reencontrasse Gabriel (Daniel Dantas)”. Por isso, 18 anos depois, o casal Luiza e Gabriel têm uma chance para o amor a partir do dia 10 de setembro, nos cinemas.

No primeiro filme, os dois se conhecem por acaso em um cemitério e se apaixonam instantaneamente. O que se segue é a história de um homem e uma mulher passando por todas as etapas do amor, do encantamento à separação. Beltrão e Dantas não hesitaram em voltar para as peles de seus personagens, que são arrebatados novamente pela paixão. À trama foram adicionadas novas possibilidades para o amor.

Mauro Farias

  • Não vai haver relacionamento sem um tipo de pacto, mesmo que os indivíduos se vejam diante de outras possibilidades

    Mauro Farias, Diretor de "Pequeno Dicionário Amoroso 2"

“O Gabriel mudou pouco. Ele continua sendo um cara que reflete pouco sobre si”, afirmou Dantas, ao UOL [veja a entrevista em vídeo]. Enquanto seu personagem leva uma vida de “semisolteiro”, com uma namorada bem mais nova (Fernanda de Freitas) que ele tem dificuldade em assumir, Luiza aparece mais madura: casada, com filhos, mas ainda em busca de um par ideal.

Para Beltrão, Luiza teve certas mudanças na trajetória, mas também manteve parte da sua essência. “Ela teve filhos [seu grande sonho], mas se casou com um cara rico. Não sei se era muito o que ela planejava. Mesmo assim, ela ainda preserva um ideal do amor. Foi muito bom voltar a essa personagem e a trabalhar com o Dantas”.

Werneck conta que, quando fez o primeiro filme, estava se separando e foi acusada de privilegiar a personagem feminina, mas o que o espectador verá na tela será, mais uma vez, a força e a complexidade de Luiza. “Você sente que a Luiza tem mais espaço porque ela está mais mulher. Ela é mais madura e o Gabriel continua parecido, na busca de não se sabe muito bem o quê. Isso que faz com que a Luiza cresça no filme”.


Poliamor e outras possibilidades

Agora, os personagens são invadidos por questões que ainda pareciam distantes ou pouco trabalhadas no primeiro filme. A filha de Gabriel, por exemplo, Alice (Fernanda Vasconcelos) tenta ir pelo caminho do poliamor quando se vê apaixonada por um homem e uma mulher. "Nossos personagens lidam com isso como a maior parte dos pais lida, com muito pavor", disse Dantas

Mesmo com as novidades, a diretora ainda disse que o amor nunca envelhece, então poderia retomar o assunto com tranquilidade. "Mesmo com toda liberdade, aparece o ciúme. São questões que permanecem iguais", reforçou a diretora.

Mauro Farias, que agora assina a codireção do longa, concordou com que o amor é imperecível. "Não vai haver relacionamento sem um tipo de pacto, mesmo que os indivíduos se vejam diante de outras possibilidades".

Amores líquidos

Mesmo com um mundo de possibilidades, Daniel e Andréa acreditam que na vida real muitas pessoas têm se comportado de forma careta quando evitam compromisso. "Existe uma dificuldade do laço, um individualismo. Isso é muito careta. As pessoas não querem mais invadir e não querem ser invadidas pelo outro. É bom tentar. Se não der certo, você chora e parte para outra", disse Andréa.

"É uma geração que não quer lidar com o fracasso, com a frustração", completou Daniel. "Brasil como um todo é mais careta hoje. Essa coisa de não querer assumir nenhum compromisso". Dessa maneira, seus personagens aparecem como bastiões da resistência nos dias de hoje, que, mesmo com todas as falhas, querem amar e ser amados mesmo que isso dê muito errado.